Literatura e cinema em contos. Essa é a proposta do livro “Um Clarão dentro da Noite”, do poeta, escritor, juiz do Trabalho e professor universitário JL Rocha do Nascimento, que será lançado nesta sexta, 31, às 18h30, na livraria Anchieta, em Teresina. O livro reúne contos publicados desde meados de 1970.
Uma das inovações da obra é a ausência de índice. Segundo o autor, o livro segue um roteiro composto de abertura, parte I, interlúdio, parte II e epílogo e demonstra a influência do cinema no trabalho do contista. “Essa estrutura proporciona uma conversa entre a literatura e a sétima arte. É como uma linha do tempo no enredo de um filme ou uma série”, diz JL.
Segundo o autor, o cinema chegou em sua vida nos sessenta e setenta, quando na cidade havia o Cine Royal, Cine Rex, Cine Theatro 4 de Setembro e Cine São Raimundo, conhecido como “baganinha”. “E eu cresci vendo cinema. Foi amor à primeira vista. Na bilheteria eu costumava aumentar a minha idade para poder comprar o ingresso.
Primeiro foram os filmes de faroeste, sobretudos os italianos. Seriados de Tarzan, não perdia um. Depois, à medida que ia crescendo, fui sendo mais seletivo e não perdia uma sessão de cinema de arte aos sábados no Cine Royal.
Com o cinema, vieram as revistas em quadrinhos, que falam a mesma linguagem, tanto que hoje se dá um processo inverso: os heróis dos quadrinhos são retratados no cinema. Depois das revistas em quadrinhos, com o amadurecimento, vieram os livros, primeiro os livros de bolso, adquiridos em bancas de revistas, depois os clássicos da literatura e o resto foi somente consequência. Então é natural que o cinema faça parte do meu imaginário como escritor e está presente nos contos não somente enquanto temática, mas também como forma de linguagem”, diz o escritor.
No livro que contém 23 contos, a primeira parte é apresentada com 10 contos de temática comum, com um permanente diálogo entre eles. Depois há um intervalo, com um conto que separa as duas partes, uma espécie de “parada para trocar o rolo”, como ocorria durante as sessões nas antigas salas de cinema. A partir daí, entra em cena a segunda parte do livro com mais 10 contos que dialogam entre si. Nesse trecho da obra as narrativas são mais densas e passam pela construção dos personagens.
Cruel por natureza, o conto moderno nem sempre vai direto ao ponto, mas geralmente põe o dedo na ferida. Além de ser levado texto adentro para conviver com personagens, rotas, cenários e subjetividades dilaceradas, o leitor defronta-se com uma linguagem inquietante, compatível com o que o autor quer (ou ameaça) narrar. O autor que não tem receios de penetrar em territórios difíceis, até porque sem estes não há literatura. Na maioria de seus contos, JL mergulha nos desvãos da cidade, para criar personagens psicologicamente densos, apesar do caos onde estão mergulhadas. O absurdo de alguns contos é, ao mesmo tempo, chave de leitura e instaurador de outra realidade.
Intertextualidade, fragmentação, justaposição e cortes semelhantes aos usados na linguagem cinematográfica são recursos conscientemente manejados por J.L. Rocha do Nascimento para construir este livro instigante, que pede a cumplicidade do leitor para partilhar da busca de sentido humano, que parece ser tarefa de toda literatura.
Empenhado na divulgação de “Um clarão dentro da noite”, o juiz tem outros projetos de publicação, como outro livro de contos, no caso microcontos, e de um livro de contos eróticos, ambos para 2020. “Estou escrevendo, já há alguns anos, uma novela. Projeto para 2021, juntamente com a publicação de minha tese de doutorado, esta na área do Direito. E pretendo sim, bem mais à frente, publicar um livro de poesia, mas será uma experiência única, por razões óbvias”, diz.