Louise Wischermann, 37 anos, ficou conhecida como a paquita Pituxa do ?Xou da Xuxa?, da Rede Globo, onde trabalhou até 1989 divertindo crianças. O que ela nem sequer pressentia, naquela época, era um futuro no qual fosse impedida de brincar com seu próprio filho. Oliver, 5 anos, é alvo de disputa entre ela e o ex-marido, o canadense Bradley Denton, 38 anos, em processo que corre em Toronto, no Canadá, onde a ex-paquita morou até 2010.
Depois de gastar R$ 300 mil com advogados, dos quais R$ 54 mil ainda não foram quitados, ela não tem mais dinheiro para continuar a briga pela guarda. O pai, por outro lado, conseguiu incluir no processo a exigência de um depósito de US$ 50 mil a cada vez que ela trouxer o menino ao Brasil ? o valor é devolvido quando o garoto retorna. Louise está de volta ao País por uma questão de sobrevivência.
Portadora de esclerose múltipla, doença neurológica que não tem cura, ela necessita de medicação que, no Canadá, custa em torno de R$ 5 mil mensais e, aqui, recebe gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Sem dinheiro, com dívidas e doente, ela apela às autoridades federais. Primeiro, escreveu uma carta pedindo ajuda para a ministra Maria do Rosário, da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, mas não obteve resposta. Na semana passada, enviou outra ao diretor do Departamento Internacional da Procuradoria-Geral da União, Boni de Moraes Soares.
Depois que deixou o programa de Xuxa, Louise seguiu carreira de modelo e atriz em diversos países, até que se casou com Denton em 1998 e se fixou no Canadá. A esclerose múltipla foi diagnosticada semanas antes de ela descobrir a gravidez. Oliver nasceu em 2006 no Rio de Janeiro, onde mãe e filho ficaram por seis meses para que ela tivesse o apoio da família nos primeiros cuidados com o bebê e no início de seu tratamento contra a doença. Ainda naquele ano, os dois retornaram ao Canadá para viver com Denton, mas o casal se separou um ano depois. A guarda compartilhada de Oliver foi mantida em acordo informal e Louise viajou com o filho para o Brasil sete vezes. Quando o menino estava com 2 anos e meio, tudo mudou. ?Depois disso, ele não permitiu mais, justamente para que se criasse o vínculo de Oliver com o Canadá, já que era brasileiro?, disse a mãe. O que desespera a ex-paquita é saber que não pode mais morar fora de seu país por causa da doença. ?Agora está controlada. Mas, para que os surtos não ocorram, eu necessito do apoio da minha família, que vive aqui, além das medicações que são fornecidas gratuitamente.?
Desde o início do processo em 2010 e até a definição da guarda, ficou decidido que Oliver continuará morando com o pai. Um psicólogo escolhido pela Justiça para avaliar o caso pediu que o garoto tivesse aulas de português para não esquecer a língua pátria da mãe. ?Eu arranjei uma escola com coleguinhas brasileiros, mas o pai não permite que ele vá?, lamentou. ?Preciso do apoio do governo brasileiro porque estou à mercê da boa vontade da Justiça canadense.? Oliver esteve no Rio de Janeiro pela última vez entre dezembro e janeiro. Louise ainda derrama lágrimas ao lembrar da despedida. ?Viu, filho, que vida boa você tem! Passou um mês com a mamãe aqui e agora vai esquiar com o papai no Canadá?, disse ao menino, no aeroporto. Depois, desabou. ?Nunca vou chorar na frente do meu filho?, disse. As próximas férias do garoto serão em junho, mas ela não tem condições de levantar os US$ 50 mil para o depósito exigido pelo pai. ?Ele diz ter tanto medo que eu sequestre o menino e quem acaba refém é o Oliver. Essa quantia é absurda.? Procurado por ISTOÉ, Denton não retornou os contatos.
O Itamaraty informou, através de nota, que o Consulado-Geral em Toronto acompanhou as audiências do caso para garantir que os direitos da brasileira fossem respeitados. Questionado, no entanto, se ela não estaria com o direito de visita cerceado, limitou-se a dizer por nota: ?À luz dos tratados internacionais que disciplinam a atuação consular, o Itamaraty não tem poder para interferir em decisões da Justiça canadense.?