Cerca de 70 homens estão entre as vítimas de uma rede de prosituição que aliciava homens brasileiros e os levava para a Espanha, onde eram forçados a trabalhar em condições precárias e sem intervalos, segundo informações passadas pela polícia. A organização foi desmontada nesta terça-feira (31) e a polícia divulgou um vídeo com imagens do local em que os brasileiros foram encontrados.
As vítimas sabiam que viajavam para se prostituir, mas, segundo a polícia espanhola, pensavam que trabalhariam também como modelos, e que a as condições de trabalho seriam mais amenas. Os gigolôs eram obrigados a tomar Viagra e usar drogas como cocaína e poppers (uma substância para estimulação sexual) para se manterem ativos 24 horas por dia.
Alguns deles vivem legalmente na Espanha e poderão continuar a viver na Europa. Outros, em situação ilegal, já foram presos e serão deportados nos próximos dias. A polícia espanhola não divulgará a lista com nome dos exploradores e não facilita o contato com as vítimas que se prostituíam.
Como foi a primeira vez que houve uma desarticulação como esta no país, o caso está sendo publicado com destaque em diferentes meios de comunicação. A comunidade brasileira em Madri também já se manifesta em favor da ação da polícia com comentários nas redes sociais. Na maioria deles, a vontade é a de que se extermine a prostituição de brasileiros na Espanha, para que se mude o estereótipo criado.
Os consulados brasileiros na Espanha e o Itamaraty não responderam às tentativas de contato por telefone e não publicou nenhuma nota oficial sobre o caso.
Desarticulação
A polícia da Espanha desarticulou a primeira rede de tráfico de homens, a maioria provenientes do Brasil. Ao todo, 14 pesoas foram presas em diferentes províncias da Espanha, segundo comunicado da polícia divulgado nesta terça-feira (31).
As investigações começaram em fevereiro. As prisões foram feitas em Palma de Mallorca, Madri, Barcelona, Alicante e León. Segundo a polícia, os homens "eram aliciados no Brasil e a organização dava uma "bolsa de viagem" e passagem aérea que era comprado com cartões de crédito clonados. Na maioria das ocasiões, os jovens chegavam a aeroportos de outros países, e só depois eram levados à Espanha.
As vítimas viajavam enganadas quanto às condições de trabalho e, sobretudo, quanto aos valores que teriam devolver à organização por conta de despesas de viagem.
No início, os jovens eram informados de que só deveriam custear a passagem, quando na realidade eram exigidas quantias que em algumas ocasiões superavam os quatro mil euros. Ao chegarem na Espanha, os brasileiros eram recebidos pelo líder da rede, que distribuía os homens em diferentes casa e ofereciam cocaína, poppers e viagra.
De acordo com o comunicado da polícia, a rede atraía clientes por meio de anúncios em jornais e páginas da internet, onde as fotos dos homens eram exibidas. Os jovens deviam entregar ao dono do apartamento ou ao encarregado 50% dos lucros, além de 200 euros pelo alojamento e manutenção.
Se os homens se negassem ou causavam algum tipo de problema, os responsáveis pela rede faziam ameaças, inclusive de morte.
Além de delitos contra os direitos dos cidadãos estrangeiros, relativos à prostituição, contra os direitos dos trabalhadores e formação de quadrilha, os principais responsáveis estão acusados de fornecer drogas e outras substâncias ilegais, tanto a clientes quanto às vítimas.