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Atriz encarna escritora Clarice Lispector

Atriz interpreta escritora no monólogo Simplesmente Eu, Clarice Lispector

Desde que leu, na adolescência, o livro Perto do Coração Selvagem, de Clarice Lispector (1920-1977), a atriz Beth Goulart começou a desconfiar de sua semelhança física com a escritora: olhos amendoados e maçãs do rosto ressaltadas.

Tal semelhança ganha força no espetáculo Simplesmente Eu, Clarice Lispector, que Beth adaptou, dirige e interpreta. Nele, ela vive a escritora e outras quatro personagens criadas pela autora de A Hora da Estrela.

A montagem será apresentada neste sábado (27) e domingo (28), às 21h, no teatro da Reitoria, dentro da mostra oficial do Festival de Curitiba, cidade onde Beth foi criada.

Em conversa com o R7, Beth contou que fez dois anos de pesquisa sobre Clarice, além de seis meses de preparação cênica e outros dois de ensaios da montagem, que contou com supervisão do diretor Amir Haddad.

- A Clarice era uma esfinge, um grande mistério. Ela se revela naquilo que escreve. Descobri que tenho muitos pontos em comum com ela. Fiz um espetáculo sensorial, que conversa com o público. Afinal de contas, a Clarice sempre propôs um diálogo com o seu leitor.

A ideia da peça surgiu quando Beth leu o livro Cartas Perto do Coração, com correspondências trocadas entre Clarice e o escritor mineiro Fernando Sabino.

- Vi que aquilo dava uma peça. Mas quando a família do Sabino não autorizou a montagem, eu já estava imaculada pela Clarice de tal forma que resolvi continuar só com ela.

A atriz leu biografias, teses e compêndios sobre a escritora nascida na Ucrânia que migrou com família judia para o Brasil, em 1922. Primeiro, Clarice morou em Maceió, depois em Recife, cidade na qual passou a infância. Uma rara entrevista da autora para a TV Cultura em 1977, dez meses antes de morrer de câncer, serviu de inspiração para trejeitos da personagem.

- É um dos raros materiais em vídeo dela. Foi muito importante para mim. A Clarice foi uma mulher à frente de seu tempo. Ela dizia: ?eu ganho na releitura?. Outra frase dela era: ?o que seria de mim se não fosse o futuro??. Parece que há novamente um interesse coletivo nela e em sua obra.

Após a passagem por Curitiba, a peça estreia em São Paulo no dia 9 de abril, no teatro do CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), no Centro, onde ficará em cartaz de sexta a domingo. A montagem continuará em cartaz no Rio, no teatro do Sesi, às terças e quartas.

O jornalista Miguel Arcanjo Prado viajou a convite do Festival de Curitiba.