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'Eu sinto prazer em transar com as pessoas e cobrar', diz Lola Benvenutti

'Eu sinto prazer em transar com as pessoas e cobrar', diz Lola Benvenutti

Lola Benvenutti se tornou famosa como a "garota de programa formada em Letras" e "sucessora de Bruna Surfistinha", mas é difícil resumir em uma frase Gabriela Natália da Silva, 22 anos, dona do pseudônimo.

Ela prefere comparar sua história a da personagem de Audrey Hepburn no filme "Bonequinha de Luxo".

Prostituta desde os 17, Lola já transou com mais de 3 mil homens, diz que "faz porque gosta" e, agora lança um livro para contar suas experiências, que incluem sexo grupal em festas como as do filme 'De olhos bem fechados", estrelado por Nicole Kidman e Tom Cruise.

Mas o desafio mesmo é quando tentam acessar sua intimidade.

"Para dormir junto eu cobro um valor altíssimo", diz ela.

Lola lança nesta segunda, 11, o livro "O prazer é todo nosso", em que fala ads experiências e dá dicas.

Em conversa com o EGO, Lola vai mais longe e revela que já namorou o filho de um ator global e que a maioria de seus clientes são homens casados, mais carentes de serem ouvidos do que de sexo.

A jovem também reclama da dificuldade de fazer amizades, da relação difícil com os pais e ainda conta detalhes da relação com o "escravo" alemão que ela - que se define como dominadora no sadomasoquismo - mantém.

"Eu me sinto muito valorizada sendo puta".

Como foi sua infância?

Todo mundo tenta associar a minha infância a algum trauma, alguma coisa ali que me deu um gatilho e me fez ser garota de programa. Mas eu tive uma infância normal, como qualquer criança, brincava com meus primos, meu irmão, tinha Barbie. Lia muito, minha mãe me incentivava muito a ler, isso faz parte de quem eu sou hoje. Sempre me lembro da infância com alegria.

Como e quando você perdeu a virgindade?

Eu tinha 11 anos com um cara um pouco mais velho (30 anos), que eu conheci na internet. Eu me sentia preparada naquele momento, não foi uma violação, um estupro. Não concordo com pedofilia, mas não vi aquilo como uma violência contra mim. Não foi bom, superestimei o sexo e quando vi o que era pensei ‘Nossa, é isso?’. Ele também não tinha muita experiência, ele tinha estudado para ser padre e não queria estar ali comigo. E ele não sabia que eu tinha 11 anos, eu menti que tinha mais. Mas ele não estava confortável e à vontade. Foi indiferente. Mas teve um namorinho com ele antes, a gente trocava cartas, presentes. Ele morava em outra cidade. Era um pouco dessa coisa de amor romântico, primeiro amor, teve associado um carinho especial sim.

Quando e por que você começou a se prostituir?

Minhas primeiras experiências foram em Pirassununga (cidade natal dela) ainda. Eu sempre tive muita curiosidade pelo sexo, já saía com muita gente que conhecia pela internet. Até que pensei ‘Cara, eu vou cobrar, estou fazendo caridade’ (risos). Não foi um dia que acordei e pensei que precisava de dinheiro e que iria ser garota de programa. Foi natural. Pensei: ‘Vou cobrar. Me sinto bem, acho que faço bem’. E aí nas primeiras vezes conheci gente nas salas de bate-papo na internet. Eu relaciono muito mais minha visão de prostituição à história do filme ‘Bonequinha de luxo’, daquela coisa bonita e luxuosa da Audrey Hepburn, sofisticada e glamourosa, do que essa coisa pesada que as pessoas normalmente veem. Enfim, fiz umas vezes lá, mas fiquei com medo dos meus pais descobrirem, cidade pequena... E também estava em uma fase emblemática prestando vestibular. Aí dei um tempo. Aí na última parte da faculdade, quando já tinha cumprido a maioria das disciplinas, eu resolvi fazer o blog e voltar a fazer programa.

Como foi o primeiro programa que você fez?

Eu nunca me senti mal. A primeira vez quase morri de frio na barriga, era uma adrenalina, mas que me incentivava. Por um segundo eu pensei: ‘Vou com um cara que não conheço, entrar no carro dele...’, mas o cara me tratou superbem. Não lembro o quanto cobrei na época, mas era muito mais do que a minha mesada, então saí de lá ‘Urrul! Tô rica!’. Foi legal e ele foi carinhoso, foi um cara bacana.

Você nunca teve medo de ser agredida?

O que aconteceu uma vez foi um cara dizer: ‘Você podia ter mais peitinho, né? Fiquei com vontade de dizer para ele ‘E você poderia ter mais pintinho’. Acho essa indelicadeza da pessoa te ver como objeto o mais problemático. Mas nunca aconteceu nada de complicado. Claro, eu me cuido. Eu não levo ninguém para minha casa, não entro no carro de ninguém, só atendo em motel. Tem sempre alguém que sabe onde eu estou.

E sua família, como reagiu quando soube?

Mal. Ficamos um ano sem nos falarmos.

Como eles souberam?

Eu contei. Antes de acontecer tudo isso na mídia, já tinha tomado uma proporção assustadora. Meu pai parou de falar comigo, eu também tive dificuldade de sentar com ele e explicar: ‘Pai, eu sinto prazer em transar com as pessoas e cobrar’. A minha mãe ficou muito triste, muito frustrada. Quando saiu na mídia e eles viram a proporção da coisa e acho que caiu ficha, foi muito difícil. Fiquei um tempo sem falar com eles e foi um processo de reaproximação doloroso. Esse é o ônus. Se eu ganhei um bem precioso que é a minha liberdade, esse é o ônus, perdi um outro maior ainda, que é a minha família. Hoje a gente tá bem, superamos a crise, mas eu sei que é difícil pra eles. Sei que sonharam outra coisa para mim, um futuro brilhante pra mim, que talvez não seja compatível com a realidade de hoje.

E suas amigas?

Quando contei que ia abrir um blog minhas amigas surtaram ‘Não, Gabi, não faz isso’. Mas eu logo disse que não estava pedindo opinião, só estava avisando porque eu estava decidida e ia fazer. Ficaram preocupadas, mas depois continuou a mesma coisa de sempre porque eu não mudei. Não me tornei uma estrela pornô. Tenho poucas e boas amigas e mantenho essas amigas da faculdade. Tenho um pouco de resistência em fazer novas amizades porque sei que as pessoas não lidam bem com isso, acham que vai denegrir a imagem delas também.

Como assim?

Eu vou num bar toda semana e um dia conheci uma menina na fila que falou que tinha lido uma entrevista comigo, que tinha achado legal. Aí me convidou pra sentar na mesa com ela, depois mandava whatsapp, convidava para ir ao cinema. Mas aí de repente ela bloqueou meu número, e soube que falou para o dono do bar não deixar eu entrar mais lá. Acho que a mulher admira por um lado, mas é problemático ela andar com alguém assim porque podem achar que ela faz programa também. Eu já entendi que gero essas coisas.

Com quantos homens você já fez sexo?

Eu não faço uma contabilidade. Não gosto de falar de valor e nem de quantos caras já transei porque torna meu trabalho um pouco mecânico e eu vejo isso com tanta beleza e delicadeza. Se eu começar a ver muito como business vai perder a magia para mim e acho que vou perder o encanto de fazer. Então não sei, acho que foi bastante. Dizem por aí que foram uns 3 mil. Talvez (risos).

Você faz algum tipo de filtro para selecionar clientes?

Não. Nenhum. Eu tenho muito carinho pelos meus clientes. Acho que cheguei até aqui porque tenho carinho pelas pessoas. Respeito muito o ser humano, não gosto de falar das coisas como estereótipo. E acho que atraio muita gente legal por causa disso. Eu não sou uma gostosona, tenho outro perfil. Então o cara ou a mulher me procuram porque querem alguém para conversar, para se relacionar para que a experiência seja mesmo um deleite.

E você fideliza os clientes?

Sim, porque quem não gosta de ser bem tratado? A taxa de retorno dos meus clientes é alta.

Qual o perfil dos seus clientes?

Tem muitos casados. Tem uma coisa da carência que é muito maior que o sexo. É sexo, também, mas a carência é maior. Mas tem gente dos 18 aos 80. Tem o virgem que nunca fez e me liga, um casal, o cara mais velho, o cara rico, o cara que economizou meses do trabalho para conseguir para sair comigo...

Tem gente que economiza para pagar o programa com você?

É claro que eles não falam, mas eu percebo, né? O cara paga com notinha de dez. Eu quase choro, sério, acho emocionante um cara querer sair tanto comigo a ponto de abdicar de uma cervejinha no final de semana. É uma honra para mim. Às vezes tem menina que me manda email para mim dizendo que querem ser acompanhantes, mas que não querem sair com esses caras estilo pedreiro. Já respondo que estão com a visão equivocada porque esses caras são os mais honestos. Tem gente boa e ruim em qualquer segmento. Mas acho que tem de ter delicadeza para lidar como ser humano, não dá para ser hipócrita e colocar todo mundo dentro de caixinhas.

Você acha que acaba atuando como psicóloga dos clientes?

Acho que sim. Claro, não tenho formação nem capacidade para isso, mas acho que sem querer faço. Essa coisa de ouvir. A pessoa quer ser ouvida, quer ser valorizada. Isso é muito importante, ter paciência para ouvir, entender. Você atende muito casal que quer “reacender a chama”? Muito. E tem muita mulher que me escreve contando que nunca atingiu orgasmo, pedindo para ajudar. Já fiz vários atendimentos assim. Atendimento de sadomasoquismo, quando a pessoa quer aprender uma técnica. A mulher que me procura para me dar de presente para o marido num aniversário de casamento. Ela está lá junto, claro (risos) Quando a mulher nunca fez ela fica meio travada ali, mas normalmente é legal.

E esse lance de beijar na boca durante o programa?

Olha, não me acho melhor do que ninguém, mas eu sinto um descompasso nas minhas conversas com outras garotas de programa. Acho que beijar é fundamental. É lógico que não dá para você beijar um cara quem tem bafo de esgoto, mas às vezes na balada o cara tem bafo de esgoto e aí eu não beijo mesmo. As coisas começam no beijo. Eu acho que o beijo é termômetro e é ali que o sexo começa. Não dá para mecanizar. Acho que tem de beijar sim. Você falou de sadomasoquismo. No seu blog você conta que tem um slave (escravo) alemão. Tenho alguns (risos). É que ele é o que está mais presente atualmente porque eu não tenho tempo de administrar todos, mas ele é lindo, um cara muito bonito, sarado, quase dois metros de altura. Você olha e já vê um estereótipo. Mas ele não consegue falar isso (das preferências sexuais) para qualquer menina que se aproxima dele.

Como é a relação de vocês?

Ele vai lá, limpa minha casa... Eu tranco ele lá. Tem um fetiche nisso, dele estar lá trancado enquanto eu estou trabalhando, fazendo sexo com outros caras e ele está limpando fazendo bolo e chá para mim. É legal, eu me divirto muito (risos). A gente se conheceu numa rede social de fetiche.

Você é dominadora, então.

Sim, sou. É do que eu gosto. Já passei por uma experiência como submissa, mas não é a minha praia.

Conta alguns fetiches dos seus clientes...

Já vi tanta coisa na minha vida... Teve um que o cara queria ser abatido. Ele queria que eu criasse um ambiente e o abatesse como se ele fosse um porco. O cara quer servir de banquinho para eu me maquiar, quer ser cachorro... Vejo isso com muita naturalidade, não acho bizarro. É específico. Teve um cara que queria que eu aplicasse golpes marciais nele, e queria saber se eu sabia, mas não sei, vai que eu quebro o cara, falei que não ia rolar. Tem técnica com agulha. Tenho uma mala de brinquedinhos.

Já deu para você fazer um pé de meia?

Eu tenho uma qualidade de vida boa, tenho meu apartamento, meu carro, tenho uma reserva. Sou uma pessoa que quer sempre mais. Então não vou chegar a um ponto de ‘Beleza, agora estou bem vou só curtir a vida’. Não penso em me aposentar. Sou muito nova, tenho muita coisa para viver. Se algum dia eu achar que já deu, tenho muita tranquilidade para lidar com isso e partir para outra coisa, mas não fico nessa de planejar que daqui a cinco anos vou me casar, virar uma mãe de família.

Você não pensa em se casar e ter filhos?

Não é assim o sonho da minha vida. Mas também porque sou muito nova. Acho que quando eu tiver 30 pode ser que eu entre nessa fase de querer um filho. Acho que são fases e que bom que a gente pode mudar. Vai ter um momento que talvez eu queira. Hoje não é o foco.

Você sente prazer no trabalho? E

u faço de tudo para conseguir chegar ao orgasmo. Quando está muito ruim eu falo pro cara faz assim ou assim. Mas eu tenho facilidade para atingir orgasmo.

Qual foi o pedido mais difícil que te fizeram?

Ficar sem maquiagem, que é o meu eu. Isso é meu eu, é o que faço em casa, me expõe demais. Dormir junto então eu cobro um valor altíssimo. É muito íntimo dormir junto. O problema não é transar, é dormir junto. Muita intimidade me faz sentir exposta, é a Gabriela ali, não gosto muito. A Lola não, é a mulher perfeita, incrível, deusa. E a Gabriela chega em casa, fica de pijama.

Na sua intimidade você é assim, mais à vontade, gosta de ficar de pijama?

Eu sou muito vaidosa, eu tenho essa coisa de amor por mim mesma. Tenho uma coisa com minha imagem. Preciso me olhar no espelho e em achar bonita. Eu sempre fui patinho feio na escola, então quando aprendi a gostar de mim. Mas eu sou uma pessoa normal, acordo sem maquiagem. Em casa fico lá deitada com a minha cachorrinha lendo. Não gosto disso, de expor meu âmago.

Você teve um namorado que sabia do seu trabalho. Como foi isso?

Problemático. Era um cara que foi meu cliente. No começo foi legal, é um cara conhecido. Ele é filho de um ator global. Mas desandou. O homem tem muita dificuldade de lidar com isso. Não o culpo. Foi difícil e teve um momento que ele pirou mesmo. Uma pessoa machista, começou a ficar meio violento e aí não quis mais, já passei por tanta coisa, não preciso disso e aí decidimos terminar. Mas a gente é amigo ainda, a gente conversa, mas eu não sinto falta de namorar, eu tenho meus peguetes, mas me sinto amada. Não tenho necessidade de ter um cara em casa me esperando. No máximo um slave para limpar minha casa (risos). Mas não estou nessa fase de procurar alguém. E o cara para namorar comigo tem, antes que respeitar minha profissão, meu instinto de liberdade e entender que eu não sou uma pessoa monogâmica. Isso é pré-requisito, demorou também para eu entender que eu não tenho de mudar para agradar alguém. Isso é o mais importante, o resto se ajeita.

De onde surgiu a vontade de escrever um livro?

Não quero que as pessoas sigam o caminho que escolhi, façam como eu, mas que se libertem, porque viver a sexualidade reverbera na vida das pessoas em todos os sentidos. O título do livro é superadequado. Quero que a pessoa, ao ler o livro, sinta o prazer como todo dela. O divã da capa é isso, de trazer o assunto.

No blog você escreve sobre as experiências com os clientes. Eles gostam disso, esperam para ler sobre eles lá?

No começo do meu blog os textos eram muito viscerais, crus, mas eu não gostava daquilo, achava que tinha de escrever daquele jeito para cativar o cliente, mas nesse processo fui me encontrando. Hoje em dia meus textos não são mais assim de fulano fez isso foi assim. São reflexões. Então eu saí com um cara um dia e ele ficou meio assim porque eu não tomei as rédeas. Aí eu escrevi sobre humildade na cama. Às vezes saio com um cara e vejo que ele está meio tenso, a ereção meio complicada... Então, se eu vou muito pra cima não dá certo. E acho que isso de ser mais reflexivo cativa o leitor. A pessoa vai lá e escreveu um comentário enorme, você vê que ela parou para refletir sobre aquilo. Essa escrita tem muito a ver comigo e foi o que eu quis com o livro. Consigo colocar no texto quem eu sou e isso me dá muito mais prazer. São dicas para você amar e se aceitar de dentro para fora. E isso reverbera na sua sexualidade e na do seu parceiro. Então vamos nos amar, nos aceitar, sozinhos e depois com o outro.

Você se interessa pelo feminismo? Você acha que a prostituta é um objeto?

É uma generalização dizer isso: ‘A mulher é objeto, sim, a puta é objeto’. E eu não concordo com isso. Eu sinto que eu sou supervalorizada sendo puta. Não me sinto objeto. Se a pessoa me trata como tal, são casos isolados. Essa é uma mentalidade que tem de mudar. Não é porque você vende o corpo ou sua força de trabalho que você é um objeto. Senão todo mundo é, a gente se vende sempre. A força de trabalho pode ser intelectual ou física, a gente está vendendo. Então isso me incomoda nas feministas radicais. Eu me sinto feminista enquanto dona do meu corpo, livre para fazer o que quiser, e defender meu direito de ser mulher e ser liberta sexualmente. Não concordo com esse discurso de objetificação, acho preconceituoso.