Parte importante da história econômica do leste maranhense, a estação ferroviária, a oficina de trens e o armazém de mercadorias do município de Caxias (MA) vão se tornar um centro cultural. O projeto foi formalizado nesta terça-feira, 14 de janeiro, com a assinatura da ordem de serviço pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), responsável pela execução da obra que contará com investimentos de R$ 6,5 milhões do Fundo de Defesa de Direitos Difusos (FDD). Também participam da cerimônia representantes da Prefeitura de Caxias e do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias, encarregados da gestão dos bens.
Restauração e adaptação de uso do Complexo Ferroviário de Caxias (MA) visam a preservar os bens materiais representativos da arquitetura ferroviária e da história do Nordeste brasileiro. As intervenções conduzidas pelo Iphan também são uma maneira de proporcionar qualidade aos imóveis e disponibilizar esses espaços para usos de atividades culturais e educacionais para a população do município, que possui cerca de 164 mil habitantes e está localizado a 274 km da capital São Luís.
As obras incluem a urbanização do trecho da rua Galiana, localizado entre a rua da Esplanada da Estação e a avenida Getúlio Vargas. No local, serão feitas a instalação de meio fio em concreto e a execução de passeio com piso, além de pavimentação da pista de rolamento com asfalto e execução de travessia diferenciada para pedestre. Os serviços ainda preveem a implantação de tratamento paisagístico, restauração dos elementos remanescentes do girador (estrutura ferroviária circular utilizada na manutenção e armazenamento de veículos), com limpeza do maquinário e instalação de área pavimentada para realização de eventos ao ar livre.
Um dos objetivos do projeto é dar novos usos ao Patrimônio Cultural em Caxias. O armazém, por exemplo, construído para ser depósito de mercadorias no complexo ferroviário, dará lugar à realização de cursos de aperfeiçoamento técnico. Ainda está prevista a criação de outros dois espaços, um destinado a cursos de informática e a aulas de artesanato, além de áreas administrativas e espaços de apoio, como instalações sanitárias, café e recepção, totalizando 274 m². Já a área de oficinas e manutenção de trens, de cerca de mil m² e uma das que mais sofreu deteriorações no decorrer do tempo, vai ser utilizada como auditório e sala de exposições.
O prédio da antiga Estação de Passageiros, por fim, que se encontra em bom estado de conservação, receberá serviços mais simples, com revisão da cobertura, recuperação das esquadrias internas e externas e recuperação de pisos. O espaço da estação já é de responsabilidade do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias e, ao término das obras, todo o complexo também ficará sob a gestão da prefeitura de Caxias.
“A ferrovia já teve uma importância muito grande na economia da região e, hoje, é relevante para a memória da cidade. A restauração do complexo traz tudo isso de volta”, afirma o secretário de turismo do município, Fernando dos Santos. “Além disso, é mais um passo para a gente realizar um antigo sonho: retomar o transporte de passageiros e, também, estimular o turismo.”
História
Construído em fins do século XIX e início do XX, o Complexo Ferroviário de Caxias compõe um trecho da Rede Ferroviária São Luís-Teresina, em conjunto com outras estações, como a de Rosário, Cantanhede, Coroatá, Codó e Timon. As edificações em pauta são integrantes da antiga Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA), que durante cerca de 50 anos operou as ferrovias existentes em todo o território brasileiro, responsável por transformações econômicas, históricas e sociais no Brasil.
“Caxias era um centro industrial importante. Havia quatro fábricas de tecido modernas, instaladas no final do século XIX, que exportavam tecidos. Havia plantações e indústria de classificação”, explica o assessor jurídico do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias, Frederico Brandão, que também foi um dos usuários da estrada de ferro no trecho Caxias-São Luís. “Com a opção brasileira pelas rodovias, foi se acentuando a decadência do sistema ferroviário nacional. E isso coincidiu com a decadência econômica das fábricas de Caxias na década de 1950, o que aconteceu de modo geral na indústria têxtil do Maranhão.”
Sobre o FDD
Coordenado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, o FDD reúne recursos provenientes de condenações judiciais, multas e indenizações para a reparação de danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. Entendidos como reparação à ordem econômica e outros interesses difusos e coletivos, esses valores são, então, destinados a projetos de órgãos públicos e entidades civis, selecionados a partir de decisão do Conselho Federal Gestor do Fundo de Defesa de Direitos Difusos. Em 2019, o Iphan pleiteou a aprovação de diversas ações, tendo sido aprovados 20 projetos, que somam recursos de R$ 90,4 milhões em investimentos para sete estados brasileiros: Alagoas, Amazonas, Bahia, Maranhão, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. (Informação Iphan)