Já levou choque em uma tomada? E de uma cerca elétrica? Segundo Ken Catania, pesquisador da Universidade Vanderbilt, nos EUA, nadar com uma enguia daria uma sensação parecida com esta última.
Achou estranho? Pode confiar: a analogia foi feita por alguém com conhecimento de causa. Pelo bem da ciência, o cientista mergulhou o próprio braço n’água para sofrer repetidos ataques do peixe. No vídeo abaixo você pode assistir ao momento e ter uma ideia do nível de sangue frio que a tarefa exigia.
A relação de Catania com as enguias vem de longa data. Em uma pesquisa anterior, ele já havia comprovado outra característica interessante do animal: enrolar seu corpo ao redor da presa para dobrar a potência de sua descarga. O estudo atual foi ainda mais além, mostrando com detalhes como a enguia pode atacar fora d’água, um recurso que também aumenta seu poder elétrico.
Os primeiros registros sobre esse tipo de ataque foram feitos ainda no século 19, por Alexander von Humboldt. O explorador e naturalista alemão teria visto enguias saindo quase totalmente da água para se enroscar nas patas de cavalos em um rio localizado na atual Venezuela. Porém, de acordo com Catania, a história de Humboldt costumava passar como lenda. “Ninguém exatamente acreditava nela, ou, se acreditava, encarava como uma bizarrice qualquer”, disse, em comunicado. Foi aí que surgiu a ideia de arriscar a própria pele para provar o contrário.
Mas antes, era necessário conhecer todo o potencial do inimigo. Para isso, o pesquisador mediu com uma placa de metal a intensidade da corrente elétrica do bicho. Em média, uma enguia pequena pode fornecer uma corrente entre 40 e 50 mA (miliAmperes). O valor é quase cinco vezes maior que o necessário para fazer um humano retirar seu braço instantaneamente, em um movimento de arco-reflexo. E o problema pode ser ainda maior, já que as enguias (ou os poraquês) chegam a atingir até 1,5 m de tamanho. Quanto mais alto estava a placa, aliás, mais corrente fluía do corpo da enguia.