Você engrenou na corrida, caprichou na alimentação e o resultado apareceu: a avaliação física mostra que gordura foi eliminada e você está no caminho certo. Boa, parabéns! Mas uma coisa que poucos se perguntam é: como essa gordura saiu do seu corpo? Ninguém a quer de volta, mas onde ela foi parar?
A resposta mais comum é que ela se transformou em energia ou calor. E, sim, a gordura é uma fonte energética que produz ambos. No entanto, energia e calor não são os únicos produtos da queima do “bacon”; o uso dela também tem como resultado gás carbônico e água. Assim, quando você utiliza e elimina esse excesso de tecido adiposo, ele deixa seu corpo em forma de matéria. Os pulmões são os maiores responsáveis por mandar pelos ares o que sobrou da gordura queimada. Literalmente. Ou seja, você exala a maior parte da gordura que queimou.
Segundo estudo conduzido pelo cientista Ruben Meerman, pesquisador da Escola de Ciências Biomoleculares da Universidade de New South Wales, na Austrália, 84% dessa gordura é expelida na respiração e os 16% restantes saem em forma líquida (suor, urina, fezes, lágrimas e outros fluidos corporais). Meerman, inclusive, fez um teste com 150 profissionais de saúde perguntando para onde vai a gordura eliminada pelo organismo. Participaram da enquete de múltipla escolha médicos, preparadores físicos e nutricionistas. Segundo o pesquisador, apenas três acertaram a resposta. Os demais se dividiram nas opções que diziam que a gordura se transforma em energia e calor ou, em menor número, que ela vira músculo (o que é impossível). No primeiro caso, eles desprezaram o que sobrava da gordura após a produção de energia. O que sustenta esse processo todo é o princípio básico da conservação da matéria: ela não aparece ou desaparece como num passe de mágica, mas muda de estado depois de diversas reações químicas. Com a gordura não é diferente.
Como a gordura vira gás e água?
Para entender como essa transformação acontece, é preciso voltar um pouco no processo. Nosso corpo precisa de energia o tempo todo. Em repouso, a demanda é menor; quando fazemos exercícios, o consumo de oxigênio é maior e, por isso, precisamos de mais energia, disponível em três fontes: carboidrato, proteína e gordura.
Diferentemente do carboidrato, a gordura não fica “pronta” para ser usada. Ela é estocada pelo organismo em células adiposas (células de gordura), compostas pelos triglicérides, que contêm hidrogênio, oxigênio e carbono. O corpo, então, precisa “quebrar” essas células adiposas por meio de reações químicas. Essas reações fazem com que os triglicérides deem origem ao ATP, o combustível que o corpo está pedindo. A matéria, por sua vez, é transformada: as moléculas de hidrogênio, oxigênio e carbono resultam no dióxido de carbono e na água (H2O) que serão eliminados pelo corpo. O dióxido de carbono (gás carbônico) é levado pelo sangue até os pulmões e exalado. A água, por sua vez, deixa o organismo pelas formas já descritas (urina, suor, fezes…).
Como usá-la?
Como fazer o corpo buscar energia na gordura e não no carboidrato ou na proteína? Segundo Diego Leite de Barros, diretor da DLB Assessoria Esportiva e fisiologista do esporte do HCor, em São Paulo (SP), o tipo de exercício é decisivo para o organismo entender aonde deve buscar energia. “Para queimá-la, precisamos expor nosso corpo a uma atividade constante e de intensidade moderada, que é o exercício aeróbio. Isso é uma regra. Já o exercício de alta intensidade promove uma queima calórica pós-treino significativa, mas durante a atividade ele não consome tecido adiposo e, sim, carboidrato, que está mais pronto para uso”, explica. Isso se deve ao fato de a quebra da célula gordurosa ser mais lenta.
“A utilização do conteúdo da célula de gordura é um processo mais demorado. É preciso mais tempo para tirar energia dessa célula. E isso só uma atividade mais longa permite”, argumenta Barros.