De forma simples e clara, Claudia Rodrigues falou sobre quase tudo nessa entrevista: o tratamento da esclerose múltipla, projetos futuros, carreira, família ? menos sobre vida amorosa. ?Ah? Olha só, não quero falar da minha vida sentimental não, tá??, disse ela ao ser perguntada sobre seu estado civil.
A atriz, que se afastou do trabalho por quatro anos depois do diagnóstico de esclerose múltipla, hoje fala sobre os verdadeiros amigos e também sobre fé. ?Quando estava boa, eu tinha muitos amigos, mas, quando fiquei doente, a maioria se afastou de mim. Eu acho que existem duas maneiras de viver a vida: uma é pensar que não existem milagres, a outra é que tudo é um milagre.?
Como foi retornar ao trabalho depois de quatro anos longe.
Cara? Voltei, na verdade, porque estava querendo muito pisar nos palcos de novo. Eu sempre gravei o ?Zorra Total?, mas minha volta ao trabalho foi no teatro. Foi bom demais.
Na peça ?Muito Viva?, a esclerose múltipla é citada. Foi uma recomendação sua?
Foi uma recomendação minha. Eu precisava falar da doença e mostrar para as pessoas que dá para ser feliz com a doença. Eu não queria esconder nada. Isso foi muito marcante para mim.
Doeu falar sobre?
Não, foi bom. É tranquilo falar. O teatro lotado, todo mundo sabe que eu tenho a doença? Além de as pessoas te tratarem como coitadinha. O nome não é bonito, mas não dá para criar um mito.
No primeiro momento foi mais difícil, né?
Mais ou menos. Foi engraçado falar isso no texto: ?Eu tenho esclerose múltipla?. Múltipla é coisa de rico, né? Se fosse pobre, seria esclerose única (risos).
Do que você mais sentiu falta no período em que teve que ficar afastada?
Eu senti falta de tudo. Das gravações, de estar no palco, de ir aos eventos? Senti falta de trabalho, de atuar e também dos meus fãs.
Você trabalha muito?
Muita coisa. Eu era muito feliz, adoro trabalho. Se tiver que gravar muitas horas, eu vou amarradona.
Se arrepende de alguma coisa daquela época?
Não.
O que você fez no tempo em que ficou afastada?
Li muito, assistia a tudo o que você possa imaginar? Vi muitos filmes?
O que você acha do humor dos programas como o do Danilo Gentili?
Acho o Danilo genial. Do humor do ?Zorra?, eu gosto do Rodrigo Sant?Anna.
Você acha que existe um preconceito com o humor feito pelo ?Zorra Total??
Não. Eu gosto e assisto ao ?Zorra?. Lógico que tem algumas coisas que gosto mais.
A crítica da repetição do bordão te incomoda?
Não, nem um pouco. O programa é popular. E tem outra coisa: não é porque eu sou da TV Globo, mas é uma emissora que está em todo lugar.
Quem você mais admira na nova geração de humoristas?
Rodrigo Sant?Anna.
Você declarou que gosta do ?Porta dos Fundos?. Já pensou em trabalhar com a internet?
Acho que a internet é uma coisa muito real. É a mídia que vem com tudo, na minha opinião.
Você usa muito a internet?
Tenho projetos na internet, mas não posso falar deles agora.
Usa as redes sociais?
Sim. Uso Facebook e tenho uma página oficial para os fãs. Rede social é compartilhar com o mundo e acho bacana Você reencontrar pessoas que você não vê há anos.
Desde que você declarou sua doença, tornou-se uma espécie de esclarecedora do assunto no Facebook?
Acho que sim. Não tem como eu dizer que não tenho a doença. É igual a diabetes! Ninguém chega dizendo que é diabético. Com o nome esclerose, isso é muito forte e assusta. Tem muita gente que vai me ver no teatro e diz que eu tenho ajudado muito.
Seu tratamento continua, só que em doses menores. É uma sensação de cura, de certa forma?
Não é que seja cura, não posso declarar que é isso. Faço uso de medicamento de seis em seis semanas, fico duas horas na Clínica São Vicente e pronto.
Você tem fé?
A fé vem quando você precisa de Deus e é com ele que você consegue se dar bem.
Procura alguma igreja?
Eu vou à missa aqui na igreja próxima da minha casa e também em Curitiba.
Em algum momento você perdeu a esperança?
Não. Você tem uma doença degenerativa e pensa: ?E agora, Deus?? Mas, em seguida, vem na minha cabeça: ?E daí?? Não tenho medo de nada.
Você acompanhou tudo o que saiu sobre você?
Eu acompanhei tudo que saiu e fiquei chateada com coisas que saíram e eram mentira. Eu já estava mal, e a imprensa ainda me colocou mais para baixo.
Sua filha já disse que não quer seguir a carreira artística. Você daria força se ela decidisse mudar de ideia?
Não. Olha só, acho que a Isa tem talento, ela faz o que ela quiser. Se ela não quiser, tudo bem. Mas se decidir atuar vai ter meu total apoio. Eu jamais falaria para ela ir sem querer. Ela é o que quer ser.
Você teve alta médica. Ainda precisa de algum cuidado? O médico fez alguma recomendação?
Eu tenho alta médica e, há duas semanas, alta neurológica. Continuei com a fisioterapia porque quebrei o pé duas vezes no mesmo lugar. O médico até brincou comigo, dizendo que eu deveria jogar na Mega Sena (risos). Faço hidroterapia. Daqui a uns dois meses, devo ter alta disso também.
Você declarou em entrevistas que os amigos se afastaram na época da doença. Depois disso, você conseguiu enxergar quem são os seus amigos verdadeiros? Pode citar nomes?
Eu nunca fui uma pessoa fácil, mas?
Não?
Não, nunca fui fácil. Uma pessoa legal (risos). Eu era normal. Quando estava boa, eu tinha muitos amigos, mas, quando fiquei doente, a maioria se afastou de mim. Hoje sei bem quem são os verdadeiros amigos. Só nessa hora a gente sabe. Fica difícil dizer nomes, já que posso esquecer alguém. Agora eu posso te dizer que uma grande amiga minha se chama Adriane Bonato, lá de Nova York. Ela é sobrevivente do World Trade Center. Hoje ela é minha empresária. Largou tudo e veio para o Rio cuidar de mim e da minha carreira. Quando fiquei doente, ela foi me visitar.
Isso te atrapalhou na recuperação?
Não. A gente acha que tem amigos, mas é só quando você está muito no auge. Quando você pode bancar tudo, se torna a melhor pessoa do mundo! Mas, quando isso muda, a história fica diferente também. Vêm um monte de desculpas.
Tendo essa alta completa, você gostaria de voltar a ter aquela rotina intensa de trabalho?
Gostaria! Eu topo tudo.
Qual papel você gostaria de fazer?
Eu espero e tenho certeza de que volto com ?A Diarista?. Não posso declarar em que ano vai voltar, porque a Globo não deixa. Então, vou ficar quietinha.
Já existe esse projeto?
Sim.
Qual é o seu atual estado civil?
Ah? Olha só, não quero falar da minha vida sentimental, não, tá?
Qual é o seu maior medo?
Meu medo é sentir medo.
Você tem um lema para a sua vida?
Eu acho que existem duas maneiras de viver a vida: uma é pensar que não existem milagres, a outra é que tudo é um milagre. Basta você ter fé e acreditar em Deus. É por isso que, cada vez mais, eu faço parte do Bonde do Jesus Cristo. Quando você está meio triste, abre a Bíblia e vê que Ele passou por tanta coisa? até desiste de reclamar (risos).