?Lampeão, pelo terror de seus crimes, é o pavor dos sertanejos (...). Também a prisão de ventre aninhando-se sorrateiramente no corpo humano provoca a explosão de males infinitos, pelo relaxamento do intestino.
Para o combate ao banditismo de Lampeão, o país arma seus soldados adestrados. Para combater a prisão de ventre, as pílulas de vida do Dr. Ross, na dose de uma ou duas por noite, são as armas seguras, de efeitos infalíveis?.
O texto acima é de uma antiga peça publicitária, de dezembro de 1933 ? auge do cangaço no sertão do Brasil ? e dá uma ideia da influência que Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, exerceu naquela época. O Rei do Cangaço despertava os sentimentos mais antagônicos.
Por uns, era visto como um bandido terrível, enquanto outros o enxergavam com auras de herói. O programa Universo desta sexta fez um passeio por esse antagonismo histórico, levando o telespectador a uma verdadeira viagem pelo tempo.
Cinthia Lages foi até a cidade de Serra Talhada, no sertão de Pernambuco, terra natal de Lampião, para levar à telinha da Rede Meio Norte os registros que ficaram daquela época sangrenta.
A jornada começa com uma visita ao Museu do Cangaço, onde estão diversos objetos e inúmeras fotos dos tempos em que Lampião cruzava os sertões com seu bando nômade, invadindo e saqueando cidades.
Armas, páginas de jornal, registros ? tudo colocado de forma a dar ao visitante do museu detalhes dos tempos em que os cangaceiros digladiavam-se com as volantes (tropas da polícia). O museu faz parte do Ponto de Cultura Cabras de Lampião.
O programa também aborda o contexto da relação de Lampião com Maria Bonita - que abandonou o primeiro marido (um sapateiro) para seguir Virgulino em suas andanças.
A rainha do cangaço, já apelidada também de ?dona de Lampião?, seguiu junto com Virgulino até a morte, em julho de 1938, quando ela, Lampião e mais nove integrantes do bando foram executados por uma tropa volante na fazenda Angicos, no sertão de Sergipe.
Do museu para o sítio Passagem das Pedras, onde, em 1897, nasceu Lampião. Bordejado pela Serra Vermelha e pelo riacho São Domingos, o sítio é repleto de histórias. Por lá, o programa Universo visitou a casa onde nasceu o cangaceiro e onde ele viveu até seus 18 anos.
A pequena residência teve as paredes restauradas pela Fundação Cabras de Lampião (que preserva a história do cangaço em Serra Talhada). O chão, no entanto, é o original. Na casa, mais fotos históricas, objetos usados pela avó de Lampião, dona Jacoza (que o criou), móveis, entre outros itens que permitem compreender detalhes do contexto do cangaço.
Um pouco de caminhada pelas cercanias do sítio e chega-se às ruínas da casa de Zé Saturnino, primeiro inimigo de Lampião. Em meio à vegetação árida e aos cactos esguios, as paredes - ou o que sobrou delas ? ainda conservam marcas de bala da época do cangaço.
Quer ver esse passeio inesquecível em detalhes? Assista ao programa Universo, a partir das 22h de hoje . Não perca o programa que será exibido direto da nova Potycabana, que será transformada num espaço ainda mais romântico e contará com uma pequena plateia formada por casais de namorados que contarão suas histórias de amor e haverá ainda desfiles de moda.
O programa tem matérias especiais, uma gravada no Rio de Janeiro que vai mostrar os bastidores da Ópera Aída, no Teatro Municipal do Rio. Aída, de Verdi, também é uma história de amor.
Lampião: temido e admirado
Para Cinthia Lages, Serra Talhada respira Lampião e o chapéu de coouro que ele usava, inspirado nos vaqueiros, é usado como marca de empresas de todos os segmentos: da financeira ao motel, passando pela Prefeitura.A herança cultural do cangaço influencia todas as gerações.
?A cidade se orgulha de ser a terra de Lampião (Maria Bonita era baiana). A questão da valentia dele é levada a sério, sobretudo pelos homens. Ser um ?cabra de Lampião? significa não levar desaforo pra casa.
É assim que os homens encaram a fama do cangaceiro, que não é heroi, nem bandido. É história, como dizem os pesquisadores?, afirma. Acompanhada do escritor Cláudio Said, a equipe do Universo mostra o brasileiro mais biografado, somando 200 publicações e 50 filmes sobre sua vida.
Midiático, Lampião posava para fotos, mantinha cartões de visitas, tinha preocupação com a indumentária, era temido e admirado pelas qualidades de bravura e defesa da honra, que o nordestino leva tão a sério.
?Interessante é que os atos de crueldade não impediram, à época, que ele fosse uma ?celebridade?. Até publicidade foi feita com a figura dele, no auge do cangaço?.
Para a jornalista, o Rei do Cangaço estava à frente do seu tempo.