A inspiração de Dorival Caymmi na vida da neta Alice vai muito além da música. Seu guarda-roupa esconde uma coleção de cores fortes, típicas do carnaval da Bahia. Aos 24 anos, Alice é a tradução moderna da MPB, com uma pitada de Carmem Miranda e acessórios que remetem ao rock "n roll americano e ao clima vintage-pop dos anos 80.
Mas para seguir as tendências, nada de gastar "rios de dinheiro", como ela mesmo define. "Adoro fazer garimpo em bazares e brechós. Mas é na internet que encontro verdadeiras preciosidades. Não gosto de gastar muito dinheiro com roupa para estar na moda só por causa de uma assinatura ou logomarca. Isso está fora de moda (risos)?, explica Alice, que costuma acompanhar blogs de moda para montar seus looks para o dia a dia e nas produções de seus shows.
É também nas andanças pelas ruas de Copacabana, na Zona Sul do Rio, onde mora, que ela busca peças exóticas para compor seu visual exuberante. Além de uma coleção de perucas coloridas, Alice tem acessórios extravagantes comprados em mercados populares como o Saara, no Centro do Rio, e na Rua 25 de Março, em São Paulo.
?Gosto de encontrar soluções inteligentes. Por isso, criatividade é fundamental. Moda para mim também é uma arte, um jeito de se expressar. Amo cores e não consigo viver sem elas. Preciso misturar um pouco de tudo?, diz a cantora.
O estilo de Carmem Miranda, que imortalizou a canção "O que é que a baiana tem?", composta pelo avô Dorival, também serve de influência para Alice. No palco, uma combinação de acessórios com penas, maiôs com estampas psicodélicas e calças de alfaiataria completam o visual. ?Sempre é uma coisa diferente da outra. Assim como o cabelo e a maquiagem. Mas levo muito do meu dia a dia para os shows. Tudo se mistura o tempo todo. Não tem como separar. A Alice dos bastidores é a mesma dos palcos?, conta.
Peças irreverentes da estilista Alessa Migani e do designer Christopher Alexander estão entre as suas favoritas. ?Gosto de brincos grandes e roupas diferentes. Looks comuns não fazem meu estilo?, aponta Alice, que considera básicas as peças de animal print. ?Tenho uma bolsa com cara de gatinho que uso para ir ao mercado. Gosto tanto de estampas animais que resolvi adotar um vira-lata, o Quincas (apelido de Joaquim)?, diz Alice.
Makes coloridas e perucas exóticas
Fã de pinturas, a cantora, que também gosta de desenhar quadros, aproveita a estética das artes plásticas na hora de montar seus makes: ?Gosto do batom colorido e das sombras com cores fortes. Nunca me arrumo para ficar bonita?.
Além da cor, Alice também tem uma parte mais "sombria". Adepta da combinação preta e branca, a cantora faz questão de misturar os estilos dos hipsters de Londres e de Berlim com o punk rock dos angolanos. ?Pode tudo na hora de se vestir. Só não pode ser chato?, define ela, que busca inspiração ainda nas cantoras Grimes e Björk.
Aliás, a islandesa Björk, que já elogiou publicamente o trabalho da carioca, sempre foi uma referência para ela. "Não conheço a Björk pessoalmente, só tive contato via rede social. Ela sempre me inspirou, tanto na música como na estética. Uso tudo que é teatral e que tem um tom dramático".
Reciclar roupas antigas é outra tendência dentro do guarda-roupa de Alice: ?Volta e meia estou reutilizando peças antigas. Gosto muito das calças de cintura alta e já transformei algumas em shorts, além de camisetas virarem cropped tops. Minha opção sempre é o conforto?.
Para homenagear o centenário do patriarca da família, a filha de Danilo e sobrinha de Nana e Dori Caymmi apostou na releitura das canções do avô Dorival. Versões clássicas ganharam novos arranjos com pitadas de rock, pop, axé e soul no repertório do show ?Dorivália?.
?A música sempre esteve presente na minha vida. Sempre cantei desde criança, em festas da família. Meu pai sempre me incentivou, trocamos muitas ideias. Mas ele não interferiu na parte musical do show. Não quis apenas reproduzir as músicas do meu avô, por isso apostei em uma versão mais jovem e atual?, diz Alice, que há dois anos gravou seu primeiro álbum, pela gravadora Kuarup.