Morreu nesta segunda-feira (4) o compositor Aldir Blanc. O músico tinha 73 anos de idade e testou positivo para a Covid-19, diagnóstico confirmado dia 22 de abril. Aldir Blanc estava internado desde o dia 10 de abril com problemas respiratórios e infecção urinária. Ainda não há informações sobre enterro e velório do compositor, mas, como ele foi vítima de Covid-19, a cerimônia de despedida deve ser rápida e reservada.
Família e os amigos de Aldir Blanc chegaram a fazer uma movimentação pela internet para que o compositor fosse transferido para uma UTI porque o hospital onde ele estava internado não tinha leitos vagos. A estratégia deu certo e o músico foi entubado com dificuldades respiratórias em uma unidade hospitalar do Rio de Janeiro.
Sozinho ou ao lado de parceiros, como João Bosco, Aldir Blanc é compositor de clássicos como Bala com bala, Mestre-sala dos mares, De frente pro crime e Dois pra lá, dois pra cá. Aldir também e autor de O bêbado e a equilibrista, canção que, na voz de Elis Regina, acabou se tornando um grito contra a ditadura militar no Brasil.
Resumo da carreira musical
Aos 18 anos, Blanc ganhou uma bateria e, pouco depois, formou o grupo Rio Bossa Trio. Em 1968, conheceu o parceiro Sílvio da Silva Júnior. Dois anos mais tarde, a primeira composição da dupla, “Amigo É pra Essas Coisas”, é gravada pelo grupo MPB-4.
Na mesma época, ao lado de outros compositores, como Ivan Lins, Gonzaguinha e Marco Aurélio, funda o Movimento Artístico Universitário (MAU), e torna-se conhecido por criar e integrar associações ligadas à defesa dos direitos autorais. É um dos fundadores da Sociedade Musical Brasileira (Sombras) - responsável pela arrecadação de direitos autorais -, da Sociedade de Artistas e Compositores Independentes (Saci) e da Associação dos Músicos, Arranjadores e Regentes (Amar).
“Ela”, sua composição em parceria com César Costa Filho, foi gravada por Elis Regina, em 1971. No ano seguinte, a cantora grava “Bala com Bala”, parceria com João Bosco, e a canção “Agnus Sei” é lançada no Disco de Bolso, compacto que acompanha o jornal O Pasquim.
Em 1973, Elis grava ainda várias outras músicas da dupla Bosco e Blanc, como “O Caçador de Esmeralda” e “Cabaré e Comadre”. Um ano depois, em outro LP, Elis grava outros sucessos da dupla, como “O Mestre-Sala dos Mares”, “Caça à Raposa” e “Dois pra Lá, Dois pra Cá”. E em 1979, “O Bêbado e a Equilibrista”, um dos maiores sucessos de sua carreira.
Em 1996, o disco comemorativo “Aldir Blanc - 50 Anos”, em homenagem ao compositor, reuniu várias participações especiais, entre elas, Betinho ao lado do MPB4, Edu Lobo, Paulinho da Viola, Danilo Caymmi e Nana Caymmi.
O álbum reúne, também, letras e melodias com Guinga, Moacyr Luz, Cristóvão Bastos e Ivan Lins.
Com Bosco, emplacou algumas canções na trilha de abertura de novelas e séries, como “Doces Olheiras” (na novela Gabriela, da TV Globo, em 1975), “Visconde de Sabugosa” (para O Sítio do Pica-Pau Amarelo, em 1977), “Coração Agreste” (em Tieta, de 1979), “Confins” (em Renascer, de 1993), “Suave Veneno” (na novela homônima, de 1999), “Chocolate com Pimenta” (tema de novela homônima, em 2003), “Bijuterias” (para a minissérie “O Astro”, no remake de 2011).
O cronista Aldir Blanc
Blanc era também cronista, reconhecido pelas bem-humoradas histórias e personagens da Zona Norte do Rio.
Publicou vários livros, entre eles "Rua dos Artistas e Arredores" (Ed. Codecri, 1978); "Porta de tinturaria" (1981), "Brasil passado a sujo" (Ed. Geração, 1993); "Vila Isabel - Inventário de infância" (Ed. Relume-Dumará, 1996), e "Um cara bacana na 19ª" (Ed. Record, 1996), com crônicas, contos e desenhos. Contribuiu, ainda, com crônicas para os jornais O Dia, O Estado de São Paulo e O Globo.