"Há pessoas que, diariamente, fantasiam sobre derrubar essas placas", diz Tommi Rajala, diretor-executivo há 41 anos da Associação Pessimista de Puolanka, o grupo por trás da sinalização. No entanto, Puolanka transformou o pessimismo em uma marca, sediando um festival de pessimismo, um musical e até uma loja online — tudo com uma dose humorística. Os vídeos que mostram Puolanka em toda a sua glória pessimista têm centenas de milhares de visualizações.
O prefeito Harri Peltola diz que, quando conta a outros finlandeses de onde vem, todos mencionam o pessimismo. "Muitas pessoas hoje em dia, ao ouvir a palavra 'pessimista', pensam em Puolanka", confirma Rajala. Afinal, por que uma pequena cidade rural remota e despretensiosa recorreu à adoção de uma identidade tão triste? E o que significa ser o centro de pessimismo?
"Números sombrios"
A identidade sombria de Puolanka surgiu em meio a um cenário de mudanças demográficas e uma cobertura negativa na imprensa nacional.
Como muitas nações desenvolvidas, a taxa de natalidade da Finlândia está caindo e sua população está envelhecendo, com uma perspectiva mais sombria do que a de vizinhos nórdicos como a Suécia. O relatório mais recente da Statistics Finland prevê que a população começará a diminuir em 2031, aumentando a preocupação com o sistema de bem-estar social e de saúde.
Os mais atingidos são municípios como Puolanka, um local que Rajala descreve como "o município mais remoto da província mais remota da Finlândia". A cidade tem cerca de 2.600 habitantes, mais de 37% com mais de 64 anos. Sua população caiu pela metade desde a década de 1980, e os grandes centros urbanos continuam a atrair jovens.
Timo Aro, especialista em demografia na Finlândia, diz que a mudança na população está criando vencedores e perdedores — e Puolanka é um dos perdedores. "Se você olhar para os números em Puolanka, eles são bastante sombrios de todas as formas possíveis, não importa o quão positivamente você os interprete", diz ele.
Rajala relembra um período no início dos anos 2000, quando Puolanka já aparecia na mídia de forma negativa. Ele diz que o movimento do pessimismo surgiu como resposta a ser constantemente citado como o pior exemplo de tudo relacionado à demografia. "Tudo bem, somos os piores, mas seremos os melhores piores na Finlândia", dizia o pensamento.
Em tardes de segunda a sexta, o centro de Puolanka é quieto. Um ônibus chega seis vezes por semana de Oulu, uma cidade maior a cerca de 130 km de distância. Existem algumas mercearias, uma farmácia, um posto de gasolina onde os moradores se reúnem para conversar e tomar café e um restaurante que serve almoço. A maioria dos residentes trabalha nos setores agrícola ou de serviços.
Jaakko Paavola, 63, que administra uma livraria ao lado da prefeitura, vivia lá quando o pessimismo se estabeleceu em meados dos anos 2000. Uma "noite de pessimismo" foi lançada para complementar uma lista monótona de eventos de verão. Em vez de uma taxa de inscrição, os participantes tiveram que pagar uma taxa de saída. "As pessoas vieram não apenas para ver o programa, mas para se ver", lembra Paavola. "No verdadeiro espírito de pessimismo, eles diziam ao vizinho: 'Vejo que você ainda está vivo.'"
Riitta Nykänen, 60 anos, que também estava envolvida na brincadeira desde o início, lembra a maneira orgânica como os primeiros eventos ocorreram. "Um homem disse que nada funcionava aqui - nem mesmo pessimismo." No entanto, o que começou como uma ideia entre amigos se transformou em um grupo pessimista que organizou vários eventos localmente e até fez apresentações em outras partes da Finlândia. Ao longo dos anos, Nykänen, que trabalha como enfermeira no centro de atendimento a idosos local, assumiu papéis principais nos vídeos musicais e online, e se tornou membro de uma banda pessimista chamada Trauma Group, que ainda ocasionalmente toca sob solicitação.
Dando 'match' com sua mãe
Após quase uma década de atividade, o grupo original de pessimistas encerrou atividades em 2016, supostamente por causa de um declínio no número de associados. Mas logo depois disso Rajala, que cresceu em Puolanka, mas passara quase duas décadas fora em cidades maiores e no exterior, foi contratado pelo município. Seu trabalho era desenvolver serviços municipais online, mas ele também ficou encarregado de manter e desenvolver a marca do pessimismo para ajudar a vender a cidade.
No primeiro vídeo que ele fez como parte de seu trabalho, Rajala levou sarcasticamente o espectador a um passeio por Puolanka. O vídeo, cheio de humor sombrio, obteve 200 mil visualizações quando foi publicado nas mídias sociais, e um segundo vídeo atingiu meio milhão. "Normalmente, a publicidade tem tudo a ver com fazer as coisas parecerem melhores do que são", diz Rajala. "A melhor coisa sobre o pessimismo é que não preciso mentir."
Rajala deixou seu emprego no município, mas ainda trabalha em meio período liderando a associação pessimista, uma organização sem fins lucrativos, administrada principalmente por voluntários. É financiada pela renda da loja online e eventos ocasionais, além de receber recursos para projetos individuais como o musical de verão do município. E ainda está fazendo vídeos.
Uma questão é o número relativamente pequeno de mulheres; em geral, mais mulheres do que homens estão deixando pequenos municípios e em Puolanka os homens representam cerca de dois terços da faixa etária de 20 a 29 anos. O anti-herói Niko, interpretado por Antti Ryynänen, de 22 anos, estrela uma série de vídeos em que ele percorre a cidade em busca de mulheres. Em um, ele se inscreve no Tinder - e acaba dando "match" com a mãe. "Não é um humor muito profundo", diz Rajala, "mas começou com esse pensamento de que a única mulher a se encontrar em Puolanka é sua própria mãe".
Rajala acredita que um novo capítulo está apenas começando para o pessimismo em Puolanka. A mídia social ampliou a marca; a loja online recebe um fluxo constante de pedidos de camisetas com slogans como "velho rabugento" e "bruxa difícil". O musical no verão passado atraiu plateias de todo o país e provavelmente será repetido no próximo verão. Um novo espaço comunitário dedicado ao pessimismo logo estará disponível para os visitantes que passam pelo centro da cidade a caminho da Lapônia.
Quanto ao futuro, Rajala gostaria de ver os pessimistas nas capas de revistas. No entanto, ele diz, realmente não houve uma estratégia até agora. "Acabamos fazendo coisas que nos parecem divertidas."
Não lute contra moinhos de vento
Timo Aro acredita que o ciclo de declínio em municípios rurais como Puolanka continuará. "Muitos lugares como Puolanka esperam por essa grande mudança", diz ele; alguns falam sobre um movimento "anti-urbanização" que faria as pessoas fugirem das cidades, mas até agora isso não está acontecendo. No entanto, Aro acredita que Puolanka está aproveitando bem. "Embora cada pesquisa [demográfica] a coloque numa posição pior, ainda existe a sensação de transformar o negativo em algo bom."
O prefeito Harri Peltola está mais esperançoso. Ele acredita que o ambiente calmo e natural de Puolanka vai agradar a alguns. De fato, as florestas circundantes oferecem uma abundância de frutas e cogumelos, enquanto Hepoköngäs, uma das cachoeiras mais altas do país, fica a poucos passos de distância. Há muita neve e ar limpo. Mesmo que as pessoas não morem lá permanentemente, muitas têm cabanas de verão em Puolanka e arredores; durante as férias, a população da cidade quase pode dobrar. O desafio é conscientizar as pessoas sobre o que ela oferece. "Você precisa ter algo que atraia as pessoas - e acho que o pessimismo funcionou bem para isso", diz ele.
Enquanto Rajala pensa que ainda há muito a ser feito com pessimismo, isso não o impede de ver que os dias desta pequena cidade provavelmente estão contados. Afinal, um pessimista nunca fica decepcionado. "Se você mora aqui e passa um tempo sonhando com o modo como Puolanka vai melhorar e com o número de pessoas que virão um dia, você estará lutando contra moinhos de vento", diz Rajala. Esses tipos de devaneios levam à frustração.
"Mas se você aceita os fatos como são e depois usa essa realidade para seus fins, viver aqui é inteiramente possível", diz ele - soando de forma perigosamente otimista.