Governo libera 2ª dose da Pfizer em quem tomou AstraZeneca; entenda

Isso ocorre por causa da escassez do fornecimento de novas doses do imunizante desenvolvido pela Universidade de Oxford.

Governo libera 2ª dose da Pfizer em quem tomou AstraZeneca; entenda | Reprodução
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Neste sábado (14), o Ministério da Saúde liberou os municípios a aplicarem a vacina da Pfizer como substituta para a segunda dose que deveria ser da AstraZeneca. Isso ocorre por causa da escassez do fornecimento de novas doses do imunizante desenvolvido pela Universidade de Oxford. 

Segundo apuração do UOL, dados indicam risco de faltar a segunda dose da vacina para 3 milhões de pessoas. Em uma nota técnica, o órgão afirma que a troca desses imunizantes é recomendada "em situações de exceção, onde não for possível administrar a segunda dose da vacina com uma vacina do mesmo fabricante, seja por contraindicações específicas ou por ausência daquele imunizante no país".

O ministério também recomenda a intercambialidade de vacinas para grávidas que tomaram a primeira dose da AstraZeneca e devem completar o esquema vacinal com a vacina que não tiver o vetor viral, isto é, a Pfizer ou Coronavac.

Governo libera 2ª dose da Pfizer em quem tomou AstraZeneca; entenda

O que dizem os estudos?

 A pasta citou alguns estudos na nota técnica. Um deles foi realizado no Reino Unido, que comparou esquemas de vacinação com a aplicação das duas doses da mesma vacina e a mistura entre AstraZeneca e Pfizer com um intervalo de quatro semanas entre as doses.

Publicado no periódico Lancet em 9 de janeiro deste ano, o estudo contou com 830 adultos com mais de 50 anos, escolhidos aleatoriamente. Eles receberam ou a vacina Pfizer ou a da AstraZeneca, primeiro uma e depois a outra.

Os cientistas notaram que as pessoas que receberam doses mistas apresentaram maior probabilidade de desenvolver sintomas leves a moderados com a segunda dose da vacina, incluindo calafrios, fadiga, febre, dor de cabeça, dores nas articulações, mal-estar, dores musculares e no local da injeção, em comparação com aqueles que receberam vacinas da mesma empresa.

No entanto, essas reações foram de curta duração e não foram registrados outros problemas de segurança.

Medida é segura?

O estudo citado acima é um dos exemplos que mostra que, na prática, não há relatos de riscos graves à saúde. Recentemente, um estudo dinamarquês mostrou que combinar a vacina da AstraZeneca com uma segunda dose do imunizante da Pfizer (ou da Moderna) proporciona uma "boa proteção".

Segundo Marcello Bossois, imunologista responsável pelo projeto Brasil sem Alergia, a medida não é a ideal, mas é a opção disponível neste cenário de pandemia.

Na visão do médico, o ideal mesmo seria misturar vacinas com tecnologias iguais. No caso da AstraZeneca, seria a da Janssen, que é dose única —ambas utilizam um "vírus vivo", como um adenovírus (que causa o resfriado comum), que não tem capacidade de se replicar no organismo humano ou prejudicar a saúde.

"Colocando na balança os riscos e benefícios, corroborados com os estudos científicos já publicados, isso realmente nos dá segurança de fazer isso e acabar logo com essa pandemia", diz o imunologista ao ressaltar que medidas como essas são acompanhadas pelos órgãos ao longo dos meses (e anos).

Mas essa mistura de vacinas não é nova. Em 2020, em entrevista ao VivaBem, Renato Kfouri, infectologista e diretor da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), já tinha dito que iniciar a imunização com a vacina de um determinado laboratório e terminá-la com uma segunda dose de outro já é usada em alguns casos, como vacinas pneumocócicas, de meningite e coqueluche.

Combinar pode ser até melhor 

Por mais que seja utilizada para suprir a escassez das vacinas, a medida pode agregar um ponto importante na imunização das pessoas, conforme explica Alexandre Zavascki, chefe de infectologia do Hospital Moinhos de Vento (RS).

"Os estudos mostram que a resposta imunológica induzida pela vacinação heteróloga — que usa dois tipos de imunizantes — é maior do que se uma pessoa tomasse doses iguais da vacina — seja ela Pfizer ou AstraZeneca", diz.

Segundo o pediatra intensivista Juarez Cunha, presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações) em entrevista ao Blog da Lúcia Helena, colunista de VivaBem, já havia a teoria de que a mistura de plataformas — como a vacina da Pfizer com da AstraZeneca — potencializaria a resposta imunológica.

"Afinal, é como se cada vacina agisse em uma frente. Uma pode estimular mais a imunidade celular. E outra pode promover uma maior produção de anticorpos. Aliás, os próprios anticorpos podem se ligar a proteínas diferentes do vírus, conforme o imunizante", afirma o médico.

Mas ainda é cedo para incluir a vacina da CoronaVac, por exemplo, pois ainda não há estudos feitos com o imunizante. Aliás, serão necessárias pesquisas para checar as várias possibilidades de combinações entre todas as vacinas existentes contra a covid-19.

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