Navinder Sarao, apelidado de "Cão de caça de Hounslow", foi condenado a um ano de prisão domiciliar por ajudar a causar um colapso de US$ 1 bilhão no mercado de ações. Aos 42 anos, o operador autodidata contribuiu para o pânico nos mercados americanos em 2010, operando a partir do quarto da casa de seus pais em Londres.
Preso em 2015 e extraditado para os EUA, Sarao passou quatro meses na prisão antes de ser autorizado a retornar ao Reino Unido, onde ajudou as autoridades a capturar outros golpistas. Diagnosticado com síndrome de Asperger, ele via suas operações nos mercados como um "jogo de videogame". Diferente do personagem de "O Lobo de Wall Street", ele levou uma vida discreta e perdeu dinheiro para investidores fraudulentos.
COMO GANHAR US$ 40 MILHÕES SEM SAIR DO QUARTO?
Sarao acumulou parte de sua fortuna manipulando artificialmente o mercado de ações com um software especialmente adaptado para operar remotamente no Chicago Mercantile Index. Ele aproveitou-se dos "operadores de alta frequência", que usavam algoritmos para fazer transações em milissegundos, colocando milhares de pedidos no mercado e rapidamente cancelando-os ou alterando-os.
Essa prática, conhecida como "falsificação", criava uma demanda artificial, permitindo que Sarao lucrasse com as flutuações repentinas de preço. Em 2016, ele concordou em pagar ao governo americano US$ 12,8 milhões (R$ 54,4 milhões), parte dos US$ 40 milhões (R$ 170 milhões) que teria ganho em cinco anos de operações ilegais.
QUAL FOI SUA SENTENÇA?
Sarao foi condenado por fraude eletrônica e "spoofing" — prática em que alguém se passa por outra pessoa para obter vantagem ilegal. Embora inicialmente enfrentasse 22 acusações e uma possível pena de até 380 anos, os promotores optaram por não buscar uma sentença de prisão.
Consideraram o fato de que ele não gastou dinheiro em luxos, perdeu rapidamente seus ganhos em fraudes, além de levar em conta seu autismo, o tempo já cumprido na prisão e sua colaboração com o governo ao longo dos anos.
QUÃO COMUM É ESSE TIPO DE CRIME?
A maioria dos países, como o Reino Unido, não considera o "spoofing" um crime, uma prática comum que só foi criminalizada nos EUA em 2010. O primeiro processo de sucesso por "spoofing" foi contra o comerciante americano Michael Coscia, condenado a três anos de prisão em 2013 por manipular mercados futuros e lucrar US$ 1,6 milhão (R$ 6,8 milhões).
Mais recentemente, bancos como UBS, Deutsche Bank e HSBC pagaram US$ 46,6 milhões (R$ 198 milhões) em acordos com reguladores dos EUA para resolver queixas de "spoofing". Esses casos destacam a linha tênue entre manipulação de mercado legal e ilegal, já que corretores exploram preços errados para lucrar, e a negociação algorítmica, cada vez mais comum, não é ilegal por si só.
(Adaptação de um artigo escrito pelos repórteres de negócios da BBC Andy Verity e Eleanor Lawrie).