A máscara já virou parte do nosso vestuário pós-covid há meses, mas a indústria têxtil já está na próxima fase: roupas que prometem nos proteger de diversas bactérias e até o novo coronavírus. Esses novos materiais também já servem para revestir veículos e locais públicos; há testes do tipo com os ônibus do transporte público de São Paulo.
No Brasil, marcas como a Oriba, Malwee, Insider e Lupo estão entre as primeiras que disponibilizaram produtos com a tecnologia. São duas formas de fabricar o produto antiviral: ou o tratamento é feito no tecido ou na peça pronta, com a inserção de um aditivo com nanopartículas de prata e veículo biológico. A outra opção é usar um aditivo com características similares no momento da fabricação do tecido.
“Existem dois tipos de vírus, os envelopados, envoltos por uma camada de gordura, e os não envelopados. Ambos são desativados pelo aditivo antiviral utilizado na produção de nossas peças. As duas formas de desativação desses vírus são pela quebra da camada bilipídica que envolve o vírus envelopado (como o Coronavírus) e pela inibição das ligações dos vírus não envelopados”, explica Rodrigo Ootani, sócio-fundador da Oriba.
A tecnologia foi testada com eficácia comprovada em tecidos de algodão, poliéster e poliamida. No caso da Oriba, materiais como sarja e lona de algodão reciclado estão em fase de testes. A ideia da marca é aplicar o produto em peças usadas com frequência, mas que não devem ser lavadas a casa uso, como blusas de frio, calças e bolsas.
“A tecnologia não é um repelente, mas, sim, um agente que elimina o vírus após o contato. Dessa maneira as pessoas podem se sentir mais seguras ao chegar em casa e não terem que necessariamente trocar de roupa antes de entrar ou lavá-las sempre que usarem, economizando água e energia”, defende Ootani.
Por outro lado, os profissionais da saúde levantam uma série de questionamentos sobre a real necessidade da tecnologia em roupas comuns. A ciência ainda não apresentou evidências reais sobre a prevalência do novo coronavírus em tecidos e vale lembrar que a transmissão também tem a ver com a carga viral em cada superfície.
Ao Metrópoles, a infectologista Ana Helena Germoglio, que atualmente trabalha com os pacientes da Covid-19 no Hospital Águas Claras e no Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), lembrou que não há recomendação para o uso desse tipo de produto por órgãos como Anvisa, CDC e OMS.
“Independentemente de funcionar ou não, devemos lembrar que a maior contaminação do coronavírus se dá por inalação de gotículas ou por contato de mãos contaminadas à face. Alguns tecidos têm, sim, a capacidade de ser hidrorepelentes ou antivirais, entretanto, seu uso precisa ser consciente, pois requerem controle sobre o número de lavagens que suportam e necessitam de validação laboratorial. Outros métodos de prevenção são mais eficazes, acessíveis e baratos”, afirma.
Para cuidar desses tecidos especificamente, Ootani sugere lavar em temperatura ambiente, ou seja, até 30°C, não usar alvejante e deixar secar em varal, preferencialmente na sombra. “Seguindo essas orientações, já comprovamos por testes feitos em laboratório que após 50 lavagens, o antiviral ainda tem 99% de eficácia”, argumenta.