Um levantamento recente realizado nos EUA pela Universidade Tecnológica de Michigan revelou que existem duas indústrias por lá que, anualmente, matam mais pessoas do que elas empregam. De acordo com Madison Dapcevich, do site IFLScience!, não é realmente muito surpreendente, mas, as 2 atividades em questão são a exploração de carvão e a produção de tabaco que, lá nas terras do Tio Sam, se tornaram foco de muitos debates.
Segundo Madison, a pesquisa apontou que, enquanto existem 51.795 pessoas empregadas na mineração de carvão nos EUA, mais de 52 mil mortes associadas à poluição gerada pela atividade são registradas anualmente no país. Já no caso da produção de tabaco, os números são ainda mais alarmantes: a atividade emprega mais de 124 mil pessoas por lá, mas causa todos os anos mais de 500 mil mortes relacionadas com a exposição direta e indireta ao cigarro. E o que isso tem a ver com o Brasil?
Riscos para todos
A exploração de carvão fica concentrada principalmente na Região Sul do país e supre cerca de 50% da necessidade nacional, o que significa que as indústrias devem importar a outra metade de que necessitam para se manter em atividade. As usinas termoelétricas são as maiores consumidoras de carvão no país, sendo responsáveis por usar 85% do total, seguidas pela indústria de cimento, com 6%, pela de celulose, com 4%, e pelas indústrias de cerâmica, grãos e alimentos que, juntas, consomem 4% do total.
Os países dos quais o Brasil mais importa o carvão são a África do Sul, Austrália e EUA, e a extração realizada por aqui, bem como a queima do material – seja ele obtido em território nacional ou trazido de fora – são responsáveis por impactos ambientais consideráveis. Já com relação à indústria do tabaco, o nosso país é o segundo maior produtor do mundo, vindo apenas depois da China, e o maior exportador do planeta.
Essa indústria tampouco está livre de impactos ambientais e humanos, uma vez que, além de ocupar áreas que podiam ser destinadas para outros cultivos, as plantações de fumo estão relacionadas com um grande uso de adubos e agrotóxicos, e os trabalhadores, além de serem mal remunerados e ficarem à mercê das fabricantes de tabaco, se intoxicam com os fertilizantes e inseticidas, e se submetem a péssimas condições de trabalho. Isso sem falar nos males associados ao tabagismo e que todo mundo conhece, obviamente!
Vale a pena?
Embora não tenhamos números sobre quantas pessoas são empregadas e quantas perecem em decorrência a doenças associadas a essas 2 atividades aqui no Brasil, se fossem realizados levantamentos, eles possivelmente mostrariam uma tendência semelhante à observada nos EUA. De qualquer forma, segundo Madison, os autores da pesquisa defendem que ambas as indústrias deveriam ser responsabilizadas e penalizadas por causar danos tanto ao meio ambiente como à saúde da população.
Os pesquisadores admitem que compreendem que a maioria das industrias não têm como propósito deliberado causar mal a ninguém. Mas os incentivos financeiros que essas atividades recebem – graças aos lucros que elas geram – acabam por causar danos imensos à qualidade do solo, da água, do ar e da produção de alimentos e, consequentemente, por provocar prejuízos enormes à população.
O que deveria ser feito, segundo os pesquisadores, é uma avaliação de se os benefícios trazidos na forma de mais geração de empregos e riqueza são maiores do que os danos causados à saúde e ao ambiente. No caso das 2 indústrias em questão, está claro que elas matam mais pessoas do que empregam, então, o debate que os cientistas propõem é: considerando que as indústrias deveriam existir para beneficiar a humanidade, será que não deveríamos reavaliar a realização e a continuidade dessas atividades?