?O livro está vivo?. Esta foi a primeira constatação do historiador Paulo César de Araújo, autor da biografia proibida ?Roberto Carlos em Detalhes?, quando soube que a sua obra agora pode ser ouvida na internet, através de um audiolivro pirata. A revolta com a proibição do livro ainda não passou.
?Isso só demonstra o absurdo que é essa proibição. As pessoas estão lendo, o livro está circulando há tempos, todo mundo tem acesso. Nem sei se é o conteúdo correto, ainda não ouvi porque tenho que me concentrar no meu trabalho, no original, que eu quero que seja disponibilizado para o público?.
O livro foi lançado em 2006. Em janeiro de 2007, o cantor Roberto Carlos entrou na Justiça contra o autor da obra, alegando invasão de privacidade. No mesmo ano, o artista conseguiu impedir a comercialização da biografia e 11 mil exemplares foram apreendidos.
Circulação ilegal
Para o autor, com a tecnologia de hoje, é uma ilusão pensar que se pode impedir o acesso a qualquer conteúdo de livro.
?Eu viajo, faço palestra e as pessoas me trazem xerox para autografar. Daqui a pouco vou trazer um CD. É patético. A biografia é um livro de história. Quando vejo uma cópia de internet, fico chocado?, reclamou.
A advogada do autor, Débora Sztajnberg, se disse inconformada com a circulação do audiolivro. Segundo ela, desde janeiro 2007, quando a liminar foi deferida, ela e o autor recebem e-mails com links para acesso ao conteúdo da biografia.
?Desde aquela época ficamos chocados em como a pessoa pode fazer isso, porque ela tem que ficar horas scaneando (digitalizando as páginas). Com relação ao áudio, eu achei impressionante. Você clica e uma voz começa a narrar a história?, desabafou a advogada, que continuou, revoltada: ?Isso só prova que não adianta nenhuma proibição hoje em dia, nada nem ninguém proíbe conteúdo de nada, o que é um escárnio. Essas conversões não são do Paulo e podem estar adulteradas?.
De acordo com o advogado de Roberto Carlos, Marco Antônio de Campos, não é fácil chegar aos responsáveis do audiolivro. Ele lembrou que não foi possível punir os autores das cópias escritas que circularam em sites piratas, logo após a proibição do livro.
?Começamos a investigar os responsáveis e, se forem identificados, serão punidos?, afirmou ele, alegando que as medidas jurídicas são: retirar o site do ar e cobrar indenização.
Revolta
Segundo Paulo, foram 15 anos de pesquisa e mais de 200 entrevistas para a realização da biografia do Rei. Hoje ele diz que segue a vida normalmente, não deixa de acompanhar os passos do cantor, pois é o seu objeto de estudo, mas afirma que continua inconformado.
Na época, ele era professor em dois colégios, um do estado e outro no município do Rio. Quando a pesquisa do livro começou a se intensificar, o historiador pediu demissão do emprego no município, porque não tinha como conciliar: ?Não me arrependo de nada porque meu livro está vivo. Até hoje recebo ligações dos entrevistados, aonde eu vou a solidariedade continua. Os fãs escrevem pra mim, comentam, ninguém entende porque essa proibição aconteceu?.
Polêmica
Segundo Débora, a polêmica agora vai para Brasília: ?Em 20 anos de trabalho, nunca vi nada parecido. A gente espera que no segundo semestre o julgamento vá pra Brasília e que os ministros do STJ sejam menos parciais?.
Débora alega que houve várias irregularidades no decorrer do julgamento: ?Não tem como litigar com quem tem uma legião de fãs na Justiça. Ninguém quer passar por cima do Rei?.
Já Paulo se diz confiante na liberação da sua obra. Ele afirma que, em breve, o livro vai voltar às prateleiras e ele já tem onde comemorar:
?Não fui no show de 50 anos de carreira, eu só vou a um show dele quando o meu livro estiver liberado. Não vou aplaudir um artista que proíbe meu trabalho. Mas quero comemorar a liberação do livro num show dele?, disse Paulo, que durante os 15 anos de pesquisa foi a todos os shows do Rei.