O pequeno Enzo foi um gigante falando palavras de força para sua mãe no tratamento contra um câncer que deixou Naiana gravemente doente. Depois de pouco mais de um ano de tratamento, ela veio a falecer, em Belém (PA), onde a família mora. Naiana teve câncer de pulmão e as células cancerígenas, chamadas de metástases, espalharam-se para outras partes do seu corpo.
Mas levou um tempo até descobrir a origem das dores nos ossos. Somente após um exame chamado cintilografia óssea é que Felipe, marido de Naiana, descobriu a causa. O exame de imagem apontou metástase óssea: uma hiperconcentração do radiofármaco, em grau avançado, na coluna vertebral, ombros, na bacia e em outras regiões do corpo. Nesse meio tempo, Naiana também teve uma pneumonia.
O médico oncologista começou a pedir novos exames para descobrir a origem do câncer e a encaminhar Naiana para especialistas: foi feita uma biopsia da mama, desconfiou-se do intestino e “após algumas negativas, desconfiamos do pulmão”.
Em outubro de 2017, foi confirmado um nódulo pulmonar.
Naiana não fumava e por isso o diagnóstico surpreendeu os médicos e Felipe. 90% dos casos ocorrem entre homens fumantes e de idade avançada, lembra Felipe.
“Foi algo totalmente atípico. É por isso que não desconfiaram do pulmão quando viram a metástase.” Em abril de 2018, foi feita uma ressonância no crâneo de Naiana e os médicos descobriram duas micrometástases no seu cérebro.
Foi realizada uma radiocirurgia nesses pontos, mas um segundo exame revelou mais pontos. Começou então uma nova radioterapia no cérebro todo para combater as células cancerígenas. Nessa fase da batalha contra a doença Nai teve perda cognitiva, da fala e motora.
Foi quando Enzo de fato percebeu que a mãe estava doente. “Desde o início, quando começaram as dores na coluna, pra ele, a mamãe tinha dor na coluna. Ficou ali como se fosse um problema na coluna. E como ela se enquadrou em uma quimioterapia bem avançada, via oral, não teve tantos efeitos colaterais.
Ela teve efeitos colaterais na radioterapia. Mas da quimio ela não teve”, lembra Felipe. Ele conta que Enzo foi muito parceiro da mãe durante todo seu tratamento.
“Só teve um dia, voltando da escola… Ele tava meio que irritado ‘não aguento mais! a mãe dos meus amigos, elas pegam eles no colo, brincam com eles, minha mãe não faz nada disso’. Conversei com ele, expliquei que a mãe estava passando por um tratamento. Enfim, foi a única vez. Nunca mais ele teve esse tipo de reação.”
“A gente tratou mesmo até dezembro. A quimioterapia não estava mais dando resultado. A Nai foi internada e ficou no tratamento paliativo mesmo. Não estava mais combatendo o câncer, mas dando mais qualidade de vida para ela, pra tirá-la do sofrimento.”
Naiana faleceu no último dia 24, uma perda enorme para Felipe, Enzo, familiares e amigos. O velório aconteceu no dia seguinte e Enzo, de apenas 6 anos, pediu para falar:
“A ideia que ele quis transmitir é que não são apenas os mais velhos que morrem, que tem que valorizar sua mãe enquanto ela tá viva… Ele meio que resumiu toda nossa história. Como eu costumo dizer, as pessoas vêm perguntar como que eu tô, eu falo ‘olha, tô com saudade’, mas com sentimento de dever cumprido, de não ter feito do diagnóstico uma certidão de óbito… E a gente viveu durante esse quase um ano e meio de tratamento. Viajamos, passeamos, curtimos em família, brincamos…”
E como o Enzo tá?
“O Enzo tá bem. No dia seguinte, ele foi pra aula. Conversou com os amigos, falou pra todo mundo. E tá tocando normal. Assim, lógico… Por exemplo, a gente acabou acessando o canal que ele tem no YouTube. Muito antigo, tem muito tempo que a gente não põe nada lá. Mas é um canal que criamos quando ele tinha 1 ano. E tem muitos vídeos com a Naiana… E quando a gente deitou na cama, ele disse que estava com saudade da mamãe, falou umas três vezes. Os olhos encheram de lágrimas, choramos os dois juntos. É uma questão de tempo mesmo.”