Um aniversário em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, pode ter sido o responsável por ter espalhado o coronavírus. Após o evento que aconteceu no último 13 de março, pelo menos 14 presentes na festa apresentaram sintomas da Covid-19 e, depois de duas semanas, três pessoas morreram com complicações graves, conforme apuração da BBC News Brasil. As informações são da Isto É.
Vera Lúcia Pereira completava 59 anos e até pensou em não fazer a festa por conta do coronavírus. No entanto, o evento foi mantido e, segundo ela, apenas os mais próximos foram chamados.
Nos dias seguidos ao encontro, alguns familiares sentiram tosse, febre, dificuldades para respirar e diarreia, sintomas do novo coronavírus. Uma hipótese da família é de que aproximadamente metade dos convidados tenha tido algum problema de saúde após a festa.
Entre os familiares que sentiram complicações estão o marido, cunhado e a irmã de Vera, os quais morreram com complicações semelhantes às apresentadas em vítimas da Covid-19. Entretanto, os exames para confirmação da doença ainda não ficaram prontos.
“Os médicos que os acompanharam disseram ter 99% de certeza de que era covid-19, pelo quadro clínico deles e pela forma como se deu toda a situação”, pontua Vera.
Os demais parentes também apresentaram sintomas, mas nenhum deles evolui para um quadro mais grave.
Irmãos mortos
O aniversário reuniu pela última vez os sete irmãos Vieira. Maria Salete, de 60 anos, Clóvis, 62, e Paulo Vieira, 61, inclusive não teriam a possibilidade de confraternizar com os familiares novamente.
Maria do Carmo Vieira, de 58 anos, explicou que a irmã Maria Salete relatou que estava com diarreia. “Depois, ela começou a ter febre, como se estivesse com alguma infecção. Eu e meu marido a levamos ao hospital, ela recebeu medicamentos e voltou para casa”, explica Maria.
“Alguns ficaram debilitados, principalmente os mais velhos”, revela Vera, que teve febre, tosse e dores pelo corpo. Ela fez exames para a Covid-19 há quase duas semanas, mas não ficaram prontos até o momento.
Depois foi Clóvis, que apesar da idade não tinha comorbidades. “Três dias depois da festa, o meu pai começou a tossir muito, teve dor de cabeça, febre e perdeu o olfato e o paladar”, explica o gerente de relacionamento Arthur Ribeiro, de 30 anos, filho caçula do idoso.
Paulo, marido de Vera também foi levado ao hospital, mas diferente dos irmãos foi hospitalizado e teve uma avaliação considerada boa. “O meu marido chegou muito bem, foi apenas para a internação, para que pudesse ficar em observação. Mas dois dias depois o quadro dele piorou muito e ele foi para a UTI”, relata Vera.
Após a internação, o quadro de saúde de Salte só foi piorando e na última quarta-feira (1) ela morreu. No dia seguinte, o irmão Clóvis também faleceu. Por último, Paulo, que praticava exercícios, morreu na última sexta-feira (3).
“Foi tudo muito horrível. Nós éramos sete irmãos muito unidos. Nos amávamos muito. A vida da família virou um pesadelo. Tenho vivido à base de calmantes. Ainda me pergunto se tudo isso foi real. Acompanhei de perto o sofrimento dos meus irmãos, principalmente o da minha irmã, e não desejo isso para ninguém”, desabafa Maria do Carmo.
“Isso não é uma gripezinha. É uma catástrofe. É um vírus horroroso e muito cruel. Ele pode levar as pessoas muito rapidamente. As pessoas precisam entender a importância de se cuidar, de se isolar e de cuidar dos seus. É fundamental ter mais empatia e respeito com os outros neste momento”, afirma a zootecnista Rafaela Hanae, de 33 anos, única filha de Salete.