Dificilmente você verá uma noiva tão triste, deprimida e desconfortável no próprio casamento. As imagens da cerimônia para a união do professor Saidsho Asrorov, de 23 anos, com a enfermeira Marjona Hudoidodova, de 22, são sombrias. Marjona mal levanta a cabeça e não faz questão de esboçar entusiasmo. Evita ficar de frente para o noivo ou trocar olhares com ele. A noiva manteve o semblante aborrecido durante todo o casamento, enquanto seu par estava feliz da vida e até emocionado. Os convidados se divertiram. Mas a expressão desolada de Marjona dizia muito sobre a ocasião.
Trata-se de um casório arranjado, que aconteceu na vida de Gulzor, na província de Khatlon, sudoeste do Tajiquistão, país da Ásia Central. Os noivos foram apresentados um ao outro no dia da cerimônia, em 27 de agosto último. Antes, ele só tinha conversado com os pais de Marjora. A festa foi bancada pelo governo do país, em uma história bizarra e chocante.
O "padrinho" e idealizador do casamento foi ninguém menos que o presidente, Emomali Rahmon. Ditador desde 1992, ele manda prender e soltar no Tajiquistão. No último dia 16 de agosto, durante visita à província de Khatlon, sudoeste do país, o presidente ficou especialmente impressionado com a participação do então solteiro Saidshov num evento. Sujeito excêntrico, Rahmon prometeu um casamento ao rapaz, com a "mulher que quiser". Saidshov escolheu Marjona, sem conhecê-la. Nem ela sabia de nada.
Naquele 16 de agosto, o professor tinha feito um discurso todo meloso defendendo o ditador, o que comoveu Rahmon. Saidsho também leu um poema feito para o presidente. Em retribuição, o mandatário do país foi conversar com o professor. Perguntou se ele era casado. O professor disse que não tinha grana para casar — já que, no Tajiquistão, é comum que homens ofereçam dinheiro aos sogros para trocar alianças com a noiva.