Para formar futuros gestores e líderes que serão responsáveis pelo crescimento do negócio, as empresas estão apostando nos programas de trainees para atrair jovens, ainda sem experiência, com potencial para se desenvolver dentro da companhia. Bons salários, crescimento profissional rápido e a possibilidade de construir uma carreira em uma grande empresa estão entre os principais atrativos dos programas de trainee.
De olho no desenvolvimento rápido e nos cargos de chefia a procura dos candidatos é grande. A concorrência nos programas pode chegar a 4.300 candidatos por vaga, caso da Ambev em 2012. A empresa teve 77.403 inscritos e apenas 18 aprovados. Outros exemplos da grande disputa são os programas da Heineken e Mars, Andrade e Gutierrez, Unilever e Souza Cruz que tiveram quase 2 mil candidatos por vaga.
Na Souza Cruz, o salário do trainee aumenta no decorrer do processo. No primeiro ano, o aprovado recebe R$ 5.399. No segundo ano, o salário aumenta para R$ 6.390. No 18º mês, o trainee se torna gerente, e passa a receber R$ 8.044. Já na Ambev, a remuneração é de R$ 4.900. A Unilever só revela os salários durante as etapas presenciais.
A jovem Sofia Gomes César, de 21 anos, está na sua primeira tentativa e seu objetivo é uma vaga na Unilever. ?Vou me formar no fim do ano e participar dos programas de trainee tornou-se minha prioridade número 1?, afirma.
No final deste ano, ela se forma em administração de empresas e quer iniciair sua carreira em uma grande empresa. Ela organizou um ranking com as companhias em que sonha trabalhar e também se inscreveu nos processos de trainee da Natura, GE, Volkswagen, Andrade Gutierrez e Abril.
"Me inscrevi somente em empresas que me identifico com os valores e objetivos. É um caminho de duas mãos: as empresas escolhem os jovens, mas os jovens também escolhem as empresas", ressalta.
Terceira tentativa
Pela terceira vez, Erika Imada Barcelos, de 28 anos, está tentando uma vaga em um programa de trainee. O plano de carreira acelerado é o que mais atrai a jovem. ?Sempre quis trabalhar em uma empresa privada e gostava do meio de bens de consumo?, ressalta Erika, que tenta uma vaga na Unilever.
Formada em engenharia química, em sua primeira tentativa, ela participou de cerca de 20 programas. Durante as etapas presenciais, ela percebeu que muitas empresas não tinham a ver com seu perfil. "Fiz um coach para ter foco e resolvi procurar companhias que realmente tivessem a ver comigo".
Em 2012, ela tentou seis empresas e neste ano, além da Unilever, ela vai tentar os programas da L"Oreal e Natura.
Por dentro de um programa
Para conhecer o processo seletivo dos programas de trainee, o G1 participou de um encontro sobre o programa da Unilever, um dos mais antigos do país e que desde 1964 seleciona jovens para se tornarem líderes dentro da companhia.
No ano passado foram mais de 46 mil inscritos para 27 vagas, uma concorrência de 1.703 candidatos por vaga. A disputa é justificada pelas oportunidades que os ex-trainees têm dentro da empresa; atualmente 50% dos cargos de alta diretoria são ocupados por eles - veja abaixo a concorrência em 10 programas de trainee.
Na Unilever, são três anos de treinamento, em que os jovens atuam como vendedores, conhecem todas as áreas da companhia e ainda são responsáveis pela gestão de um projeto real na área de sustentabilidade. "Poucos sabem claramente o que vão ser, então eles podem conhecer toda a empresa e com essa experiência terão oportunidades variadas", ressalta Eduardo Reis, vice-presidente de recursos humanos da Unilever.
Ao contrário da tendência das empresas em exigir nível avançado em inglês e até experiência internacional, a companhia não cobra conhecimento em língua estrangeira e também não faz distinção por cursos ou universidades. ?Nosso objetivo é continuar fomentando a diversidade dentro da companhia e por isso não podemos ter filtros que excluam candidatos?, afirma Reis. Um exemplo de que a empresa busca profissionais com formações variadas é a presença de uma veterinária no setor de recursos humanos.
Joana Rudiger, gerente de talentos da empresa, ressalta que se o jovem tiver potencial para passar nas etapas, terá condições de aprender a língua. "Preferimos correr o risco de ter alguém que não tenha essa habilidade do que ter uma pessoa que saiba inglês, mas que não tenha paixão pelo que faz."
Etapas
O programa é composto pelas fases de cyber interview, business night e assessment center. A fase de testes online é o primeiro grande filtro feito pela empresa, sendo a fase que mais reprova. Nessa etapa, são aplicados testes de inteligência cognitiva.
Em seguida acontece o business night, um encontro entre os candidatos e executivos da companhia para que os jovens interajam e conheçam ainda mais o negócio. A última gase é o assessment center, uma avaliação presencial composta de trabalhos em grupo (dinâmica), trabalhos individuais, apresentação em grupo e individuais e entrevistas.
Levamos algumas dúvidas das candidatas para os executivos da Unilever. Os questionamentos principais são sobre competências mais valorizadas, limite de idade, desempenho nos testes online e qual etapa de avaliação é a mais importante.
Segundo Reis, não existe limite de idade ou perfil com competências definidas. "Não existe uma receita de bolo. Os candidatos precisam mostrar o que têm de melhor."
No site do programa, a empresa descreve o perfil procurado: "A Unilever procura por pessoas que tenham vocação para gerar novas idéias, comprometidas em conseguir o que propõem fazer, capazes de adaptar às mudanças e com desejo de trabalhar em equipe. Os êxitos acadêmicos são importantes, mas o candidato também precisará demonstrar outros aspectos como pensamento criativo e analítico, liderança, capacidade de trabalho em equipe e, acima de tudo, paixão por desafios."
Sobre as etapas de avaliação, Reis explica que o resultado dos testes são uma combinação do que foi respondido. "Não levamos em conta apenas a pontuação, investimos no que achamos que é melhor", afirma.
Segundo ele, a fase presencial ainda é a que mais conta pontos. "Aí conseguimos ver se o filtro que fizemos no início funcionou bem ou não. Se pudesse conhecer todos, conheceria."
De Fortaleza para São Paulo
Em 2009, Themisa se inscreveu em 10 programas de trainee diferentes, mas não passou em nenhum. "Foi aquele desgaste emocional, me desloquei para São Paulo, Salvador, Recife, cheguei a fase final de dois, mas não consegui nenhuma vaga", conta. Ela deixou o projeto de lado em 2010, mas quando o período de inscrições dos programas se aproximou, ela selecionou cinco empresasque tinham projetos sustentáveis e se inscreveu.
O resultado final foram três aprovações e ela se mudou de Fortaleza para São Paulo em 2011 para ser trainee de marketing na Unilever. "Precisa ser um casamento de dois lados, nós também temos que querer estar na empresa", afirma.
Mudança de área
Luiza resolveu apostar suas fichas nos programas de trainee para ter mais autonomia sobre a sua carreira. "Questionava o quanto meu sucesso profissional dependia de mim mesma e vi que não conseguiria crescer na empresa em que trabalhava", diz.
Ela também foi uma das aprovadas no programa da Unilever, em 2011. Formada em engenharia de produção mecânica, ela optou pela área de marketing, mas descobriu o ramo de vendas após a etapa em que todos os trainees passam três meses atuando como vendedores em alguma região do país.
"Sabia que corria um grande risco de ser demitida, mas resolvi falar sobre minha preferência por vendas". Após uma temporada de 10 meses de trabalho no Nordeste, ela voltou e foi promovida para o cargo de gerente de vendas.