Antigamente, há mais de 4 mil anos no Egito, enterros em massa eram extremamente raros. E essa nova descoberta de arqueólogos, onde 60 corpos foram sepultados juntos nas falésias perto de Luxor levanta um questionamento. O que teria acontecido com todas essas múmias para terem sido enterradas no mesmo lugar? A descoberta indica um vestígio sombrio e assustador das antigas civilizações egípcias.
Em uma recente visita de arqueólogos ao misterioso Túmulo dos Guerreiros em Deir el Bahari, no Egito, eles encontraram evidencias intrigantes. A tumba que havia sido selada após a sua descoberta em 1923, revelou um capítulo sangrento da história do Egito no final do Antigo Império, por volta de 2150 a.C.
A novas descobertas e evidências foram apresentadas no documentário da PBS "Segredos dos Mortos: A Hora Mais Sombria do Egito". No documentário é mostrada uma imagem sombria da civilização que acabou resultando em sangrentas batalhas. Os governadores das regiões próximas entraram em conflito há aproximadamente 4.200 anos atrás. Segundo um comunicado da PBS, um desses combates brutais pode ter culminado na morte de 60 homens. Esses que tiveram seus corpos mumificados em um enterro em massa.
Salima Ikram é professora de egiptologia da Universidade Americana no Cairo, e foi uma das arqueólogas que investigou as múmias. Isso, claro, com a ajuda uma equipe de filmagem, o apoio do Ministério de Antiguidades do Egito e a assistência de especialistas locais, Davina Bristow, produtora e diretora do documentário.
A equipe descobriu a partir da entrada da tumba, um labirinto de túneis que se ramificava a cerca de 200 pés no penhasco. Lá, havia várias câmaras cheias de partes de corpos mumificados. Havia várias pilhas de ataduras que tinham sido enroladas em volta dos corpos, mas que, com o tempo, acabaram sendo desfeitas.
Aparentemente todos os corpos encontrados pertenceram a homens, e muitos deles mostravam sinais de traumas graves. Muitos dos crânios ali foram quebrados ou perfurados. Muito provavelmente em decorrência de ferimentos com armas ou projéteis. Além de flechas presas em muitos corpos, indicando que os homens eram provavelmente soldados que morreram em guerra. Segundo Ikram, uma das múmias estava usando uma luva protetora em seu braço, como as usadas pelos arqueiros.
"Essas pessoas tiveram sangrentas e temíveis mortes", disse Ikram. Em evidências de outros locais do Egito, sugerem que eles morreram durante um período de grande agitação social.
Conforme a influência do faraó Pepi II, governante naquele período, decaia drasticamente, o fim do seu governo se aproximava, e assim, os outros governadores locais se tornaram cada vez mais poderosos. O túmulo de um governador, construído na necrópole de Qubbet el Hawa, depois da morte de Pepi II, tinha inscrições que indicam um conflito entre as facções políticas. E essas inscrições sugerem uma desordem social, guerra civil e falta de controle de um único governo.
Outro fator que pode ter acelerado esse possível colapso social, foi a fome causada pela seca. Em uma outra inscrição na tumba do governador mostrou novas pistas. Ainda que "o país do sul estava morrendo de fome, então todo homem estava comendo seus próprios filhos. E todo o país se tornou um gafanhoto faminto", disse Antonio Morales, um egiptólogo da região, no documentário.
"Juntos, fome e inquietação poderiam ter preparado o terreno para uma batalha frenética que deixou 60 homens mortos no chão - e depois mumificou na mesma tumba", disse Ikram.