Debaixo de um céu sem nuvens em uma praça ampla de cimento e concreto, havia corpos nus. Sem roupa e sem pudor, 115 homens e mulheres compuseram a cenografia da Praça do Museu da República, no coração de Brasília, na manhã deste sábado (2).
A intervenção no espaço urbano foi registrada pelo olhar do fotógrafo Kazuo Okubo, que carrega 43 anos de experiência por trás das lentes.
Reconhecido pelo trabalho sensível com a nudez, ele ficou responsável por captar o momento histórico – esta foi a maior foto de nu artístico do Centro-Oeste em número de pessoas, segundo os organizadores.
Do alto de um guindaste a 20 metros de altura, o fotógrafo, munido de um alto falante, coordenou os participantes para formar desenhos. Um drone também registrou a intervenção.
A “fotona”, assim chamada pelos idealizadores, ocorreu a céu aberto na região de maior concentração de ternos e gravatas de Brasília como forma de protesto à “caretice e ao conservadorismo da cidade” e para “reafirmar os corpos enquanto ferramenta de manifestação artística, cultural e política”.
Segundo o idealizador da foto-protesto, Diego Ponce de Leon, a ideia de fazer um nu coletivo e registrar o momento surgiu da vontade de "contrariar o panorama retrógrado e careta da cidade opressora que não abarca a arte".
'Fotona'
Já do lado de fora, em frente à rampa do museu, o fotógrafo Kazuo Okubo posicionou os participantes em formato de mandala cujo centro era o artista Maikon K.
Em seguida, todos se deitaram na rampa, de barriga para cima. Com canetas, escreveram frases no corpo e se organizaram em retângulos, como um quebra-cabeça.
A ação deste sábado foi organizada em parceria com o festival internacional de teatro Cena Contemporânea, que convidou o artista para voltar a Brasília e repetir a performance exatamente como havia tentado fazer, em praça pública. A apresentação, “DNA de Dan”, será realizada às 17h.
Para evitar que o nu coletivo fosse impedido, mais uma vez, por policiais (ou mesmo por pessoas comuns), os organizadores conseguiram autorização da Secretaria de Segurança, que montou um alambrado para demarcar a área onde a intervenção ocorreu.
Preparação
Antes de abandonar as roupas, os participantes da “fotona” assistiram a uma fala do artista paranaense, que comentou a forma como a nudez é encarada socialmente. "Fico pensando por que esse corpo nu ainda assusta tanta gente. Cada um quer um pedaço dele, quer legislar sobre ele. A política, a igreja, a família, a escola."
Em seguida, dois participantes se manifestaram sobre o tema:
"Um simples ato de nudez é obsceno, mas a ejaculação em uma mulher não constrange",
Quem participou?