“Se a humanidade quer se tornar uma espécie multiplanetária, nós também precisamos aprender a nos reproduzir no espaço”. É essa a filosofia de Kees Mulder, CEO de uma empresa holandesa recém-fundada chamada SpaceLife Origins que quer fazer com que uma mulher dê à luz um bebê saudável na órbita da Terra, a 400 quilômetros de altitude, em 2024.
Antes desse pequeno passo para um recém-nascido (que, caso dê certo, sem dúvida será um grande passo para a humanidade), a empresa organizará dois projetos preliminares. O primeiro, com execução prevista para 2020, visa colocar em órbita pequenas arcas-satélite redondas, com espermatozoides e óvulos congelados.
Quem puder pagar pelo serviço — preços não foram divulgados — terá o prazer de proteger seus gametas de qualquer desgraça que ocorra aqui na superfície. 25% das vagas serão reservadas a pessoas de etnias variadas que não precisarão desembolsar nenhum dólar: a ideia é que a arca contenha uma amostra razoável da variabilidade genética da Terra, caso um dia seja necessário reerguer a humanidade das cinzas.
De desgraças, veja bem, Mulder entende: o site oficial da SpaceLife Origins cita previsões apocalípticas ao melhor estilo Stephen Hawking — como a de que a civilização pode sucumbir à inteligência artificial, ao contato com ETs inteligentes, à mudança climática ou a tudo isso junto — para convencer potenciais clientes e a opinião pública de que é uma boa aprendermos a fazer (e depois ter) bebês no espaço. O que não deixa de ser verdade: hoje, viabilizar viagens interplanetárias tripuladas é o objetivo declarado da mais inovadora empresa de tecnologia aeroespacial do mundo, a SpaceX, de Elon Musk.
Caso você esteja se perguntando qual é o sentido de armazenar suas células reprodutivas na imensidão do cosmos, e não em qualquer lugar mais fácil de acessar em caso de apocalipse, a resposta está no segundo projeto, previsto para 2021: usá-las para tentar a primeira inseminação artificial cósmica. Dominar essa tecnologia pode ser um passo importante para uma hipotética colonização de Marte. A empresa garante que vai dispor da tecnologia necessária para recolher as amostras das arcas não-tripuladas. Após a fertilização, os embriões passarão 4 dias se desenvolvendo no espaço. Depois, voltarão à Terra e serão implantados em suas mães. Tudo ocorrerá em incubadoras seladas e protegidas da radiação, que simulam a gravidade com que estamos acostumados.
Caso esses dois passos deem certo, em 2024 uma mulher grávida (a condição é já ter tido dois bebês saudáveis em Terra firme) vai decolar com uma equipe de médicos e parir em órbita. Em 36 horas estará de volta com o bebê em mãos. Tudo ocorrerá em um grau de segurança, nas palavras da empresa, “compatível com o de uma maternidade ocidental”. Mulder promete que a missão será projetada de maneira que a gestante não seja submetida a uma força G perigosa para o bebê, mas não menciona a física por trás do feito. É pagar para ver (literalmente).