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Elza Soares faz militância com o disco "Planeta Fome"

“Nosso país tá doente demais minha gente. O Brasil tá sofrendo de uma gripe terrível, uma gripe que só é curada através do povo”

Aos 82 anos, Elza Soares se emociona ao fazer um paralelo entre os dias de hoje e da ditadura militar no Faixa a Faixa, conteúdo exclusivo Deezer em que os artistas contam todas as histórias e inspirações por trás de cada música. Seu novo disco, 'Planeta Fome', lançado este mês, é um símbolo de resistência e manifestação - fato demonstrado não só na gravação feita para a plataforma global de streaming, mas também no palco: a cantora falou poucas e boas durante seu show no Rock in Rio.

'Planeta Fome' é todinho Elza Soares: eleita como a cantora brasileira do milênio pela BBC UK, a artista participou de todas as etapas e detalhes da criação do álbum, desde a composição até a escolha dos arranjos e do repertório. Fora a militância: a fala que ecoou no palco Sunset sobre o povo não saber votar é uma posição reverberada durante a explicação da mensagem por trás da faixa 'País do sonho' na plataforma de streaming global.

"Nosso país tá doente demais minha gente. O Brasil tá sofrendo de uma gripe terrível, uma gripe que só é curada através do povo, porque o povo pode curar essa gripe, sim. [...] a gente dá um comprimido, faz um xarope e dá. Não vamos deixar essa gripe virar pneumonia". Sobre a faixa em si, ela ainda acrescenta: "Ainda bem que eu descobri essa música, era um pagode. Essa letra é muito forte pra ser um pagode, gente. Não que pagode não mereça, mas eu mereço mais, vamos nois".

Enquanto isso, em 'Pequena Memória para um Tempo Sem Memória', com voz embargada, a artista faz uma ligação do cenário atual com tudo que aconteceu na ditadura militar. Lembrou que sua casa foi metralhada com seus filhos dentro - uma bala, inclusive, atingiu o braço de Milton, um de seus seguranças -, que foi expulsa do país e que precisou fugir para a Itália com Mané Garrincha, seu marido na época.

Elza não quer esconder e nem omitir, tudo que aconteceu no passado e solta o verbo. Na verdade, vai além: clama e convoca a população a se lembrar também: "A gente tá sem memória mesmo, viu. Se tivesse memória de verdade, não se estaria passando o que estamos passando hoje. Eu posso falar porque eu já vi tudo isso. É muito forte, eu tenho direito de falar o que vi. Cenas que não dá pra você esquecer, né. [...] Eu costumo dizer que a água que a estamos tomando é uma com lexotan, tá todo mundo dormindo. O povo tá adormecido. Cadê aquele povo que conheci que ia pras ruas, que buscava e lutava por seus direitos? Hoje tá todo mundo acamado, todo mundo dorminhoco e ninguém fala nada, ninguém faz nada. E eu aqui falando feito uma tagarela. Preciso de vocês. Se vocês não me ajudarem eu não posso falar tanto. Tá bom, gente?"

Entre todos os 'Brasis' que existem - o de ontem, o de hoje e o de amanhã - e em meio a tanto 'Blá blá blá', 'Libertação' é algo que Elza não vai abrir mão e 'Tradição' é tudo aquilo que ela não quer: está sempre buscando o contrário do que está sendo feito.