Um dos principais nomes da dança no Brasil, o coreógrafo piauiense Marcelo Evelin escolheu Teresina para fazer a estreia mundial do espetáculo de dança “A Invenção da Maldade”, que será apresentada no período de 4 a 7 de abril, no CAMPO Arte Contemporânea, seguindo depois para Bologna, na Itália; Porto, em Portugal; Berlim e Frankfurt, na Alemanha; Bruxelas, na Bélgica; e Paris, na França.
Contemplada pelo programa Rumos Itaú Cultural 2017-2018, a peça, indicada para maiores de 18 anos, traz à tona os processos de desumanização e desafios da coexistência, a partir da ideia de civilização e modernidade.
A obra foi criada em colaboração com a polonesa Maja Grzeczka, o baiano Márcio Nonato, o italiano Matteo Bifulco, a mineira Rosângela Sulidade, o belga Elliot Dehaspe, os paulistas Bruno Moreno e Carolina Mendonça, o japonês Sho Takiguchi e o dinamarquês Jonas Schnor.
A coreografia se constitui como um rito de passagem e de luta, em um agrupamento de corpos que se arriscam no desconhecido, tornando-se vulneráveis a outras lógicas e realidades. Faz uma reflexão sobre a maldade como presença inerente nas relações com o outro, desde o início dos tempos até a atualidade. Como diz o diretor argentino Rodrigo Garcia em um texto escrito sobre uma outra obra de Evelin, Batucada (2014): “Toda matéria está composta de cinquenta por cento de ódio”.
É em torno da fogueira, que existe como invenção da cultura e do convívio há 400 mil anos, que a obra é desenvolvida. A fogueira possibilitou a domesticação da humanidade e dos animais que se acercaram, criando um lugar-situação onde as pessoas passaram a se reunir para se aquecer, comer, contar histórias, celebrar e praticar rituais. Em A Invenção da Maldade, o público novamente se reunirá em sua volta.
A ação se dá em um espaço cru e horizontal compartilhado com o público, como um convite a uma experiência.
Uma configuração com luz direta, corpos desnudos, fogueiras armadas com galhos e troncos, que nunca se acendem, e uma trilha sonora composta por percussão eletrônica e 70 sinos pendurados no teto. “Eles produzem uma espécie de atmosfera flutuante, como o silêncio barulhento de um santuário ou como o vento passando por uma cabana de madeira. São os sons de algo que não está”, descreveu o filósofo Jonas Schnor, escritor e pesquisador na área da performance.
As peças de Marcelo Evelin, com sua plataforma Demolition Incorporada, em sua maioria são criadas a partir de imagens que o escapam, que intuem e apontam para algo que não está dado, que não está instituído, como a noção de maldade. Daí vem o título da obra, que surge de uma memória pessoal: quando Evelin era criança, constantemente criava performances e pequenos shows, dirigindo irmãos e amigos. Certa vez, acendeu uma panela de óleo em chamas atrás de um lençol, para encenar o incêndio de Roma. Sempre que isso acontecia, sua avó dizia: “Vai começar a invenção da maldade!”. Desde lá, a expressão ganhou, para ele, o significado de transgressão, subversão e atravessamento, justamente o que o espetáculo revela.
Marcelo Evelin é coreógrafo, pesquisador e intérprete. Vive e trabalha entre Teresina e Amsterdã, Holanda. Na Europa desde 1986, trabalha com dança, tendo colaborado com artistas de variadas linguagens em projetos que também envolvem teatro físico, música, vídeo, instalação e ocupação de espaços específicos. É criador independente com sua Companhia Demolition Incorporada, criada em 1995, e ensina na Escola Superior de Mímica de Amsterdã, Holanda, onde também orienta estudantes em processos criativos.