O Deserto do Saara, segundo uma rápida busca na Wikipédia, é o deserto mais quente do mundo e também o terceiro maior do planeta Terra. Durante o dia, a temperatura pode chegar em até 50 graus Celsius, e durante a noite cair em até -5 ºC, contando com pouca água e vegetação e raramente tem a presença de chuvas.
Se você acha que com essas características o Deserto do Saara não é muito fácil de ser habitado, vai se surpreender em saber da nova descoberta de cientistas: há 100 milhões de anos, a situação era bem pior. Um novo estudo sobre a formação rochosa do sudeste de Marrocos, no período Cretáceo, concluiu que a região era a mais perigosa da história da Terra, onde qualquer humano que viajasse para lá não sobreviveria por muito tempo.
O estudo foi realizado pela Universidade de Portsmouth, no Reino Unido, e liderado por Nizar Ibrahim. O pesquisador contou que sua equipe fez o mapeamento do Deserto do Saara, que antes era conhecido como leitos de Kem Kem, descobrindo que se tratava de um lugar bem diferente do que podemos ver hoje. O objetivo da pesquisa é propor a recristalização dos locais com duas formações distintas: a Formação Gara Sbaa e a Formação Douira, formando juntas o grupo Kem Kem.
Ibrahim conta que, há 100 milhões de anos, a área foi atravessada por um gigante sistema fluvial e abrigava terópodes enormes, como o dinossauro carcarodontossauro. Com mais de oito metros de comprimento, o carnívoro contava com dentes serrilhados que mediam até oito polegadas, fixas em uma poderosa e grande mandíbula. Também habitava na região o deltadromeu, um dinossauro corredor, além de diversos pterossauros, dinossauros voadores. Os peixes da região que hoje é o Saara eram os pulmonados e os celacantos pré-históricos, que podiam ser entre quatro e cinco vezes maior que os existentes hoje, além dos peixes-serra gigantes onchopristis.
Os pesquisadores dizem ainda que uma das características mais curiosas da região é a existência de espécies tanto continentais quanto marinhas, com uma quantidade inesperada de terópodes. Isso significa que os fósseis encontrados por lá podem vir de camadas de ambientes de dois períodos diferentes.
A região de Kem Kem vem sendo explorada para a coleta de fósseis desde a década de 1940. "Este é o trabalho mais abrangente sobre fósseis de vertebrados do Saara em quase um século, desde que o famoso paleontólogo alemão Ernst Freiherr Stromer von Reichenbach publicou o seu último trabalho mais importante, em 1936", conta David Martill, co-autor da pesquisa.