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Bárbara Paz fala de novela e afirma que cicatriz a incomoda: "Sou triste"

Com as mãos apoiadas na cintura, pose típica de modelo, a gaúcha se enfrentava diante da TV.

Ao falar de Edith, sua personagem em ?Amor à vida?, Bárbara Paz às vezes se confunde. Lança um ?eu? no lugar do ?ela?. Mas as duas são diferentes, o que fica claro neste bate-papo, o penúltimo compromisso da atriz, de 38 anos, encaixado entre o fim das gravações do dia e o começo da exibição da novela. Com as mãos apoiadas na cintura, pose típica de modelo, a gaúcha se enfrentava diante da TV, num exercício, ela garante, incômodo. A conversa vai por aí: como ela se vê e como deseja ser vista.


Bárbara Paz, a Edith de ?Amor à vida?, diz que está cansada de ser ?a órfã? e que sua cicatriz ainda a incomoda: ?Não gosto de me ver?

A relação entre Edith e Félix (Mateus Solano) repercute desde a estreia da novela. O que já ouviu sobre isso?

Já me disseram: ?Pô, com uma mulher dessas, o cara vai procurar um marmanjo?. Mas muita gente veio falar que já passou por isso. Acho que estamos vivendo num mundo em que as pessoas estão saindo do armário. E o mais bonito na novela é que Félix poderia negar, mas ele confessa que ficou com outro. Ela ama esse homem.

Esse tipo de relacionamento ainda é um tabu?

Não dá para generalizar. Na cidade grande, a gente já mudou muito. A pessoa que mora no interior talvez se assuste. Mas eu sou uma mulher que caminha com o meu tempo, nada mais me assusta. Acho que ficaria mais machucada por ser traída, por quebrar essa lealdade que é o casamento, independentemente do sexo, mas sim pela mentira da pessoa.

Para você não tem diferença?

Você nunca fica tranquila. Ser trocada por outro homem deve ser esquisito porque é algo que você não pode dar. Ali eu não posso preencher. É uma sensação estranha. Sou eu falando isso, e não a Edith. Mas eu acho que eu me colocaria também na pele dela. Eu não sei pelo o que eu optaria. Mas se eu amasse muito esse homem, eu lutaria por ele sim, mesmo sabendo dessa inclinação por outros caras. A gente tem que ter uma dose de lucidez, talvez.

Não seria lúcido, já que o cara é gay, você deixá-lo ir?

Mas será que ele é só gay? Porque ele transa comigo, eu sei quem ele é. Eu sei que ele é uma pessoa mais afeminada, mais delicada. E isso eu gosto também. A mulher sabe o homem que tem. O bissexual consegue ficar com uma mulher. Claro que ele tem vontade de ficar com homem. Mas se ele ama mesmo essa mulher, ele vai ficar só com ela.

As histórias que você escutou são bem resolvidas?

Tem histórias de pessoas próximas que foram terríveis. Não só de encontrar com homem, mas de você saber que o marido está saindo com uma travesti. Não sei o que é pior. A maioria das mulheres não aguenta isso,você se sente um nada, um lixo. Acho que o mundo mudou e a gente precisa caminhar junto. Acho que existe a pessoa. Você se apaixona por uma pessoa, não pelo sexo.

Mas isso serviria para você?

Sim. Eu não sei por quem eu posso me apaixonar amanhã. Eu não seria capaz de trair, porque meu caráter não deixa. Mas eu me apaixonar por uma mulher, por que não? Pode acontecer. Eu sou feliz, muito bem casada com um homem (o diretor Hector Babenco), mas eu não julgo os meus sentimentos nem os dos outros. Acho que chegou a hora de abrir os horizontes.

Duas personagens marcantes que você fez, Renata (de ?Viver a vida?) e Edith, trabalham com a estética, mas são interiormente muito fragilizadas...

Eu acho que sou uma pessoa muito dramática.

É também uma opção sua?

Acho que o meu rosto fala muito. Eu não seria uma pessoa muito normal, teria que ter alguma neurose. São personagens que caem bem e eu gosto de fazer. Gosto de um drama, de personagens esquisitas, que têm uma doencinha. Eu acho que a Edith é um pouco masoquista, porque tem mulheres que são assim, que não conseguem se amar, não conseguem sair da teia que armaram... Mas você olha para mim, e o que pensa? O que você pensa?

Você fica bem com personagens dramáticos, mas sei que, na infância, sua mãe a chamava de ?palhaça?...

Eu sempre fui mais palhaça quando eu era pequena. Mas minha vida toda sempre foi mais trágica, então sempre busquei a comédia.

Você acredita que ficou mais triste ao longo da vida?

Eu aprendi a colocar essa tristeza que mora em mim no lugar devido dela. Não escolhi ser atriz à toa. Mas não significa que eu não seja alegre. Eu preciso da alegria, da felicidade, dar risada. Mas não quer dizer que eu seja sempre alegre. Você me acha uma pessoa triste? Às vezes as pessoas olham para mim e falam: ?Você está com a cara triste?, e eu falo: ?mas eu sou triste?. Eu não sei disfarçar.

Diz isso pensando na sua história de vida?

Todo mundo tem uma história. Exatamente hoje (dia 29 de maio) faz 21 anos que minha mãe morreu. Olho para trás com nostalgia, mas penso que se eu não tivesse essa história, não estaria aqui. Claro, não queria que fosse daquele jeito (a mãe de Bárbara morreu de insuficiência renal, e o pai, de cirrose). Mas não aguento mais ouvir: ?ah, ela é órfã?. Não sou mais órfã. Faz 21 anos que eu estou sozinha no mundo.

Seis meses depois de perder sua mãe, você sofreu um grave acidente que a deixou com uma cicatrizes no rosto. Ainda tem dificuldades de se ver?

É difícil até hoje, mas eu quebrei uma barreira muito grande. Se você perguntar qual outra atriz tem uma cicatriz do tamanho da minha na TV, não tem. Eu não gosto de me ver. Mas quando passei a me preocupar mais com a emoção da cena e menos com a cicatriz, me tornei uma melhor atriz. Não preciso ser perfeita. A perfeição às vezes é monótona.

Em 2014 você faz 40 anos. Isso assusta você?

Eu parei nos 37 (risos). Nem estou pensando nisso. A idade nunca me assustou, porque eu fui melhorando com o tempo. Eu me prefiro hoje. Não tenho saudade dos meus 20 anos.

Você ficou conhecida em todo Brasil por sua participação na ?Casa dos artistas?. Incomoda ter participado do reality?

Imagina. Eu comprei minha casa, o público me conheceu. Tem um recorte de jornal que eu guardei, que dizia: ?na guerra da audiência, vence a Paz?. Minha cabeça é tão diferente, eu era mais jovem. Sonhava em fazer tanta coisa. Evoluí tanto, mas aquela sou eu também.