José Osmando

Coluna do jornalista José Osmando - Brasil em Pauta

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Só o Brics poderá salvar o Brasil se Trump impuser seu proclamado protecionismo

O presidente eleito tem reiterado a disposição de proteger a indústria e a agricultura norte-americanas de maneira incisiva

O Brasil poderá se ver diante de enorme encruzilhada no terreno econômico, caso o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, cumpra os seus impulsos protecionistas, impondo barreiras aos produtos de países que não estejam 100% do lado do dólar, a moeda americana que há muitas décadas controla as relações comerciais entre países. 

Trump tem reiterado a disposição de proteger a indústria e a agricultura norte-americanas de maneira canina, e também de aplicar sanções pesadas a produtos gerados por países que não sejam totalmente aliados aos interesses de seu país. E não se pode imaginar que isso seja apenas uma falácia de alguém acostumado a falar mais alto para ser ouvido. Na prática, Trump já demonstrou que tem de fato disposição para impor um protecionismo capaz de desagradar e prejudicar grande parte do mundo.

No primeiro mandato do republicano, a guerra comercial travada contra a China favoreceu de maneira expressiva o Brasil, com as exportações de seus produtos, notadamente agropecuários, avançando muito em direção ao país líder da Ásia. Graças a esse impulso a que foi obrigado adotar em razão das retaliações norte-americanas, o Brasil já exporta 37% de sua produção para a China.

No primeiro governo Trump, de 2017 a 2021, as exportações brasileiras do agronegócio passaram a crescer 20% ao ano, cobrindo um vácuo deixado pela redução das exportações americanas, bloqueadas pela resposta que Pequim deu às tarifas impostas aos produtos chineses. Hoje, por isso, o agro brasileiro exporta mais à China do que aos EUA. 

Se esse volume de exportações do Brasil para os chineses é expressivo e dá uma certa tranquilidade de saldo para nosso país, por outro lado carrega uma real preocupação. Os espaços para que a China acolha mais produtos brasileiros são agora muito limitados. Não há folga para se elevar muito esse patamar que já chegou a 37%, até mesmo porque a China se abriu ao mercado de outras partes do mundo, especialmente ao latino-americano. Com isso, se sofrer alguma taxação que agrave a entrada de seus produtos nos Estados Unidos, o Brasil terá que fazer uma ginástica para abrir portas em outros territórios.

Vem daí, com muita certeza, a necessidade de que o Brasil precisa apostar com firmeza nos seus laços para o que Lula chama de Sul Global, numa luta incessante para fazer crescer o BRICs, que me parece a esperança de se estabelecer um ambiente alternativo forte à substituição dos EUA e do seu pesado dólar. Só esse esforço me parece adequado para para fugir das armadilhas norte-americanas e ampliar as negociações.

Neste caso, aumentar relações não apenas comerciais, mas também priorizar relações bilaterais baseadas em compartilhamento de valores e visões de mundo, além de proteger um amplo expectro de riquezas naturais, com biomas significativos para o equilíbrio ecológico mundial, e a exploração empresarial organizada de uma extensa região de minérios, alguns de espetacular valor comercial e utilização estratégia, como é o caso do lítio, hoje essencial na fabricação de baterias de automóveis, em componentes de celulares e equipamentos eletrônicos, e um mineral cobiçado por grandes potências, sobretudo pelos próprios norte-americanos.

Não será tarefa fácil, nem papel de amador, abrir novos campos de exportação de seus produtos, mas é muito provável que o Brasil veja abertos novos caminhos no sentido de colocação de seus produtos na América Latina, na Ásia, em países árabes e africanos, fugindo de imposições feitas pelos Estados Unidos. 

Mas isso parece muito claro, só será admissível com a ampliação e consolidação do BRICs. O G20, embora tenha importância por reunir as maiores economias mundiais, não tem as características de favorecer uma governança mundial mais favorável aos países em desenvolvimento, como os da América do Sul e Ásia, notadamente, pois é um grupo impregnado por uma Europa que se tornou vassala dos Estados Unidos, adepta dos norte-americanas nas práticas comerciais e até mesmo na alimentação dos diversos conflitos armados espalhados pelo mundo.

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