Antes da chegada de seres humanos à Amazônia, incêndios eram bastante raros. Quase 15 mil anos depois, a cobertura florestal da região está chegando a um ponto em que não mais vai se recuperar dos níveis atuais de desmatamentos e queimadas, uma destruição jamais ocorrida nos últimos 100 mil anos. Nesse ritmo, a floresta será substituída por uma savana (pastagem com poucas árvores) ainda neste século. As informações são do Mega Curioso.
Foi a essa conclusão sombria que o biólogo Mark Bush, do Instituto de Tecnologia da Flórida, chegou em sua pesquisa “Novos e recorrentes pontos de inflexão: a interação do fogo, mudança climática e desmatamento nos ecossistemas neotropicais”, publicada nos Anais do Jardim Botânico de Missouri, nos Estados Unidos.
Queimadas chegaram com o homem
Analisando amostras de pólen fossilizado e carvão vegetal, um indicador de fogo, há milhares de anos repousando no fundo de lagos, Bush mapeou cerca de 370 mil anos de história paleológica da região, rastreando as mudanças na vegetação por quatro ciclos glaciais e a frequência com que o fogo grassava pela mata. Segundo o biólogo, incêndios eram quase desconhecidos na Amazônia antes da chegada do ser humano.
“O fogo é um agente transformador na vegetação amazônica e andina, mas é raro na natureza”, diz o biólogo em seu estudo.
Segundo Bush, que é líder do Programa de Ecologia e Biologia da Conservação da Florida Tech, os primeiros habitantes da Amazônia causaram perturbações relativamente pequenas nos últimos 10 mil anos — nada que a floresta não conseguisse recuperar.
Em décadas, apenas pastagens
As mudanças trazidas pelo aquecimento global e o consequente clima cada vez mais seco “estão se combinando com o desmatamento e as queimadas em uma escala cada vez maior, criando condições para que vastas áreas de floresta tropical façam a transição para a savana em uma questão de décadas”.
Se as temperaturas subirem entre 1 °C e 1,5 °C, o ponto de inflexão, quando não será possível que a floresta se recupere, será alcançado, o que provavelmente vai acontecer até o fim deste século. Com o solo pobre, as florestas tropicais precisam de alta umidade para sobreviver, pois não são adaptadas para resistir ao fogo. As constantes e cada vez mais violentas temporadas de queimadas trazem mais calor.
Problema regional, efeitos globais
Para o biólogo, “a mortalidade de árvores induzida pela seca e pelo fogo pressagia um ponto de inflexão iminente. O aquecimento global pode, por si só, induzi-lo ainda neste século, mas se as políticas atuais não forem interrompidas por governantes, que fazem vista grossa para a destruição da floresta, poderemos chegar a um momento de não retorno muito mais cedo”.
O fim da cobertura vegetal levará com ele sua imensa e ainda inexplorada biodiversidade, trazendo mudanças desastrosas ao clima global. “Quase todos os incêndios na Amazônia são provocados deliberadamente e se tornaram muito mais frequentes nos últimos 2 anos. Além da perda da vida selvagem, os efeitos em cascata do fim da floresta amazônica alterariam as chuvas em todo o hemisfério. Esse não é um problema remoto, mas de importância global e crítica para a segurança alimentar”.