Universidade de Harvard tem futebol como uma de suas disciplinas

Os professores chegaram a mudar de sala duas vezes, porque a procura foi maior do que eles esperavam.

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Já imaginou se sua faculdade lhe oferecesse a oportunidade de ter futebol como disciplina? Em Harvard, a principal instituição de Ensino Superior do Mundo, de acordo com o senso comum e com o ranking da Times Higher Education, isso já é realidade. Há três anos, os professores Mariano Siskind e Francesco Erspamer criaram a disciplina O Esporte Global: Futebol, Política e Cultura Popular, também chamado de Estudos de Romance 109, e a adesão tem sido maciça. Mas não pense que o objetivo é discutir o último clássico entre Barcelona e Real Madrid.

Quem acompanha de perto sabe que se o futebol fosse um simples jogo, não teria o tamanho que tem. O esporte é espaço também para manifestações culturais, expressões de um povo, e o que o curso busca é a relação do jogo com as diversas áreas de conhecimento. A proposta atraiu os estudantes, e o primeiro semestre teve mais de 100 inscrições. Os professores chegaram a mudar de sala duas vezes, porque a procura foi maior do que eles esperavam.

“O objetivo é usar o futebol como um portal, uma entrada para as disciplinas, mas também para as perguntas que as humanidades propõem sobre produção de significado cultural. O que é beleza, e por que o futebol é chamado de jogo bonito? Essa é uma pergunta central em filosofia estética. Precisamos dar uma chacoalhada nos estudantes, da mesma forma como o formalista russo Viktor Shklovsky pediu a seus estudantes que se desfamiliarizassem dos objetos para os quais eles não dão valor”, afirmou Mariano Siskind, professor especializado em literatura latino-americana, ao Harvard Gazzette.

Os materiais de leitura da disciplina, por exemplo, abarcam textos do filósofo Michel Foucault, do antropólogo Richard Shweder e do crítico literário Mikhail Bakhtin. “São textos essenciais da investigação sobre a produção do espaço e da subjetividade, sobre filosofia estética, história ou cultura popular”, conta Siskind. Em uma das aulas, segundo o portal da universidade, foi discutido como o futebol se envolve com as diferentes culturas. “Deveríamos mudar práticas culturais significativas em um lugar por que as pessoas que estão assistindo de outra parte do mundo ficam ofendidas por elas? Alguns disseram que sim. Acabou se transformando em um debate sobre a ética da representação no contexto de diferenças culturais globais”, contou Erspamer.

Em outra das aulas, os estudantes analisaram como são criadas as figuras das celebridades, como os jogadores acabam se tornando ícones. “Isso é só a superfície de um fenômeno muito maior e mais profundo. Usamos as tragédias de Sófocles e a Poética de Aristóteles, com ênfase especial na ideia da catarse, e tentamos tirar um sentido da ascensão e queda de Diego Maradona, um dos melhores jogadores da história do esporte, famoso por seus feitos e escândalos dentro e fora do campo”, revelou Erspamer.

A introdução da nova disciplina é uma das maneiras que Harvard encontrou de atrair mais estudantes para seus cursos de ciências humanas, já que ultimamente as universidades norte-americanas têm tido procura muito maior por cursos de exatas. Talvez o assunto não seja o mais atrativo para a maioria dos americanos neste momento, mas, em outras partes do mundo, certamente teria um espaço tremendo. Até no Canadá, por exemplo, encontraram gente interessada em um curso de sociologia que estuda o Cristiano Ronaldo. Falou de futebol, sempre haverá alguém, em algum lugar do mundo, disposto a ouvir.

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