A Suécia poderá ter de recorrer à assistência dos países vizinhos e a Finlândia e a Noruega já mostraram disponibilidade nesse sentido face a um agravamento da segunda vaga de coronavírus e ao abandono de profissionais de saúde, em especial enfermeiros.
O Conselho Nacional de Saúde e Bem-Estar da Suécia contactou no início da semana as autoridades de saúde de outros países nórdicos para iniciar discussões sobre a melhor forma de ajudar a Suécia ao abrigo do acordo de saúde pública nórdica.
"Há alguns dias, iniciaram-se os primeiros contactos com os outros países nórdicos, para que tenham consciência de que este ainda é um acordo válido, caso surja a necessidade", disse Göran Karlström, responsável pela coordenação da capacidade de cuidados intensivos entre as regiões da Suécia, ao londrino The Telegraph.
"Não recebemos um pedido oficial de ajuda, mas avaliamos diariamente a situação hospitalar e estamos, naturalmente, prontos a ajudar a Suécia se pudermos", disse Kirsi Varhila, secretária permanente do Ministério dos Assuntos Sociais e Saúde da Finlândia, ao jornal Svenska Dagbladet.
A sua homóloga norueguesa, Maria Jahrmann Bjerke, disse à emissora estatal NRK que os países nórdicos tinham um acordo de cooperação que permitia que a assistência médica fosse partilhada a curto prazo: "Se as autoridades suecas nos pedissem assistência, daremos uma resposta positiva."
Estocolmo ainda não pediu formalmente ajuda externa, e Johanna Sandvall, a chefe do gabinete de crise, isto é do planeamento no Conselho Nacional de Saúde e Bem-Estar, disse no domingo que a Suécia não tem planos de procurar ajuda junto dos vizinhos. "A situação dos cuidados de saúde é muito tensa em várias partes do país, mas temos uma capacidade disponível a nível nacional para satisfazer as necessidades neste momento", disse.
As autoridades estão a recorrer aos militares e a pensarem em recorrer à transferência de pacientes para regiões menos atingidas.
Porém, Johanna Sandvall reconheceu disse que não era fácil destacar pessoal médico das forças armadas, pois a maioria eram oficiais na reserva já a trabalhar em hospitais noutros locais. "Trata-se de pessoal que já trabalha como enfermeiros ou médicos numa região, mas se utilizássemos o sistema de oficiais na reserva para que as Forças Armadas apenas chamassem as reservas e as colocassem em algum lugar, estaríamos apenas a criar um buraco que as regiões não conseguem controlar", considerou.
A Noruega e a Finlândia tiveram uma primeira e segunda vaga de covid-19 muito mais suave do que a Suécia, uma exceção na Europa na sua política menos restritiva e ao não aconselhar o uso de máscaras.
A Suécia registou 1400 mortes de covid no mês passado, em comparação com cerca de 100 na Noruega e 80 na Finlândia, cada uma com cerca de metade da sua população.
Enfermeiros em debandada
A região de Estocolmo advertiu na quarta-feira que 99% das camas de cuidados intensivos (UCI) estavam preenchidas, enquanto os sindicatos de saúde alertaram para o grande número de trabalhadores que abandonam os serviços à medida que infeções, hospitalizações e mortes continuam a aumentar.
Cerca de 3600 profissionais de saúde demitiram-se na região de Estocolmo desde o início da pandemia, de acordo com a emissora estatal SVT, cerca de 900 mais do que no mesmo período do ano passado.
Ao cansaço e ao risco de infeção, junta-se o principal problema dos enfermeiros,: os baixos salários, tendo em conta o nível salarial médio. Sara Nordin, ex-enfermeira de uma unidade de cuidados intensivos, disse à Bloomberg que se despediu em outubro porque não conseguia sustentar-se com o salário base de 27 700 euros que recebia por ano.
Também à Bloomberg, Sineva Ribeiro, presidente da Associação Sueca de Profissionais de Saúde, diz que já em maio os membros do seu sindicato alertaram para uma "situação insustentável", sendo que agora é "terrível" porque há menos pessoas qualificadas disponíveis agora do que havia na primavera, "o que torna mais difícil expandir a capacidade das UCI".
A Suécia duplicou o número de lugares de cuidados intensivos na primavera para 1100, pelo que a capacidade disponível nunca desceu abaixo dos 30%, mesmo quando as hospitalizações atingiram o pico em abril. Mas a capacidade extra foi reduzida durante o verão, quando o hospital de campanha no sul de Estocolmo, que não chegou a ser utilizado, foi desmontado.