A dieta mediterrânea tem o status de uma das mais saudáveis. É característica de países da região do Mar Mediterrâneo, localizados em três continentes: Europa, Ásia e África. Mas, afinal, sua fama realmente condiz com a realidade? De acordo com a nutricionista Eliana Pereira Vellozo, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), sim, por conta da boa combinação de ingredientes.
O cardápio conta com frutas, verduras, legumes, cereais, leguminosas (principalmente grão-de-bico e lentilha), oleaginosas (como amêndoas, azeitonas e nozes), peixes, leite e derivados, vinho e azeite de oliva. "É rico em carboidratos e fibras, e tem alta concentração de ácidos graxos monoinsaturados derivados do azeite de oliva. Repleto de vitaminas, minerais e antioxidantes, que bloqueiam reações químicas que desencadeiam tanto doenças como o envelhecimento precoce." O consumo de carnes vermelhas e alimentos ricos em gordura e açúcar é baixo.
Os benefícios são potencializados por um hábito que deixa qualquer sedentário com preguiça: o de colocar o corpo em ação. "Essas populações mantém naturalmente atividade física mais regular, o que comprovadamente contribui para a melhoria da saúde, fazendo com que apresentem os mais baixos índices de infarto e derrame do mundo e as mais altas taxas de expectativa de vida."
Confira abaixo cinco resultados de pesquisas recentes que fortalecem ainda mais a fama da gastronomia mediterrânea. Depois, que tal saborear algumas delícias típicas?
1) Pode reduzir risco de depressão
De acordo com um estudo publicado neste mês no Archives of General Psychiatry, periódico da Associação Médica Americana, a dieta mediterrânea pode diminuir o risco de depressão. Para chegar a tal conclusão, profissionais das Universidades de Las Palmas de Gran Canaria e de Navarra, ambas na Espanha, estudaram a alimentação de 10.094 espanhóis saudáveis, que relataram seus hábitos por meio de questionários, entre 1999 e 2005.
Os pesquisadores calcularam a adesão ao cardápio avaliando os seguintes itens: maior ingestão de ácidos graxos monoinsaturados comparada à dos saturados, apreciação moderada de álcool e produtos lácteos, pouca carne e grande consumo de legumes, frutas, cereais, legumes e peixes. Após o período de acompanhamento, identificaram 480 novos casos de depressão (156 em homens e 324 em mulheres). As pessoas que seguiram a dieta apresentaram 30% de redução do risco de desenvolver a doença em comparação com as que não a apreciaram.
Os mecanismos específicos que colaboram com a prevenção da neurose não são totalmente conhecidos. "Componentes da dieta podem melhorar a função dos vasos sanguíneos, combater a inflamação, reduzir o risco de doença cardíaca, os quais podem diminuir as chances de desenvolver depressão", escreveram os cientistas, como informou o site Science Daily.
"O papel do padrão alimentar global pode ser mais importante do que o efeito dos componentes individuais. É plausível que a combinação de uma reserva suficiente de ácidos graxos ômega 3, juntamente com outros ácidos graxos insaturados naturais e substâncias presentes no azeite de oliva e nozes, nas frutas e nos alimentos vegetais exerçam exercer razoável grau de proteção contra a depressão", disseram.
2) Pode diminuir a necessidade de remédios para diabetes
Uma pesquisa financiada pela Segunda Universidade de Nápoles, na Itália, verificou que a culinária pode diminuir a probabilidade de que pacientes recém-diagnosticados com diabetes tipo 2 precisem de tratamento medicamentoso. Dario Giugliano e seus colegas acompanharam 215 pessoas com sobrepeso (IMC maior que 25) entre 30 e 75 anos, de janeiro de 2004 a setembro de 2008. Todos haviam descoberto a doença recentemente, nunca tinham recebido remédios anti-hiperglicêmicos e apresentavam níveis de hemoglobina A1c (HbA1c) inferiores a 11%.
Metade dos participantes aderiu à dieta baseada na dos países banhados pelo Mar Mediterrâneo. O outro grupo adotou uma alimentação de baixo teor de gordura. Em ambos os casos, as mulheres estavam restritas a 1,5 mil calorias por dia, enquanto os homens podiam alcançar 1.800. Todos contaram com conselhos de nutricionistas e tinham de registrar diariamente o que ingeriam.
Segundo o relatório publicado no Annals of Internal Medicine, apenas 44% dos diabéticos que provaram as iguarias mediterrâneas precisaram do auxílio medicamentoso, contra 70% dos que fizeram refeições de baixo teor de gordura. Outras vantagens da dieta mediterrânea em comparação à outra foram maior perda de peso e melhor controle de açúcar no sangue e de risco coronariano.
"Apesar desse efeito benéfico, a Associação Americana de Diabetes recomenda que os pacientes recém-diagnosticados com diabetes tipo 2 sejam tratados com a farmacoterapia, bem como com mudanças de estilo de vida", afirmaram os cientistas, como publicou o site MedPage Today. Os autores apontam algumas limitações do trabalho. Entre elas está o fato de não avaliarem diretamente o que os pacientes comeram.
3) Cardápio enriquecido com nozes pode ajudar no tratamento da síndrome metabólica
Outro benefício da dieta, enriquecida com nozes diariamente, é auxiliar no tratamento de algumas alterações metabólicas. Jordi Salas-Salvadó, da Universidade de Rovira i Virgili, da Espanha, e outros pesquisadores avaliaram 1.224 pessoas, com 55 a 80 anos e alto risco de desenvolver doenças cardiovasculares. No início do estudo, 61,4% dos participantes preencheram os critérios para a síndrome metabólica.
Eles foram divididos em três grupos. Um recebeu dieta de baixo índice de gordura (grupo de controle) e, os dois restantes, seguiram a dieta mediterrânica - sendo que um contou com o adicional de 1 litro por semana de azeite virgem de oliva e, o outro, 30 gramas por dia de nozes mistas. Após um ano, a prevalência da síndrome diminuiu 13,7% entre aqueles que degustaram nozes, 6,7% nos que apostaram no azeite e 2% no restante.
O peso dos pacientes não sofreu alterações. No entanto, a circunferência da cintura e os níveis altos de triglicerídeos e pressão arterial diminuíram significativamente nos que desfrutaram da dieta mediterrânea e das nozes. Isso sugere, segundo os pesquisadores, que os componentes da culinária, principalmente os frutos secos, podem ter efeitos benéficos sobre as características fisiopatológicas da síndrome metabólica, como resistência aos efeitos da insulina e inflamação crônica.
4) Dieta mediterrânea e atividade física podem reduzir risco de desenvolver doença de Alzheimer
Associar a dieta mediterrânea à atividade física promete menor risco de desenvolver doença de Alzheimer, segundo pesquisa divulgada em agosto na publicação da Associação Médica Americana. Nikolaos Scarmeas, da Universidade de Columbia, e mais um grupo de profissionais acompanharam 1.880 idosos de Nova York, sem demência no início do estudo. Os que colocavam o corpo em ação com frequência e seguiam a risca o cardápio obtiveram de 35% a 44% menos chances de apresentar a patologia em comparação com os de hábitos opostos.
5) Pode contribuir com a preservação da massa óssea das mulheres
As mulheres costumam sofrer com a osteoporose (diminuição da massa óssea). Pois bem, saborear os pratos típicos da região mediterrânea contribui até para a preservação da massa óssea delas. É o que sugere um estudo da Universidade Harokopio, da Grécia, que contou com 220 mulheres gregas.