Coronavírus: OMS diz que ainda há um longo caminho até fim da pandemia

“É muito difícil prever quando vamos prevalecer sobre o vírus”, disse o diretor de emergências da OMS, Michael Ryan

| Alexander Nemenov/AFP
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A Organização Mundial de Saúde (OMS) reforçou, nesta quarta-feira (13), que ainda há um "longo caminho" até o fim da pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. A entidade foi questionada sobre o protocolo para "desfazer" o alarme de pandemia ao redor do mundo, declarado no dia 11 de março.

"É muito difícil prever quando vamos prevalecer sobre o vírus", disse o diretor de emergências da OMS, Michael Ryan. "E pode ser que nunca aconteça. Pode ser que nunca desapareça, que se torne endêmico, como outros vírus. O HIV não desapareceu", lembrou.

"Nós passamos a lidar com o vírus, e achamos os tratamentos, achamos os métodos de prevenção, e as pessoas não sentem tanto medo como sentiam antes. Oferecemos vidas longas e saudáveis a pessoas com HIV", disse. "Não estou comparando as duas doenças, mas é importante sermos realistas".

"Não acho que ninguém pode prever quando ou se essa doença vai desaparecer. Nós temos uma grande esperança: se acharmos uma vacina altamente eficaz, que possamos distribuir para todos os que precisam no mundo, podemos ter uma chance de eliminar o vírus", declarou Ryan.

Mas a implementação da vacina terá que passar por algumas etapas, explicou. Além de eficaz e disponível a todos, as pessoas terão que usá-la.

"Antes de começarmos a responder a essa pandemia no dia 31 de dezembro, tínhamos equipes no Pacífico Ocidental trabalhando com sarampo. Eu acho que havia 14 ventiladores [mecânicos] na Samoa Ocidental naquela época. E todos os 14 estavam ocupados por crianças pequenas. E estavam ocupados por crianças pequenas que tinham uma doença devastadora: se chamava sarampo. E elas não eram vacinadas contra essa doença." – Michael Ryan, diretor de emergências da OMS

(Em fevereiro deste ano, um bebê morreu de sarampo no Rio de Janeiro, depois de 20 anos sem uma morte pela doença no estado. No mesmo mês, o Brasil perdeu o certificado de erradicação da doença).

"Desculpem-me se sou cínico", continuou Ryan. "Mas temos vacinas perfeitamente eficazes neste planeta que não usamos de forma eficiente. Para doenças que poderíamos eliminar e erradicar – e nós não fizemos isso. Nós não tivemos vontade, a determinação para investir em sistemas de saúde para fornecer isso. Nós não tivemos a capacidade de sustentar cuidados de saúde na linha de frente", disse.

"Dessa forma", afirmou, "a ciência pode achar uma vacina. Mas alguém tem que fabricá-la em quantidade suficiente para todos receberem uma dose, temos que ser capazes de entregá-la e as pessoas têm que querer tomar essa vacina", lembrou.

"Todos esses passos são cheios de desafios. É uma oportunidade imensa para o mundo. A ideia de que uma nova doença pode surgir, causar uma pandemia e nós podemos, com uma ambição enorme, achar uma vacina e dá-la a todos que precisam e parar a doença pode tornar, talvez, o que tem sido uma pandemia trágica em uma luz de esperança para o futuro do nosso planeta na forma com que cuidamos de nossos cidadãos e trabalhamos juntos para resolver nossos problemas, por meio de solidariedade, confiança, trabalho conjunto e um sistema multilateral que possa beneficiar a humanidade", declarou.

"Não há promessas nisso, e não há datas", disse Ryan. "Essa doença pode se tornar um problema de longo prazo, e pode não ser. De algumas formas, nós temos controle sobre esse futuro. Mas vai ser necessário um esforço imenso para fazer isso."

A OMS já havia alertado, há cerca de 20 dias, que o novo coronavírus (Sars-CoV-2) ainda demoraria para ser vencido. O diretor-geral da entidade, Tedros Adhanom Ghebreyesus, reforçou, ainda, que a doença foi declarada uma "emergência de saúde internacional", o nível mais alto de alerta da OMS, no dia 30 de janeiro.

Saúde no mundo

A OMS também divulgou, nesta quarta, seu relatório anual sobre a saúde no mundo. O documento destaca que, apesar de o mundo estar vivendo mais e de forma mais saudável, a pandemia ameaça o cumprimento dos objetivos de saúde estabelecidos, que já progredia de forma lenta.

Segundo o documento, aumentou a expectativa de vida no mundo, ainda que de forma desigual. Os maiores ganhos foram em países de baixa renda, onde a expectativa de vida aumentou 11 anos entre 2000 e 2016. Nos países de alta renda, esse aumento foi de 3 anos.

Um dos motivos para o progresso nos países de baixa renda foi a melhora no acesso a serviços para prevenir e tratar HIV, malária, tuberculose e doenças tropicais negligenciadas, como verminoses. Outra razão foi a melhora nos cuidados de saúde para crianças e mães, o que fez cair pela metade a mortalidade infantil no mundo entre 2000 e 2018.

Alexander Nemenov/AFP 


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