Depois de passar por um certo desprestígio profissional, o serviço público atualmente tem despontado como um emprego bastante almejado por uma grande parte de pessoas e não há mais como negar que os concursos públicos no Brasil mudaram a forma como muitos profissionais pensam o seu futuro. Em parte, essa nova ótica é consequência da maior oferta de vagas, estabilidade e salários atrativos, em especial para os cargos de nível superior.
Por conta disso, é também cada vez mais difícil para os candidatos a tão sonhada vaga, já que os certames são cada vez mais concorridos e exigem dos candidatos muita dedicação e grandes investimentos na hora de se preparar para as provas. Além do tempo que se dedica ao estudo, outra realidade dos concurseiros é o fato de cada vez mais ser necessário investir financeiramente de forma significativa com o pagamento de cursinhos, compra de materiais de estudo e taxas de inscrição. Para suprir essa demanda crescente, é também cada vez maior o mercado em torno dos serviços oferecidos dentro deste setor.
Para a engenheira agrônoma Ramayanne Soares, 25 anos, a rotina de estudos começa bem cedo. Ela está há um ano se dedicando exclusivamente aos estudos e a intenção é ser aprovada em um emprego público. ?Desde que me formei, minha rotina e foco são dedicados aos estudos visando passar em um concurso público e para isso já investi em vários cursinhos, compro material a cada novo concurso e meu foco está sendo os certames para as polícias civil e federal?, explica a concurseira que nesta semana soube da sua aprovação no último concurso que prestou.
De acordo com um levantamento feito por alto, ela declara que nesse período em que tem se dedicado exclusivamente aos concursos já gastou (apenas considerando cursinhos e inscrições) algo em torno de R$ 7.000 a R$ 8.000. ?Mas eu não avalio isso como um gasto, mas sim como investimento no meu futuro. É difícil controlar a ansiedade, mas também é preciso ter muita paciência, esforço e dedicação. Com a persistência, logo eu pretendo colher os frutos com a aprovação que almejo?, argumenta.
Número de vagas estimula estudantes
De acordo com dados da Pesquisa Nacional de Amostragem de Domicílios, o PNAD, realizada pelo IBGE, em 2009, estima-se que todos os anos, cerca de dez milhões de brasileiros estejam estudando para prestar algum concurso público. A pesquisa levou em conta tanto aqueles que estão matriculados nos cursinhos preparatórios espalhados pelo país, como aqueles que se dedicam a estudar em casa. Isso significa que, na prática, 5% da população brasileira se prepara para conquistar uma vaga no serviço público.
Esse número crescente é estimulado pela maior oferta de vagas da atualidade, se comparado a três décadas atrás.
Segundo o Ministério do Planejamento, só em 2012 devem ter sido preenchidas cerca de 20 mil vagas, apenas no âmbito do Poder Executivo Federal. Junto com os concursos municipais e estaduais, cerca de 80 mil postos foram programados para serem abertos em 2012.
A concurseira Kelly dos Santos, 28 anos, se formou em Relações Públicas e desde então resolveu estudar exclusivamente para concursos. Há dois anos, ela luta por uma vaga e já passou por vários cursinhos. ?O preço varia muito, depende do curso e qual concurso é voltado. Como eu busco colocações na minha área, a oferta de vagas é mais reduzida e o conteúdo é mais específico e por isso também fiz outros concursos este ano que eram de nível superior. Na minha área, já me classifiquei nos últimos certames que fiz?, afirma a estudante que declara estar mais dedicada ainda com as recentes classificações.
?Compro alguns livros, mas estudar para um concurso público é muito mais do que ir para cursinho ou comprar material. É uma tarefa que pede tempo e paciência. Só no ano passado gastei cerca de R$ 9.000 em inscrições?, afirma Kelly Santos. As mensalidades dos cursos podem variar de R$ 200 a R$ 1000, com duração de três a seis meses.
O potencial do mercado voltado para os serviços oferecidos em torno dos concursos é bastante grande e, de acordo com dados da Associação Nacional de Apoio e Proteção aos Concursos (Anpac), só as principais organizadoras de concursos movimentam, sozinhas, cerca de 120 milhões de reais por ano.