Como funciona o cérebro num relacionamento? Um neuropsicólogo explica!

O neurocientista Fabiano de Abreu detalha o cérebro “dele” e “dela” em um relacionamento.

Como funciona o cérebro num relacionamento? | Divulgação
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Amor, paixão, relacionamento, são vocábulos que estão na ordem do dia e sobre os quais todos têm uma opinião ou um conselho. No entanto, como em tudo na vida, a ciência pode explicar e desmistificar os processos por detrás dos nossos sentimentos e reações. O PhD, neurocientista, neuropsicólogo e biólogo Fabiano de Abreu ajuda a compreender as diferenças que ocorrem a nível cerebral alertando que a química do nosso corpo não nos deixa mentir.

"Detalhar como o cérebro funciona no relacionamento não é tão simples, pois depende não só do sentimento da pessoa, como também outros fatores como a personalidade e inteligência. Estes também interferem em como o cérebro funciona no relacionamento. Portanto, qualquer receita de bolo para este título estaria equivocada. Mesmo assim, vou selecionar alguns fatores que possam vir a acontecer em diferentes casos no relacionamento", reflete.

Fabiano de Abreu, neurocientista (Foto: divulgação).

Abreu explica que a ciência ajuda a compreender melhor todo o processo que ocorre quando nos apaixonamos, quando amamos ou quando simplesmente nos forçamos a uma relação que já não nos satisfaz.

"Estudos mostraram que quando olhamos para o rosto de quem estamos apaixonados, um número limitado de áreas no cérebro estão especialmente envolvidas em sua ativação, independentemente do sexo. Entre elas encontram-se estruturas corticais e subcorticais: córtex insular, córtex cingulado anterior, hipocampo, partes do córtex estriado e núcleo accumbens", explica.

"Já ouviu dizer que a paixão é passageira? Porque é uma emoção com prazo de validade e de alta intensidade. A paixão ocasiona estados de hipermotivação, perda da razão, estresse, dependência, obsessão e compulsões".

Mais cientificamente, Abreu garante que "dependendo do gênero, diversas regiões do cérebro estão relacionadas à paixão, entre elas, o córtex pré-frontal e as demais que estão localizadas nas regiões do núcleo da base e do sistema límbico. O neurotransmissor envolvido é a famosa dopamina, responsável pela sensação de recompensa". 

(Foto: divulgação)

"Fibras dopaminérgicas, via feixe prosencefálico medial, se projetam da área tegmentar ventral (VTA) do mesencéfalo para o núcleo accumbens. O córtex pré-frontal também exerce a função de fornecer feedback para a VTA diretamente ou pelo núcleo accumbens. Todas essas estruturas se comunicam com o hipotálamo para iniciar as respostas neuroendócrinas e viscerais de recompensa".

Mesmo as alterações que muitas vezes associamos a quem está apaixonado como a falta de apetite ou o humor têm a sua explicação.

"Com o aumento da dopamina, há uma diminuição da serotonina, neurotransmissor relacionado ao apetite e ao humor. Por isso que muitos apaixonados emagrecem. Estudos já provaram a redução de serotonina no estado inicial de paixão e o mesmo acontece em pacientes com distúrbios obsessivo-compulsivos".

"A obsessão está relacionada ao vício, a dopamina é viciante, por isso usuários de drogas tornam-se dependentes, pois este neurotransmissor está relacionado também com a sensação de êxtase com o uso de drogas. Há um aumento do cortisol, hormônio relacionado ao sistema imunológico no combate ao estresse, euforia, ansiedade", refere o neurocientista.

(Foto: divulgação).

"Uma vez que deixamos de falar de paixão e começamos a falar de amor, as reações químicas que ocorrem a nível cerebral são distintas".

Ao amar, "vamos falar do hormônio oxitocina, também liberado no parto ou no sexo. Ele está relacionado a vínculos mais duradouros. Assim como a vasopressina, este hormônio aumenta a pressão sanguínea, por isso amar faz bem".

"Ambos os hormônios são produzidos no hipotálamo e armazenados na hipófise para serem descarregados na corrente sanguínea. Principalmente durante o sexo, em homens e nas mulheres durante o parto e na amamentação", indaga.

"Da mesma forma que quando o sentimento acaba e nos forçamos por variadas razões a continuar numa relação que perdeu o sentido, o nosso cérebro se reprograma de maneira diferente".

"O cérebro age diferente e a neurociência pode identificar, até mesmo analisando o comportamento. No romance, quando apaixonados, regiões como o córtex pré-frontal, região da cognição, raciocínio lógico e consciência e a amígdala cerebral, região dos instintos e situações de medo, são “desativados”. Esta região é inibida desregulando a capacidade de discernimento. Com o tempo essas alterações se invertem e aos poucos volta-se à "consciência" e o tempo varia de acordo com a personalidade do indivíduo, inteligência e com diversos fatores externos que possam causar desilusão, por isso, não tatue o nome da namorada e cuidado com as loucuras impensáveis da paixão", explica.

Como refere Abreu, "'quando racionalizamos os prós e os contras de forma consciente e concluímos que algo no parceiro(a) não se encaixa, predomina então o instinto de sobrevivência no sistema límbico ativando a ansiedade para que possamos resolver a pendência que é se livrar daquela pessoa. Quando isso não acontece, a ansiedade aumenta e envolve constantemente a amígdala cerebral que, com o passar do tempo, se não resolver, coloca a pessoa em um sentimento de infelicidade causando disfunção generalizada em diversos neurotransmissores".

"Todo esse circuito neuronal envolve não só comportamentos como expressões que revelam a insatisfação conjugando diversas regiões do cérebro como o córtex cerebral, sistema límbico e o núcleos da base". 

Em jeito de conclusão, Fabiano de Abreu aconselha: "seja honesto e sincero com o seu parceiro(a), a ciência hoje em dia releva cada gesto, expressão e comportamento".

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