Pesquisadores cearenses oferecem doação de pele de tilápia ao Líbano

O material pode ser utilizado no tratamento de queimaduras. Equipe do projeto tenta sensibilizar autoridades do País para enviar o material para Beirute

Pele de tilápia | Divulgação
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Pesquisadores do Projeto Pele de Tilápia, da Universidade Federal do Ceará (UFC), estão realizando uma campanha para sensibilizar as autoridades brasileiras a facilitar o envio do estoque completo de 40 mil cm² de pele de tilápia para ajudar as vítimas da explosão em Beirute, capital do Líbano, que deixou cerca de 5.000 feridos e mais de 150 mortos na terça-feira, 4 de agosto.

O trabalho é realizado no Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM), que tem coordenação de Odorico de Moraes. Para poder conseguir encaminhar o estoque de pele de tilápia do Brasil para o Líbano, é preciso que haja um consenso entre as autoridades dos dois países, conforme explica Felipe Rocha, biólogo e pesquisador do projeto. "Como é um material de pesquisa, os ministérios da Saúde dos dois países precisam se contactarem e autorizarem o envio e o uso. Mas a pesquisa já está bem avançada e os resultados de efetividade de efeito já são comprovados e publicado em artigos nacionais e internacionais", disse.

Pele de tilápia ajuda vítima de quimadura (Foto: divulgação)

Esta não é a primeira vez que os pesquisadores tentam enviar o produto para o exterior. De acordo com o também pesquisador Carlos Roberto Paier, em 2019, a equipe tentou viabilizar o envio da pele da tilápia para ajudar vítimas de um acidente ocorrido na Colômbia, mas houve restrições sanitárias daquele país, o que acabou inviabilizando a exportação.

A pele da tilápia é um produto experimental, ainda não autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), motivo pelo qual o envio do material ainda é burocrático. "É preciso ter uma empresa interessada em fazer a transferência da tecnologia. Se a empresa adquirir essa tecnologia e passar a produzir a pele da tilápia industrialmente, o produto poderá ser comercializado e passará a ser fiscalizado pela Anvisa", esclareceu.

Tratamento já é utilizado em algumas regiões do Brasil (Foto: divulgação)

O tratamento de queimados já é realizado com o uso da pele humana, mas o estoque baixo e as complicações impostas pela pandemia da Covid-19, torna o processo bem mais caro, de acordo com Paier. "Para se ter uma ideia, no Brasil só existem dois bancos de pele humana, em São Paulo e no Rio Grande do Sul", conclui.

                                         

Conheça o método criado no Brasil

Além da sua utilização na culinária, a tilápia tem um potencial único no campo da medicina, especificamente para o tratamento de queimaduras de pele de segundo e terceiro graus. O método, desenvolvido primeiramente aqui no Brasil, por médicos no Ceará é pioneiro no mundo.

“No Brasil, para tratar queimaduras, usamos normalmente um creme com efeito de 24 horas. Todos os dias, é preciso trocar o curativo, tirar o creme, enxaguar a área queimada, colocar o creme novamente e fazer um novo curativo”, explica Edmar Maciel, cirurgião plástico e presidente do Instituto de Apoio ao Queimado (IAQ), que desenvolveu o procedimento. “Isso acaba sendo muito trabalhoso, custoso e doloroso”, acrescenta ele.

O hospital Instituto Doutor José Frota (IJF), em Fortaleza, já utiliza o método de tratamento de queimadura com pele de peixe em 56 pacientes. O tratamento com o “curativo biológico” é aplicado em pessoas desde 2016, no Núcleo de Queimados da unidade.

O tratamento é desenvolvido há dois anos no Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM) da Universidade Federal do Ceará (UFC), com participação de pesquisadores do Ceará, Pernambuco e Goiás. De acordo com os pesquisadores, a curativo com base em animais aquáticos é inédito no mundo.

Os Benefícios do uso da Pele de Tilápia para tratar Queimaduras

O método oferece inúmeros benefícios em relação a outros tratamentos. Como permanece sobre a queimadura durante vários dias, em função da gravidade do ferimento, a pele do peixe evita as dores que resultam na necessidade da troca do curativo.

Em outros países, é usada a pele de outros animais, principalmente de porco. Mas uma grande vantagem de usar a tilápia é que “sabemos que esses peixes tem menos possibilidades de transmitir doenças do que os terrestres”, assinala Maciel.

Por outro lado, tem uma maior quantidade de uma proteína chamada colágeno tipo 1, uma melhor resistência (similar à pele humana) e um grau adequado de umidade que ajuda na cicatrização. Por sua boa aderência, a pele evita a contaminação externa e limita a perda de proteína e plasma, o que pode gerar desidratação e, em última instância, causar a morte do paciente.

Outros usos em estudo

O trabalho dos pesquisadores foi premiado várias vezes no Brasil. Agora, a equipe analisa a possibilidade de usar a pele de tilápia em outras áreas da medicina, como, por exemplo, no campo da ginecologia, na atresia vaginal ou para uso em endoscopia. Também será feito um estudo comparativo para avaliar as diferenças no tratamento das queimaduras entre a pele do porco, do cachorro, humana e da tilápia.

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