O surgimento de perfis nas redes sociais e seções em diversos veículos jornalísticos dedicados exclusivamente às boas notícias apontam que está em curso uma nova maneira de se consumir informação. Se, por acaso, você já se pegou procurando por notícias boas na internet durante a quarentena, saiba que não é o único. As informações são do R7.
Segundo dados do Google Trends, entre os dias 16 de fevereiro e 18 de abril, foi registrado um aumento de 100% na busca pela a combinação dos termos “notícias boas” e “coronavírus”.
A pandemia do novo coronavírus tem deixado a web cada vez mais "faminta" por doses diárias de otimismo. É a “dieta midiática”, termo usado pela estrategista digital e doutora em comunicação Issaaf Karhawi para explicar o novo comportamento. “Estamos em um momento sensível e é compreensível que sejam adotadas leituras de escapismo para tentar lidar com tudo isso", diz.
“O aparecimento dessas buscas e a forma como a gente lida com a pandemia mostram como construímos nossa autonomia. Estamos diante de um sujeito mais ativo midiaticamente, que tem maior capacidade de burlar o noticiário e construir outro discurso sobre o que está acontecendo”, aponta a pesquisadora, que enxerga como positivo o comportamento do usuário de controlar a quantidade e qualidade de informações que chegam até ele.
De acordo com a psicóloga Triana Portal, a atitude pode ser vista como uma forma de enfrentamento psicológico da quarentena: “Com quase 2 meses de foco na pandemia, percebemos que os tratamentos e manejo da doença vão mudando a todo tempo. A ansiedade e o medo são comuns a todos e desesperar-se só leva ao estresse, que por sua vez debilita o sistema imunológico.”
Nem tudo são flores
Embora vejam a nova tendência de comportamento com otimismo, ambas as especialistas alertam que a postura também pode ser alienadora se não for equilibrada com algumas doses de realidade.
"Essas são distorções cognitivas comuns em momentos de crise”, aponta a psicóloga. Já a pesquisadora em comunicação chama atenção para a formação de bolhas de preferência nas redes.
“Se eu busco notícias boas, as redes sociais me devolvem mais do mesmo conteúdo, o que também é muito grave e coloca em xeque a nossa relação com a diferença e o pensamento crítico”, ressalta Issaaf. De acordo com ela, a responsabilidade pelo volume de consumo midiático não está somente no usuário comum das redes. "Ainda precisamos da mídia tradicional e até de influenciadores auxiliando nesse processo", explica.