Bebês e crianças querem a atenção dos pais o tempo todo, não importa se eles estão dirigindo, comendo, vendo um filme ou dando uma entrevista à BBC. Agora chegou a hora de agradecer os pequenos chorões do mundo todo pela carência. Segundo pesquisadores de Harvard, essa insistência toda foi responsável por dar ao ser humano uma das coisas que ele mais gosta: a música.
As primeiras canções, ainda na pré-história, teriam sido uma estratégia de mães isoladas para manter seus filhos quietinhos sem precisar pegar eles no colo o tempo todo. O truque dava tão certo que essas mulheres específicas, com uma habilidade musical melhor que a média, também se deram melhor na seleção natural e deixaram muitos descendentes cantores. As vantagens práticas disso são fáceis de entender: se você põe um bebê de lado para colher frutas ou cortar carne, é mais negócio acalmar o rebento com música do que deixar ele chorar em voz alta, atraindo predadores.
O trunfo dessa teoria é que ela confere à música uma utilidade clara em uma época em que mal existia cultura e ajuda a explicar porque tantos povos, não importa o quão isolados estivessem um do outro do ponto de vista geográfico, desenvolveram suas próprias canções.
“No mundo dos nossos ancestrais, predadores e outros seres humanos ofereciam risco”, explicou Max Krasnow, um dos autores do estudo, à assessoria da universidade norte-americana. “As crianças não sabem quais comidas são venenosas e quais atividades são perigosas, então elas só pode se manter em segurança com pais atentos. Acontece que atenção era um recurso escasso.”
O estudo já foi aprovado até pelo famoso psicólogo evolutivo e linguista Steven Pinker.
“No passado, todo mundo ficava tão ansioso para encontrar uma explicação adaptativa para a música que surgiram teorias circulares, como a de que a música teria evoluído para unir grupos”, afirmou ele no site de Harvard. “Essa explicação é a primeira que se encaixa com a evolução, demonstrando como a música pode melhorar a sobrevivência e aptidão de uma espécie. Isso não basta para provar que é verdade, mas pelo menos faz sentido.”