A Rússia anunciou na quinta-feira (5/5) o registro de uma nova versão da vacina Sputnik de uma dose só em vez de duas. O anúncio foi feito pelo Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF, na sigla em inglês), que é administrado pelo governo russo e financiou a criação do imunizante; pelo Instituto Gamaleya, que também é público e foi responsável pela pesquisa; e o Ministério da Saúde do país.
O RFID explicou que a nova vacina, batizada de Sputnik Light, usa apenas a primeira dose da Sputnik V, a original. Os testes mostraram que ela teve uma eficácia de 79,4%, de acordo com o fundo. Isso "é superior ao de muitas vacinas de duas doses", ressaltou.
"O regime de dose única permite a imunização de um maior número de pessoas em um menor espaço de tempo, favorecendo o combate à pandemia na fase aguda."
Nenhum evento adverso grave foi registrado na pesquisa, informou o RDIF. A Sputnik V vem sendo questionada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A agência vetou pedidos de importação da vacina russa porque diz que não pode confiar na segurança, eficácia e qualidade do imunizante diante da ausência de informações que foram requisitadas.
Uma das principais questões é que não deveria haver vírus capazes de se replicar em sua composição, e, segundo a Anvisa, os dados das pesquisas mostram que a Sputnik V tem isso.
O RDIF negou e disse que mais de 20 milhões de pessoas no mundo já receberam ao menos uma dose do imunizante. O uso da Sputnik V foi aprovado em 64 países até agora, afirma o fabricante. Mas a Anvisa diz que só uma minoria deles está aplicando de fato a vacina na população. O assunto será tema da CPI da covid-19 nesta quinta-feira (06/05), quando o presidente da Anvisa vai depor.
O que se sabe sobre eficácia
O fundo soberano russo disse no novo anúncio que a Sputnik Light gerou anticorpos em 96,9% dos participantes do estudo, e, em 91,67%, também produziu os anticorpos neutralizantes, que impedem a infecção das células humanas.
A taxa de eficácia de 79,4% foi calculada com base em dados de russos que foram vacinados com a primeira dose da Sputnik V e não receberam a segunda por algum motivo, entre 5 de dezembro de 2020 e 15 de abril de 2021.
O fabricante não informou no comunicado quantas pessoas fizeram parte do grupo analisado. A vacina Sputnik original teve uma eficácia de 91,6% nos testes clínicos e de 97,6% no mundo real, de acordo com o fundo russo. O RDIF divulgou com o anúncio de hoje que um estudo com 7 mil pessoas sobre a eficácia da Sputnik Light está sendo feito desde fevereiro na Rússia, nos Emirados Árabes, em Gana e em outros países.
Mas não ficou claro se os dados apresentados nesta quinta-feira fazem parte dessa pesquisa. A BBC News Brasil questionou os responsáveis, mas não recebeu uma resposta até a publicação desta reportagem.
Como funciona
A Sputnik V usa dois tipos de adenovírus diferentes, um em cada dose, que devem ser administrados em uma sequência certa. Esses vírus causam resfriados em humanos e foram modificados em laboratório para carregar as instruções genéticas do novo coronavírus até nossas células.
Isso faz com que elas comecem a produzir uma proteína do Sars-CoV-2, disparando o processo que nos deixa imunizados. Esses adenovírus também foram alterados pelos cientistas para não serem capazes de se reproduzir. Se fizerem isso, diz a Anvisa, podem fazer mal à saúde, e esse efeito não teria sido investigado.
Mas a agência afirma que só um tipo de adenovírus, o que é usado na segunda dose, teria conseguido se replicar de novo. A Sputnik Light usa o primeiro tipo, que não teria esse problema — e essa é a principal preocupação da Anvisa com a segurança da vacina russa. Isso não resolve no entanto as outras questões apontadas pela agência, que colocou em dúvida sua eficácia (porque faltariam dados) e sua qualidade (porque os métodos usados não seguem os padrões internacionais).