A televisão brasileira herdou muita coisa do rádio. Entre os folhetins e os programas de auditório, a busca por novos talentos sempre permeou a aposta de entretenimento em ambos os veículos. E ainda se faz presente na grade de programação das principais emissoras nacionais, como é possível constatar no investimento dos canais em programas como The Voice Brasil, da Globo, Astros, do SBT, e Ídolos, da Record. "Os "reality shows" mudaram a visão dos programas de calouros. A voz do participante continua sendo fundamental, mas a audiência também quer saber sobre os bastidores e a trajetória dos candidatos", analisa Wanderley Villa Nova, diretor-geral de Ídolos, que está em sua quinta temporada na Record - foi apresentado por dois anos no SBT - e cujo formato pertence à produtora inglesa FremantleMedia.
Embora a maioria destes programas exibidos atualmente no Brasil sejam a versão nacional de programas de sucesso em outros países, o formato ainda segue um modelo bem específico: um candidato a artista, geralmente cantor, se apresenta para uma banca de jurados. No Brasil, os pioneiros nesta categoria de programa foram a Discoteca do Chacrinha e o Noite da Gala, ambos exibidos em meados dos anos 50 na extinta TV Tupi. No entanto, entre as disputas de talentos inserida em grande parte dos programas de variedades nas décadas seguintes, um dos mais famosos e duradouros programas do tipo foi o Show de Calouros, exibido pelo SBT de 1973 a 1996, e regularmente revisitado pela emissora em programas como Gente que Brilha, Qual É O Seu Talento? e o atual Astros. "O julgamento e a apresentação de calouros é algo muito antigo. Não faz sentido que produtoras internacionais idealizem formatos tão parecidos e cobrem direitos por eles", opina Daniela Beyruti, diretora artística e de programação do SBT.
A reclamação do SBT refere-se à acusação de plágio feita pela produtora inglesa FremantleMedia, de que o Qual É o Seu Talento? tratava-se de uma cópia do "reality" Britain"s Got Talent, programa da tevê inglesa onde os candidatos podem apresentar seus dotes artísticos através do canto, dança, malabarismos, entre outros. Para evitar danos financeiros e brigas na Justiça, o SBT acabou cedendo. Pôs fim ao programa, para pouco tempo depois lançar - com a mesma equipe - o Astros. Além deste programa, a emissora de Silvio Santos ainda mantém quadros destinados a talentos com os arranjos de gosto duvidoso do Programa Raul Gil e no esquema "nonsense" do Programa do Ratinho. "São apostas diferenciadas. Enquanto o Ratinho apresenta os calouros de forma mais cômica, o Raul Gil tem uma proposta mais séria de carreira", argumenta José Roberto Maciel, vice-presidente do canal.
Dos programas ou quadros de calouros mais recentes, nenhum até agora mostrou potencial para criar um nome de ponta na música nacional. É para não cair na mesma crítica do público, que tanto o The Voice Brasil quanto Ídolos vão além do tradicional prêmio oferecido nesse tipo de competição: um contrato com uma gravadora. Além da garantia do primeiro disco, ambas disputas oferecem ao vencedor R$ 500 mil em dinheiro. "Não é dever do programa fazer alguém "bombar". A gente apenas mostra o trabalho do artista. Para se fazer uma carreira, é preciso grana. Acho que esse valor é importante para o artista se promover depois que o programa chegar ao fim", explica Boninho, diretor de núcleo de The Voice Brasil e criador do extinto e fracassado Fama.
GERALDO BESSA - Terra