A sex coach Demetra Nyx, de 26 anos, começou a menstruar aos 12. Durante a adolescência, ela via sua menstruação como algo repugnante e embaraçoso. Por conta disso, passou a escondê-la de seus namorados e, muita vezes, se preocupava com as manchas de vazamentos que poderiam aparecer durante o período.
Aos 20, a jovem implantou um DIU de cobre para fins contraceptivos. Ela começou a enfrentar fortes dores que a deixaram na cama nos dois primeiros dias da menstruação . Um ano depois, ela removeu o dispositivo intrauterino e passou a usar preservativos enquanto ovulava.
Foi nesse momento em que Demetra passou a se sentir mais em sintonia com seu corpo e ver seu período menstrual como uma coisa bela e poderosa. A partir disso, com um coletor menstrual, ela passou a colher e explorar seus fluídos. Logo começou a espalhar o sangue em sua pele - incluindo o rosto - e compartilhar as fotos em seu Instagram.
“Nossa sociedade nos ensina que o sangue menstrual é sujo e inconveniente. Anúncios sobre produtos para esse fim falam em cheirar ‘bem’ ou nos tornar mais limpas, indicando que as funções naturais de nossos corpos são grosseiras. As mulheres que se queixam de cólicas são vistas, às vezes até por outras mulheres, como fracas e patéticas”, diz ao portal Metro .
A sex coach alega que o público feminino tem muita vergonha do corpo – e que não percebe isso até explorá-lo de forma intencional. “Nosso período menstrual é uma época incrivelmente mágica que detém imenso poder. E a sociedade nos mantém longe disso o tanto quanto possível”, afirma.
Demetra relata que compartilhar as imagens foi apenas um impulso. “Eu estava criando uma série para ajudar mulheres a se conectarem com seu ciclo menstrual . Achei que seria divertido. Também podemos fazer coisas como pintar ou derramar na terra. Eu acredito que é uma coisa linda ficar confortável em tocar seu próprio sangue”, expõe.
A atitude dela, no entanto, não foi bem vista por todos. Enquanto uns a agradecem por quebrar os tabus que rondam a menstruação, outros fazem críticas. Apesar disso, ela afirma que o apoio positivo é maior. “Um comentário que recebo muito é: ‘ah, você devia passar fezes em todo o seu rosto. É a mesma coisa.’ Também ouço de amigos e familiares que isso é estranho e repugnante. Algumas pessoas não falam comigo por causa disso”, declara.
Entretanto, Demetra não se incomoda com as opiniões negativas. Ela vê isso como mais uma prova da necessidade de ter conversas abertas em torno dos corpos humanos. “Isso me encoraja a continuar postando. Se não estivesse tendo o impacto necessário, as pessoas não ficariam tão incomodadas com isso”, alega.
Por outro lado, parte do seu público feminino acaba se inspirando com suas publicações. “Algo que recebo muito: ‘Eu estava intrigada com seu os seus posts no começo, mas acabei me inspirando e agora também amo meu ciclo.’ Por mensagem privada, as mulheres também enviam fotos com sangue em si mesmas. Elas não se sentem à vontade para compartilhá-las publicamente”, ressalta.
Demetria ainda ressalta que “brincar” com seu sangue a aproximou de si mesma. “Para mim, ele se tornou divertido, bonito e poderoso. Surpreende-me quão desconfortáveis somos ao compartilhar nosso eu pleno com o mundo – e quero ser uma mensageira para isso. Se podemos amar o não amável, toda a vida se abre para nós”, garante.
Para quem quiser começar a prática durante o ciclo menstrual, ela faz a recomendação. “Pode começar apenas acompanhando seu ciclo ou usando um coletor menstrual para recolher seu sangue. Ninguém tem que colocá-lo no rosto, embora pareça bastante libertador para as mulheres que o fizeram”, alega.
Demetra não é a única a ganhar destaque na imprensa internacional por seus rituais com sangue menstrual. Quem também passa pela técnica é a sueca Maxinne Björk. Nas redes sociais, ela costuma postar sobre as próprias experiências de autodescoberta e, além da ioga e do contato com a natureza na cidade em que vive, em Bali, na Indonésia, também compartilha detalhes do seu ritual com sangue menstrual.
Na rede social, Maxinne detalha como surgiu a ideia de usar o fluído do ciclo menstrual. “Após um dia muito produtivo e divertido, eu cheguei em casa muito emocional e com muitos pensamentos que precisei deixar de lado porque não conseguiria lidar agora. Sentei, respirei fundo e, de repente, senti uma vontade imensa de me cobrir com meus fluídos naturais enquanto mulher. Então, sem pensar no porquê, eu fiz isso", escreve.
Para se expressar, a influenciadora conta que cobriu ombros, seios e rosto e, depois, rolou pelada na grama do jardim que tem em casa. "Cheirei a terra e comecei a chorar intensamente. De felicidade e tristeza. Depois de chorar, comecei a rir", diz. Segundo ela, que relata estar passando por problemas familiares, a vida se resume à aceitação e amor — e é exatamente isso que quis mostrar com o "ritual" feito no período menstrual.
Reprodução/Instagram/yazmina.jade Yazmina não gostava da menstruação. Depois, percebeu que usar o sangue menstrual ajudou a se conectar com seu corpo
Outra mulher que se junta ao grupo que faz o processo durante o período menstrual é Yazmina Jades, coach de empoderamento feminino Yazmina Jades. Em 2018, ela publicou uma imagem, em seu perfil no Instagram, com o rosto pintado de sangue e, por lá, ressalta que até os 20 anos não gostava de quando estava menstruada.
"Não havia instruções sobre o que acontece quando você sangra e como me nutrir ou cuidar de mim mesma durante este tempo sagrado do mês. Levei anos para perceber que o sangramento é um ritual sagrado, para cada mulher se descobrir, se soltar, criar e usar essa manifestação poderosa para honrar o poder do ventre e da mãe terra", escreve na legenda.
Na visão de Yazmina, usar o sangue da menstruação para cobrir o corpo é uma forma de entender esse período e se conectar com ele, se amar e, ainda, se respeitar. “Foi uma jornada completa”, finaliza.