Matheus Guimarães Montenegro tem apenas 20 anos e possui um feito grandioso: passou em 28 universidades americanas por causa de um jogo de videogame. Ex-estudante de escola pública, o morador de São Vicente, litoral de São Paulo, encontrou no hobby o passaporte para mudar de vida.
"Não tinha nota para passar"
Com o sonho de cursar uma universidade nos Estados Unidos, o jovem costumava estudar cerca de seis horas por dia para o SAT (Scholastic Aptitude Test), uma espécie de ENEM americano.
Mas, apesar disso, o processo para entrar nas universidades não era fácil e, além das boas notas, Matheus precisou reunir uma série de documentos, como cartas de recomendação e teste de proficiência.
"As universidades americanas te avaliam como pessoa e, por isso, levam em consideração todo o seu histórico do Ensino Médio. Só que o problema é que minhas notas não eram muito boas", admite.
Jovem usou hobby como degrau para a universidade
Tudo mudou em 2021, quando Matheus viu uma matéria com Guilherme Mannarino, jovem carioca que, aos 17 anos, passou em 32 universidades por causa das habilidades do Fortnite. Foi aí que um novo mundo se abriu e o jovem decidiu que iria apostar no que, até então, era um hobby para conseguir realizar o seu sonho.
Mesmo com o computador já defasado, Matheus começou a jogar profissionalmente, participando de campeonatos além de praticar entre três a quatro horas por dia — enquanto iniciava os processos de aplicação para as universidades.
Porém, com um detalhe: o estudante gravou um vídeo e enviou para as faculdades em que estava se aplicando mostrando o talento no jogo. "Joguei dois a três minutos para mostrar algumas habilidades, como estratégia, por exemplo", conta.
A estratégia — dentro e fora do jogo — deu certo e Matheus foi aprovado em 28 universidades com bolsas que variam entre 50% e 75%. Escolheu a instituição na cidade de Oklahoma porque, segundo ele, a universidade tem um programa de e-sports mais estruturado.
"Mas eu nunca ganhei dinheiro com o e-sports", garante, fazendo questão de salientar que não é preciso ser um jogador premiado para seguir o mesmo caminho que o dele.
Vaquinha e patrocínio para ir aos EUA
Em agosto, ele começou as aulas de ciência da computação na Oklahoma Christian University onde conseguiu uma bolsa de estudos de 75%. Aprovado em meados de julho, ele tinha cerca de um mês para juntar cerca de R$ 82 mil para arcar com custos de passagem e hospedagem.
Matheus, então, resolveu fazer uma vaquinha virtual. "Eu estava perto de viajar e ainda não tinha conseguido reunir a quantia necessária. Estava quase desistindo", diz.
Foi aí que recebeu outra boa notícia: o Banco Santander viu a história de Matheus nas redes sociais e resolveu patrocinar o jovem. Com isso, ele se tornou o primeiro atleta de e-sports apoiado pelo banco.
“Matheus é um exemplo de jovem que correu atrás do seu sonho e enxergou no universo gamer uma forma de transformar sua vida para melhor. O intuito do nosso apoio é facilitar sua experiência em se tornar uma pessoa, um profissional e um jogador melhor”, diz Danielle Sardenberg, superintendente executiva de Marketing do Santander.
Brincadeira de gente grande
Por trás de histórias como a de Matheus está o fato de que o universo do videogame há muito deixou de ser apenas brincadeira de criança. De olho no gigantesco mercado de esportes eletrônicos, que só em 2021 movimentou US$ 1 bilhão, universidades e escolas americanas estão criando suas próprias equipes de gamers.
Para se ter uma ideia, desde 2018, quando a Federação Nacional Federação Nacional das Associações Estaduais de Ensino Médio (NFHS, na sigla em inglês) reconheceu o e-sports como esporte oficial, mais de 8.600 escolas de ensino médio americanas criaram ligas de videogame.
Ao todo, quase 200 universidades americanas incorporaram as competições de videogame no currículo acadêmico e US$ 16 milhões em bolsas foram concedidas para os atletas que se destacam na modalidade, assim como já acontece com outras categorias como atletismo e futebol americano.
"O universo gamer está em rápido crescimento e se apresenta cada vez mais como uma opção profissional rentável e não apenas um ‘hobby’", diz Nicolás Vergara, superintendente executivo do Santander Universidades no Brasil que, recentemente, também lançou um programa que vai conceder até 30 mil bolsas para os interessados em ingressar na área.
Com informações da EXAME