A crise climática que se abate sobre o Brasil, com fogo e queimadas causando estragos inimagináveis em todos os biomas e afetando diretamente as reservas de água e o fornecimento de energia elétrica, trouxe de volta um assunto já conhecido dos brasileiros, com notável grau de aprovação. Falo do horário de verão, um mecanismo que pode ajudar bastante a reduzir a demanda de energia nos finais de tarde, período que constitue o momento mais crítico.
É exatamente nesse horário do dia que ocorre relevante redução das fontes intermitentes, como a eólica e solar, em todo o território nacional. É aqui que ganha força a ideia do retorno do horário de verão, como estratégia a ser usada para economizar energia. Isso teria influência não apenas na capacidade de oferta, quanto na possibilidade real de travar possíveis aumentos de preço da energia ofertada aos consumidores. É nessa fase crítica que o sistema é impelido a gerar mais energia com termelétricas ou acionar mais hidrelétricas.
É interessante observar que essa crise aguda que se instalou, com a seca e as queimadas afetando os mananciais, é acrescida da elevação do consumo, pelo uso de aparelhos, como ar-condicionado, utilizados para atenuar os efeitos do calor, o que faz subir as contas, afetando diretamente a vida de todas as famílias. Isso também afeta os setores de produção, como a indústria e os prestadores de serviços, como hotéis, hospitais. Enfim, atingido a todos.
O Governo Federal, em meio às diversas propostas colocadas à mesa no trato do problema climático, aguarda a conclusão dos estudos técnicos que foram solicitados ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para tomar uma decisão, o que deve ocorrer até início da próxima semana. A ideia é defendida pelo próprio ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, que vê nessa adoção uma ajuda significativa nesse momento crítico.
O horário de verão, em que os relógios são adiantados em uma hora, agrada a vários segmentos econômicos, como o setor de bares e restaurantes, conforme manifestação da Associação Brasileira (Abrasel), que acaba de afirmar em nota que o faturamento dos negócios desse segmento cresce em média de 10% a 15%, entre 18 e 21 horas, durante o período em que os relógios são adiantados.
O horário de verão foi extinto no início do governo Jair Bolsonaro, em 2019. Naquele momento, houve uma avaliação técnica de que o horário não fazia mais sentido do ponto de vista do setor elétrico. O governo alegou que a alteração gera desgaste na saúde. Foram apresentados estudos direcionados a mostrar que parte das pessoas tinham dificuldade para se adaptar à mudança, o que afetaria o padrão de sono e podia trazer complicações cardíacas. Foi, na prática, uma decisão política, capaz de gerar impacto, o que correu de fato.
Agora, além de política, a decisão será técnica, em face do maior problema climático que atinge o Brasil em todos os tempos. É por ele que se busca um rosário de soluções que atenuem a gravidade das consequências e faça com que as contas pagas pela sociedade sejam menos amargas.