?Chegam os filhos, vão-se os amigos.? Já ouviu essa frase antes? Calma, não se assuste. Ela nem sempre é verdadeira. E mais: pode acontecer justamente o contrário. Chegam os filhos e, com eles, novos amigos. Pelo menos foi o que aconteceu comigo. Tive meu primeiro filho, o Tomás, há cinco anos. Na época, contava nos dedos de uma mão os amigos que tinham crianças. Eram poucos, raros. Meus fins de semana eram típicos de um casal sem filhos: nada muito programado, com passeios sem hora para começar e muito menos para terminar. Até o nascimento do Tom.
A chegada dele colocou ordem nos horários da casa ? e dos programas. No início, tinha pouca vontade de sair. Como meu marido, Luís Fernando, é um grande cozinheiro, minha casa se tornou ponto de encontro de almoços e jantares com os amigos. Já que não íamos até eles, eles vinham até nós. E a gente se divertia muito!
Depois de uns meses, voltamos a encontrar os amigos fora de casa. Quando começavam a rodar os e-mails de ?vamos combinar de...?, eu dizia: marquem, não se preocupem, se conseguir me organizar, eu vou... Tinha medo de tumultuar os programas. Mas nada disso aconteceu. Enquanto eu me preocupava em não atrapalhar, eles queriam estar com a gente, mesmo se fosse para jantar mais cedo ou fazer um passeio ao ar livre.
Aos poucos fui me animando e passei a levar o Tom para cima e para baixo. Contava com a ajuda de inúmeros braços para segurá-lo, trocar fraldas, brincar. Quando ele cansava, mamava e desmaiava no colo de alguém. À noite, levávamos o Tom junto. Graças ao sono de pedra, ele não acordava: saía dormindo e assim retornava para o berço. Nossa vida de restaurantes, festas (as mais tranquilas, claro) e casa de amigos voltava (quase) ao normal.
Meus pais ficaram com o Tom na primeira vez que saímos sem bebê a tiracolo. Eles iriam receber um casal para jantar em casa e cuidariam do neto, com 7 meses, para que a gente pudesse ir à festa de uma amiga. O Tom mamou e dormiu. As instruções eram simples: eles não precisariam fazer nada. O Tom não acordava à noite e não daria nenhum trabalho. Fácil assim. Fomos à festa, passamos todo o tempo falando dele e, na volta, soubemos que o Tom havia acabado de dormir. Brincando, meus pais nos acusaram de ter feito propaganda enganosa. O Tom acordou, esperneou por causa de uma cólica, acabou com o jantar dos meus pais e só dormiu ao ficar exausto. Até hoje continuo jurando que ele nunca tinha feito isso!
À medida que o Tom foi crescendo, passei a escolher melhor os lugares para levá-lo. Ele corria e fazia aquela bagunça comum às crianças pequenas. Casas de amigos com filhos ou sem, mas que gostavam de crianças (ou ao menos tentavam entendê-las) continuaram na lista. Quanto aos amigos não tão compreensivos (sim, eles existem), passei a encontrá-los sem crianças.
Já percebi que essa estratégia não é só minha. Ao conversar com amigos que são pais, percebo que eles fazem o mesmo, ainda que inconscientemente. Alguns, é verdade, sofrem mais ao deixar as crianças para um jantar só de adultos. Outros, que moram longe da família, têm mais trabalho para montar uma infra-estrutura que os permita sair sozinhos. Mas continuo acreditando que é preciso se esforçar para manter as velhas amizades.