A técnica de enfermagem que se dedicou a salvar vidas pela Covid-19, Eliandre Boscato, de 43 anos, morreu após esperar por uma vaga de leito na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em um hospital de São Miguel do Oeste, na segunda-feira (1º), segundo o Conselho Regional de Enfermagem (Coren/SC). De acordo com a entidade, a espera por um leito começou em 24 de fevereiro em São Carlos, também no Oeste, onde a profissional morava e estava internada. Informações do G1.
Mesmo com a transferência a paciente não conseguiu um leito dentro da unidade e recebeu atendimento intensivo de maneira improvisada, segundo informações repassadas pela entidade.Com a piora no quadro da paciente, a equipe médica resolveu colocar, no dia 24 de fevereiro, o nome da profissional na lista de espera para uma vaga de UTI na região. A transferência veio no dia 27 para São Miguel do Oeste.
De acordo com informações do Coren, mesmo com a mudança, a paciente recebeu atendimento intensivo em um "leito improvisado", pois não havia vaga dentro da UTI. Ela ficou no Hospital Regional Terezinha Gaio Basso. A unidade informou que nenhum paciente fica sem assistência médica e todos recebem respiradores e medicamentos.
Nesta segunda-feira (1º), Eliandre não resistiu e morreu. A técnica de enfermagem deixa uma filha.
'Lutou bravamente'
Nas redes sociais familiares e amigos lamentaram a morte da profissional. Uma amiga publicou "E assim o vírus faz mais uma vítima! Quantas vidas você ajudou a salvar! Lutou bravamente na linha de frente! Mas Deus precisou que você voltasse para casa e curasse os que estão chegando lá!".
O hospital também emitiu uma nota falando sobre a morte da colaboradora. "É difícil acreditar que você se foi, pois estava na linha de frente conosco pela vida das outras pessoas e mesmo enfrentando essa doença dificílima, você se manteve lutando como uma guerreira, motivada do jeito que só você sabia ser. Vai ser muito difícil pra nós, seus colegas e irmãos de profissão, continuarmos essa luta sem você Eliandre".
Profissionais doentes
Até quarta-feira (3), Santa Catarina teve 987 profissionais de enfermagem infectados pelo vírus e 14 mortes causadas pela Covid-19. Segundo o Coren/SC, 15 estavam internados.
Condições de trabalho
De acordo com o Coren/SC, entre os profissionais da saúde há relatos de dificuldade para realizar atendimentos adequados aos pacientes nas unidades diante do cenário de ocupação de leitos.
Cabe ao Coren/SC realizar a fiscalização do exercício profissional e das condições de trabalho dos técnicos e enfermeiros no estado. Uma força-tarefa ocorreu em Chapecó, no Oeste, nos dias 17, 18 e 19 de fevereiro, onde ficou constatado que havia "sobrecarga de trabalho e déficit de profissionais em três hospitais, na UPA, no pronto atendimento, nos ambulatórios e nas 26 unidades básicas de saúde".
“Nosso papel é garantir condições do legal exercício da profissão e, neste momento crítico, também apoiar nossos colegas para oferecer segurança e qualidade no atendimento à população. Vimos muita angústia e total entrega dos profissionais de enfermagem para resolver todas as urgências, mas há 11 meses na linha de frente não saberemos quanto tempo mais eles conseguem suportar caso não haja um suporte nas equipes”, disse no relatório a chefe da Fiscalização do Coren/SC, Lívia Fortunato
Uma nova operação de fiscalização da entidade deve ocorrer nos próximos dias na Grande Florianópolis.
Situação da Covid-19 em SC
A situação da pandemia se agravou em Santa Catarina, principalmente a partir de fevereiro, e há falta de leitos de UTI. Até a noite de quarta, pelo menos 217 pessoas aguardavam para serem transferidas. A taxa de ocupação de leitos de UTI do Sistema Único de Saúde para adultos com Covid-19, era de 99,19%, com apenas uma vaga em todo o estado.
Até quarta (3), 268.134 doses da vacina contra a Covid-19 tinham sido aplicadas em Santa Catarina. Desse conjunto, 204.275 pessoas receberam a primeira dose e 63.859, também a segunda. Santa Catarina recebeu 91.200 doses da vacina CoronaVac nesta quarta.