Dois planetas foram encontrados por uma equipe internacional de cientistas perto da zona habitável de uma estrela que fica próxima ao Sistema Solar.
Ambos os planetas orbitam muito perto da zona habitável de GJ 887 (também conhecida como Gliese 887), uma estrela anã vermelha com cerca de metade da massa do Sol e localizada a 11 anos-luz. A proximidade entre esses planetas e sua estrela - maior que a proximidade entre Mercúrio e o Sol - transforma o grupo de GJ 887 em um conjunto "compacto" e é o sistema desse tipo mais próximo do Sistema Solar descoberto até agora.
Os dois planetas cuja existência foi confirmada foram classificados como "superterras" porque possuem entre quatro e sete vezes mais massa que o nosso planeta, mas são menores que Urano e Netuno.
"Eles também devem ter um núcleo sólido, como o da Terra", disse à BBC News Sandra Jeffers, da Universidade de Göttingen (Alemanha) e principal autora da pesquisa.
Acredita-se que tenha uma atmosfera mais espessa que a nossa. A pesquisa foi realizada pelo projeto Red Dots, formado por várias universidades ao redor do mundo e que busca exoplanetas semelhantes à Terra e próximos ao Sistema Solar. Os resultados foram publicados nesta quinta-feira na revista Science.
O que se sabe sobre esses dois planetas recém-descobertos?
"Sistema compacto"
Ambos os planetas, chamados GJ 887b e GJ 887c, foram detectados usando o Buscador de Planetas em Velocidade Radial de Alta Precisão (Harpa, na sigla em inglês), um instrumento do Observatório Europeu do Sul (ESO) em La Silla, no Chile.
Com base no que foi observado, foi possível dizer que os dois planetas ficam relativamente "próximos" de sua estrela. O mais "remoto" da estrela, GJ 887c, leva apenas 21,8 dias terrestres para completar uma volta; e o GJ 887b leva apenas 9,3 dias terrestres.
Essas órbitas são muito mais rápidas e mais curtas que a que o planeta Mercúrio faz em torno do Sol, que leva 88 dias terrestres. Os astrônomos já descobriram outros sistemas planetários mais próximos do Sistema Solar, como Proxima Centauri e Wolf359, localizados a 4,2 e 7,9 anos-luz de distância, respectivamente. Mas eles não são tão "compactos" quanto o GJ887.
"Esse tipo de sistema planetário é bastante comum em outras estrelas - entre 15 e 30% das estrelas do tipo solar - mas não havíamos encontrado nenhum muito próxima do Sol", disse Guillem Anglada-Escudé, do Instituto de Ciências do Espaço (ICE-CSIC) da Universidade Autônoma de Barcelona e um dos autores da pesquisa, para a agência EFE.
A "melhor estrela"
Os dois planetas ficam perto do limite da chamada "zona habitável" de sua estrela, ou seja, da região em que os planetas de um sistema podem apresentar condições que permitem a existência de vida.
Mas estando fora desta zona, os cientistas acreditam que o GJ 887b e o GJ 887c podem ser muito quentes. Tanto é assim que a água não pode nem ser mantida em estado líquido.
A temperatura de ambos é estimada entre 70º e 200ºC, segundo o Instituto de Estudos Espaciais da Catalunha (IEEC).
No entanto, os pesquisadores do projeto apontam que a estrela GJ 887 é bastante "inativa", o que é favorável para as atmosferas dos planetas próximos.
"A Gliese 887 é a melhor estrela que está próxima do Sol porque é geralmente uma estrela calma. Não passa pelas explosões energéticas (por exemplo, flashes) que vemos no Sol", diz Jeffers, da Universidade de Göttingen, à BBC Mundo, serviço da BBC em espanhol.
Se a GJ 887 "fosse tão ativo quanto o nosso Sol, é provável que o forte vento estelar [que produziria] simplesmente varresse a atmosfera dos planetas", explica a Universidade de Göttingen em comunicado divulgado na última quinta-feira.
Mas a ausência desse vento significa que "os planetas recém-descobertos podem reter suas atmosferas ou ter atmosferas mais espessas que a Terra e potencialmente abrigar vida, mesmo que recebam mais luz que a Terra", acrescenta ele.
"Os planetas recém-detectados são as melhores possibilidades (de todos os planetas conhecidos próximos ao Sol) para ver se eles têm atmosferas e estudá-los em detalhes. Ao estudá-los, os cientistas serão capazes de entender se as condições são adequadas para a vida", disse Jeffers à BBC Mundo.
Um terceiro planeta?
Os cientistas também detectaram sinais do que poderia ser um terceiro planeta, ainda maior que os dois anteriores, no sistema GJ 887. Este terceiro planeta estaria dentro da zona habitável.
O Dr. John Barnes, astrofísico da Universidade Aberta, no Reino Unido, e outro dos autores do estudo, disse à Press Association (PA) que "se o sinal veio de um planeta, esse planeta teria uma órbita de 51 dias".
"No entanto, também vemos sinais semelhantes que sabemos que devem vir da estrela. É por isso que atualmente não podemos dizer com certeza que o terceiro sinal vem realmente de um planeta. Se observações subsequentes o confirmarem como um planeta, ele estaria localizado bem dentro da zona habitável", acrescentou Barnes.
Melvyn Davies, professor de astronomia da Universidade Lund, na Suécia, que não participou da pesquisa, escreveu na revista Science na sexta-feira que "se outras observações confirmarem a presença do terceiro planeta na zona habitável, então o GJ 887 poderá se tornar um dos sistemas planetários mais estudados".