Um aumento de matéria vindo das profundezas da crosta terrestre pode estar empurrando os continentes da América do Norte e do Sul para mais longe da Europa e da África, indica uma nova pesquisa liderada por cientistas das Universidades de Southampton e de Oxford, ambas no Reino Unido.
Segundo o estudo, publicado na quarta-feira (27) na Nature, as placas tectônicas fixadas nas Américas estão se distanciando das fixadas na Europa e na África quatro centímetros por ano. Entre esses continentes, por sua vez, está a Cadeia do Atlântico Médio, um local onde novas placas são formadas, além de uma linha divisória entre elas que se move para o oeste e para o leste.
Imagem mostra onde os sismólogos ficaram para estudarem o fenômeno geológico está afastando as Américas da África e da Europa (Foto: University of Southampton)
O que se sabe é que esse processo é normalmente impulsionado por forças da gravidade distantes, conforme as partes mais densas das placas afundam de volta na Terra. No entanto, a força motriz por trás da separação das placas atlânticas permanece um mistério porque o oceano Atlântico não é cercado por placas densas e profundas.
Agora, a equipe de sismólogos encontrou evidências de uma ressurgência no manto (o material entre a crosta terrestre e seu núcleo) a mais de 600 quilômetros abaixo da cordilheira do Atlântico Médio. O fenômeno, como explicam os pesquisadores, pode estar empurrando as placas de baixo, fazendo com que os continentes se afastem ainda mais.
A descoberta é particularmente importante porque acredita-se que as ressurgências abaixo das cristas se originem de profundidades muito mais rasas, de cerca de 60 km. As descobertas, portanto, fornecem uma maior compreensão das placas tectônicas que causam muitos desastres naturais em todo o mundo, incluindo terremotos, tsunamis e erupções vulcânicas.
Para a descoberta, os estudiosos realizaram observações no Oceano Atlântico que permitiu à equipe obter imagens de variações na estrutura do manto da Terra perto de profundidades de 410 km e 660 km. "Essa foi uma missão memorável que nos levou um total de 10 semanas no mar no meio do Oceano Atlântico. Os resultados incríveis lançam uma nova luz em nossa compreensão de como o interior da Terra está conectado com as placas tectônicas, com observações nunca vistas antes", afirmou Matthew Agius, líder da pesquisa, em comunicado.
Além de ajudar os cientistas a desenvolver melhores modelos e sistemas de alerta para desastres naturais, as placas tectônicas também têm um impacto sobre os níveis do mar e, portanto, afetam as estimativas das mudanças climáticas em escalas de tempo geológicas.
"Isso foi completamente inesperado. Tem amplas implicações para nossa compreensão da evolução e habitabilidade da Terra. Também demonstra como é crucial reunir novos dados dos oceanos. Há muito mais para explorar", comentou a coautora Kate Rychert.