Por Sávia Barreto
Se alguns partidos ficaram insatisfeitos com o secretariado anunciado nesta quinta-feira, 02, pelo governador Wellington Dias (PT) no Palácio de Karnak, pode-se conjecturar um motivo: Dias está no quarto mandato, e não vai, portanto, buscar a reeleição. Assim ele percebeu-se mais livre para fazer mais o que almeja - e menos o que as siglas desejam.
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Os partidos indicaram nomes, é verdade, mas como se viu especificamente no caso do Progressistas, o governador sentiu-se à vontade da mesma forma para barrar o que julgou necessário segundo critérios próprios. Em outros momentos, Wellington deixava as legendas mais livres, o que terminava tornando também o Governo como uma espécie de ilha em que as partes não tinham conexão. Agora, no último mandato, resolveu agir diferente e, mesmo com todas as dificuldades financeiras, desenha um governo mais técnico e com a meta de aumentar o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Piauí até 2022.
Nomes técnicos ou políticos
Aos que desejavam um governo eminentemente técnico, informo que não é recomendável politicamente. A burocracia - ou seja, a atuação dos sevidores públicos - não pode ser absoluta. Cabe à burocracia – mesmo a mais competente tecnicamente - agir e não decidir.
Vou dar um exemplo: um burocrata pode olhar para as planilhas e decidir dar um aumento no preço do diesel pelos motivos mais lógicos. Ele não vai calcular - e nem é sua função - o impacto disso na eclosão de uma greve de caminhoneiros. Mas o político, vai. Esse é seu papel. Receber as orientações frias dos cálculos e das leis e pondera-las na tomada de decisões que beneficiem o bem comum. Por isso, um secretariado só de técnicos não é viável, assim como não se espera um secretariado só de políticos. Aliar as duas coisas é a receita do sucesso (ou o melhor caminho para ele).
Ou seja, ainda que o cotidiano seja dominado pelos burocratas, quando a burocracia decide, resultam em problemas - e trago aqui a visão do pai da Sociologia, Max Weber. A burocracia, na visão dele, não possui sensibilidade política – e nem é seu papel tê-la. Os políticos, por outro lado, são eleitos única e exclusivamente para ouvir o povo e ponderar essa vontade - a chamada opinião pública - em suas proposições.
Espera
A imprensa esperou, esperou e esperou. Mas isso os jornalistas já são acostumados e é dever do ofício. O anúncio oficial do secretariado do quarto mandato do governador Wellington Dias marcado para meio-dia, atrasou mais de uma hora e meia. Quem também esperou foram os deputados e demais políticos que passaram toda a manhão no Palácio de Karnak em busca, quem sabe, de convencer o governador Wellington Dias a ceder um pouco mais dos espaços no Governo. Alguns conseguiram, outros não.
Insatisfeitos
O lado dos insatisfeitos publicamente soma o Progressistas e o PR, sem contar o quase sempre relutante MDB. A lista divulgada pelo Governo aos jornalistas através do Whatsapp e aquela lida pelo governador no Karnak tinha divergências, ou melhor, ausências. Faltaram os nomes de Vicente Gomes (Coordenadoria de Juventude), Zenaide Lustosa (Coordenadoria de Políticas para Mulheres) e Merlong Solano (Administração). Apesar disso, todos estão confirmados nos cargos.
Só depois
No caso de Merlong, entende-se que ele não contou porque está na Câmara Federal assumindo o mandato de deputado na ausência de Fábio Abreu licenciado como secretário de Segurança Pública. Mas, dessa forma, o nome de Alisson Bacelar na Coordenadoria de Comunicação também poderia não ter constado na lista oficial, já que o jornalista só assume em junho com a ida do atual gestor João Rodrigues para uma superintendência na secretaria de Administração.
Surpresas
As surpresas ficaram com Bid Lima na Cultura (era esperado que Fábio Novo assumisse a pasta novamente) e Sádia Castro no Meio Ambiente (fato que criou cisão no Progressistas). O PSD perdeu a Adapi para o progressista Firmino Paulo e a derrota não foi bem digerida. Os deputados da sigla, Georgiano Neto e Júlio César, souberam pela imprensa.
Legislativo e Executivo
Fazer a convocação de membros do Legislativo para a composição do Governo é normal nas democracias, vista como uma maneira de contemplar os interesses partidários das legendas que ajudaram um governante a chegar ao poder e, assim, atender indiretamente e de modo proporcional ao que o povo decidiu nas urnas através do voto. Dias convocou menos do que o previsto. Nas listas que circulavam especulando a composição do secretariado, pelo menos de sete a oito suplentes poderiam ser convocados. No final, foram quatro.
Daqui para frente
A costura que o governador Wellington Dias teve que fazer foi grande e num cobertor tão longo, é normal que um ou outro rasgo aconteça. Nenhum partido deixou a base governista e isso é saldo positivo para o governador. Por outro lado, as siglas insatisfeitas podem guardar o melhor momento para seguir rumos diferentes do Governo - vai depender das conversas com Dias daqui para a frente. O secretariado é apenas uma primeira etapa de muitas da relação entre os partidos e o governo. Um governador que está em seu quarto mandato é alguém que reconhecidamente tem habilidade política. Agora é hora de testa-la para estancar as irritações dos partidos.